Congresso mundial da UNI estimula união dos trabalhadores
PACTU
A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) participou de forma bastante intensa do 6º Congresso da UNI Global Union, na Filadélfia, Estados Unidos. O evento foi aberto no domingo (27) e se encerrou nesta quarta-feira (30).
A Contraf-CUT, que é uma das maiores entidades filiadas à Global Union, foi representada pela presidenta Juvandia Moreira, o secretário-geral Gustavo Tabatinga, a secretária da Mulher Fernanda Lopes e a secretária da Juventude Bianca Garbelini.
Brasileiras e brasileiros participam de manifestação em rua da Filadélfia, uma das atividades do 6º Congresso Mundial da UNI Global Union
O encontro, com o lema Rising Together (“Levantando Juntos”, em tradução livre), reuniu mais de 1,2 mil líderes sindicais de 150 países, para debates sobre como ampliar a articulação global pelo fortalecimento sindical. Os eixos centrais foram organização e negociação coletiva, economia global inclusiva, direitos humanos, democracia e justiça racial, crise climática e saúde e segurança.
Na pauta, destacaram-se ainda temas como igualdade para mulheres; combate à desigualdade, ao racismo e a qualquer forma de discriminação; defesa da previdência pública e de empregos dignos na era digital; direitos dos jovens; paz mundial e sociedade ambientalmente responsável. Também foram definidas a pauta de luta e a nova diretoria da UNI Global Union, que terá o australiano Gerard Dwyer como presidente para o próximo período de quatro anos.
Juvandia destacou a relevância da temática abordada nos painéis, fundamental para a classe trabalhadora sob a perspectiva de sua mobilização mundial. “O Congresso tinha como lema levantar juntos, ou seja, lutar por democracia, distribuição de renda, combate a todos os tipos de desigualdade de gênero, raça, orientação sexual; por uma economia verde, preservando o meio ambiente”, disse. No balanço, a dirigente ressaltou que o encontro internacional permitiu às organizações sindicais dos vários países perceber que “os problemas da classe trabalhadora são iguais e que temos que nos unir globalmente para combatê-los.”
Para Gustavo Tabatinga, o protagonismo dos bancários no evento, representado pela Contraf-CUT, foi uma reafirmação da postura da categoria brasileira de que “os bancos devem assumir responsabilidades sociais na alocação de seus recursos”. Para ele, “não é viável que eles continuem a financiar, por exemplo, a devastação em curso na Amazônia, ou as alterações climáticas resultantes da queima de combustíveis fósseis”.
Gustavo também ressaltou que a Contraf-CUT teve uma contribuição significativa ao debater as profundas transformações que o capital e as instituições bancárias têm promovido no âmbito da digitalização de suas transações e atividades financeiras.
Mensagem de Lula
No dia do encerramento, durante o painel “Paz, democracia e direitos humanos”, Juvandia, que também é vice-presidenta da CUT, leu uma mensagem do presidente Lula. “Com vocês me sinto em casa. Não na minha casa brasileira, onde todos falam português e temos a mesma cultura. Mas uma casa maior, que acolhe a todos e onde nos entendemos em espanhol, inglês, coreano, árabe ou tantos outros idiomas. A verdade é que temos, no fundo, a mesma linguagem. A linguagem do trabalhador. E é ela que expressa a luta das pessoas oprimidas. É ela que entoa canções de igualdade, embala sonhos de uma vida digna e de um futuro melhor”, iniciou Lula na mensagem, lida por Juvandia.
Juvandia, na leitura da mensagem de Lula
Lula também manifestou indignação com o fato de 635 milhões de pessoas passarem fome no mundo, enquanto as nações mais ricas gastam com guerras. O presidente defendeu que os recursos da humanidade sejam “aplicados para defender a vida, combater a fome e reduzir as desigualdades”.
“As nações mais pobres do mundo precisam contar com investimentos que gerem empregos de qualidade e libertem seus povos da fome e da miséria. Precisam de indústrias limpas, de agricultura de baixo carbono. São os países pobres que abrigam as soluções para a crise climática. Neles estão as grandes florestas e o potencial de geração de energia sustentável. Financiar esses países é financiar o próprio futuro da humanidade. Do mesmo modo, é urgente fortalecermos o poder de negociação da classe trabalhadora”, defendeu Lula na mensagem.
