Ratinho Júnior prepara a privatização da Copel
Umuarama/PR
Apoiador do projeto privatista de Jair Bolsonaro (PL), o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), reeleito em primeiro turno para mais um mandato, já deu o principal passo rumo à privatização da Companhia Paranaense de Energia, a Copel. A desestatização e entrega do controle à iniciativa privada da empresa está prevista no projeto de lei 493/2022, de autoria do governo estadual.
Ratinho quer transformar a empresa em companhia de capital disperso, ou seja, sem acionista controlador e que vai diminuir a participação acionária do governo do estado de 31% para, no mínimo, 15%. Ou seja, o governo estadual irá abrir mão do controle acionário da estatal, o que, na prática, significa privatização. Na verdade, esse processo já foi iniciado pelo atual governo do Estado com a venda da Copel Telecom, subsidiária da Copel do setor de telecomunicações e o anúncio de venda de uma usina em Araucária.
Com a decisão anunciada agora, Ratinho Júnior descumpre o que prometeu para a população paranaense durante sua campanha eleitoral à reeleição. Numa entrevista ao jornal Valor Econômico, o governador declarou que não tinha planos de privatizar a Copel e que ia manter o papel de indutora de investimentos em energia limpa no Estado. De acordo com o governador, a empresa tem entregado ao consumidor paranaense tudo o que foi estabelecido em sua missão. Isso não é mentira. Ratinho foi quem mentiu sobre seus planos para o futuro da empresa. Esta é a maior tentativa de privatização da Copel desde o governo Jaime Lerner, há duas décadas.
A COPEL É DO POVO – A Copel pública significa que os paranaenses terão não apenas a energia elétrica a preço competitivo e tarifas sociais para famílias de baixa renda. A empresa também é responsável pela execução de uma série de ações que beneficiam a população. Apoia em todo o Paraná, projetos como o da acessibilidade, coleta seletiva de lixo, diversidade, florestas ciliares, florestas urbanas, energia solidária e até programas na área habitacional, entre outras.
Todas essas ações certamente serão extintas com a privatização. O grupo de acionistas, em sua maioria, é formado por grandes companhias nacionais e internacionais, que têm como única preocupação aumentar o lucro. Portanto, ao contrário do que o governador do Paraná diz, a venda da Copel vai impactar na vida de todos os paranaenses e o principal deles será o aumento nos preços da energia e demais serviços prestados pela Copel.
DESEMPREGO – A privatização trará ainda uma outra consequência indesejável: a demissão de grande número de trabalhadores, seja da própria Copel ou de dezenas de empresas prestadoras de serviços, num processo em cadeia que pode destruir pequenos negócios que giram em torno da “empresa mãe”, prejudicando a economia do Estado.
Assim, para quem está se perguntando “e eu com isso?”, já que não trabalha e nem tem parentes empregados na Copel, é bom saber que também sentirá os impactos dessa privatização. E existem bons exemplos disso. Em todos os estados onde os governos privatizaram a energia elétrica, como Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, a população sofre com serviços de péssima qualidade, queda ou falta de energia, falta de manutenção dos sistemas e contas caras. No Distrito Federal a população não suporta mais os problemas e as reclamações no Procon aumentaram 532%. No Alagoas, Maranhão, Pará e Piauí as contas de luz subiram entre 13% e 76% após a privatização. Esse é o presente que o governador Ratinho Júnior quer dar ao povo do Paraná, em agradecimento à vitória nas urnas, dia 30 de outubro, que o reconduziu ao governo do Estado por mais quatro anos. E o pior: tudo a toque de caixa, em regime de urgência, durante a Copa do Mundo e no apagar das luzes de 2022.
PRESSÃO CONTRÁRIA - Em requerimento ao governador Ratinho Jr., os deputados de oposição na Assembleia Legislativa do Paraná pediram a suspensão imediata do processo de venda da Copel. Como foi há duas décadas, quando a população do Paraná se mobilizou e impediu Lerner de privatizar a empresa, diversos segmentos da sociedade paranaense já começam se manifestar contra a aprovação da proposta de Ratinho Júnior. Na quarta-feira, 23/11, Comitês Populares de Curitiba e Região Metropolitana fizeram uma manifestação em frente a Assembleia Legislativa do Paraná, exigindo o arquivamento do projeto. O presidente da CUT Paraná, Márcio Kieller, afirmou que “é dever” de toda a população ir pra rua e se manifestar em defesa da Copel. “Mais de 20 anos depois voltamos às ruas para não deixar que o governo de plantão entregue o nosso patrimônio. Depois não adianta reclamar da conta de luz!”, alertou.
Manifestação com participação de estudantes, professores, políticos e lideranças sindicais, em frente a ALESP, dia 23/11
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