O presidente brasileiro também abordou desafios específicos do trabalho no atual momento da economia. “Em uma economia digital, não podemos permitir que relações de trabalho sejam precarizadas para beneficiar apenas gigantes da tecnologia, que se colocam acima das regulações nacionais. Não podemos admitir que algo que poderia ser tão democrático como a internet se transforme em uma grande máquina de gerar poucos bilionários, à custa de milhões de pessoas vivendo em relações informais de trabalho, sem direitos”, avaliou.
Por fim, Lula tratou do meio ambiente. “O planeta não aguenta mais a pressão ambiental. E a humanidade não aguenta mais a opressão alimentada pela cobiça de uma pequena parcela que tudo tem, tudo pode e nada quer dar em troca. Que esse congresso aumente a força de nossa luta. Viva a todos os homens e todas as mulheres trabalhadoras do planeta”, concluiu.
O evento
A abertura foi marcada pela participação de diversas lideranças sindicais dos Estados Unidos e do Canadá, autoridades políticas, como o prefeito da cidade da Filadélfia, Jim Kenney, e do então presidente da UNI Global Union, Rubén Cortina. “Assumimos o compromisso de continuar avançando com nossos afiliados – organizando, sindicalizando, assinando acordos globais e permanecendo em solidariedade por um mundo melhor”, garantiu Cortina, na cerimônia.
O destaque do dia foi a fala do senador estadunidense, pelo estado de Vermont, Bernie Sanders, uma das vozes progressistas mais influentes do país norte-americano. “A democracia é quando cada pessoa vale um voto, não quando multimilionários compram e corrompem a política. Quando a concentração da propriedade e da renda é extrema, tudo corre perigo”, disse o político. “Com toda a riqueza que existe, não é aceitável que tão poucos tenham tanto e tantos tenham tão pouco – e é o movimento sindical que vai promover a mudança”, concluiu Sanders, que também defendeu a redução da jornada de trabalho, sem perda salarial.
Eleita vice-presidenta da UNI Finanças Mundial, Neiva Ribeiro lembrou que “nós, bancários, defendemos e já apresentamos como reivindicação na última campanha nacional a jornada de quatro dias, para assim termos mais tempo para viver, para ficar com a família, para o lazer, estudo, cultura e cuidados pessoais”. Neiva, que é presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região argumenta que “o avanço tecnológico, a inteligência artificial, a robótica, se colocados a serviço de toda a sociedade, podem nos proporcionar isso”.
Conferências
O 6º Congresso acontece após a Conferência Mundial da UNI Finanças, que aconteceu no dia 24, e a 6ª Conferência Mundial de Mulheres, nos dias 25 e 26 de agosto, o que reflete o compromisso da entidade em abordar não apenas questões trabalhistas, mas também a inclusão de mulheres em todos os níveis socias.
Gustavo, na apresentação sobre digitalização do sistema financeiro
Na Conferência da UNI Finanças, a italiana Anna Maria Romano foi eleita para a Presidência, até então ocupada pela secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Rita Berlofa. No mesmo evento, o secretário-geral da Contraf-CUT, Gustavo Tabatinga, fez uma apresentação sobre a digitalização do sistema financeiro, com detalhes do caso brasileiro.
Na segunda-feira (28), ocorreram dois debates: “Equidade de direitos para mulheres através da negociação coletiva” e “Campanha Amazon”, sobre a experiência da organização mundial dos trabalhadores da Amazon, empresa que mundo afora age contra o sindicalismo e os direitos dos trabalhadores.
No dia 29 também ocorreram os debates “Mudar as regras para uma economia justa e inclusiva”, “Juntos contra a desigualdade, o racismo, e a discriminação”, “Segurança e saúde” e “Trabalho digno na era digital”.
Na quarta-feira (30), último dia do evento, os temas foram “Paz, democracia e direitos humanos”, “Mudar as regras para responsabilizar as empresas” e “Unidos por um mundo sustentável”; e “Juventude”.
A UNI Global Union
A UNI Global Union representa mais de 20 milhões de trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo. Com sindicatos de diversos setores, atua para criar um ambiente justo e seguro para a força de trabalho global, promovendo debates e ações conjuntas para enfrentar os desafios do século XXI.
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