De norte a sul, a corrida da ciência e das universidades públicas contra a covid-19

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De norte a sul, a corrida da ciência e das universidades públicas contra a covid-19
Pesquisadores trabalham em busca de novos testes e fármacos, montam protótipos de respiradores e peças e produzem EPIs, álcool gel e muito mais

São Paulo – Perseguidas e desvalorizadas pelo governo de Jair Bolsonaro e seu ministro da Educação, Abraham Weintraub, a pesquisa e as universidades públicas brasileiras unem esforços na luta contra a pandemia da covid-19 – igualmente desdenhada. E colocam todo o conhecimento produzido e os recursos disponíveis para tentar conter o avanço do novo coronavírus que já matou mais de 240 pessoas no Brasil. No mundo todo passa de 44.200 o número de mortes, segundo o Centro de Pesquisa do Coronavírus da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos.

Estudos para novos testes diagnósticos e fármacos, montagem de protótipos de respiradores e desenvolvimento de peças de reposição, além da produção de equipamentos de proteção individual (EPIs), álcool gel e outros desinfectantes são alguns dos trabalhos que movimentam instituições da Amazônia ao interior do Rio Grande do Sul.

O Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) reuniram equipamentos, insumos e especialistas voluntários.

Em parceria, vão realizar testes do novo coronavírus e a partir daí estudar novos métodos de detecção, a ação do vírus no organismo e fármacos que possam atuar de maneira efetiva contra a covid-19.

Os pesquisadores da Unicamp trabalham ainda para garantir a manutenção de equipamentos médicos necessários neste momento e a fabricação de peças e equipamentos de proteção individual, por meio de impressão 3D, para profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à epidemia.

De acordo com a Agência Fapesp, os recursos vêm de projetos de pesquisa em andamento, com financiamento de agências de fomento como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – na mira do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) – e a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), da própria Unicamp e também de doações de empresas, pessoas físicas e do Ministério Público do Trabalho (MPT).

Respiradores

No departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Santa Catarina (UFSC), o professor Saulo Güths desenvolveu um protótipo de um ventilador pulmonar alternativo, com peças nacionais ou acessíveis no Brasil, fácil de fabricar e que atenda às necessidades médicos. O resultado pode ser conferido no vídeo compartilhado na noite da segunda-feira (30).

 

Güths integra uma rede de mais de 100 pesquisadores que adaptam ou desenvolvem respiradores coordenada pela UFSC. Dos projetos em estágio mais avançados estão aqueles que pretendem automatizar balões de reanimação a partir de um conceito simples, utilizando componentes hospitalares bem conhecidos pelo mercado.

E há também projetos mais complexos, visando o desenvolvimento de um ventilador capaz de controlar variáveis diferentes, também utilizando itens nacionais disponíveis, que atendem às exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Grupo de Biomecânica e Tecnologia Assistiva criou uma rede de designers, engenheiros e pesquisadores para produzir peças para respiradores artificiais e outros equipamentos para UTI.

O projeto tem parceria com o laboratório de impressão 3D, o Biofabris, um dos maiores e mais importantes da América Latina e referência em produção de próteses 3D de crânio. Esse tipo de impressão permite a manufatura de qualquer desenho feito no computador.

EPIs

A manufatura de máscaras e acessórios é a atividade que movimenta a maioria das universidades. A mais produzida é a do tipo face shield (protetor facial), que cobre todo o rosto e é usada em conjunto com a máscara convencional, que cobre boca e narina. Sua confecção é por meio de impressoras 3D.

O curso de Moda de Universidade Federal do Piauí produz aventais e máscaras. (Foto: UFPI)

Na Universidade Federal do Piauí, a coordenação do curso de Moda, Design e Estilismo vai produzir mais de 10 mil máscaras, além de aventais, para o Hospital Universitário (HU-UFPI). O trabalho conta com o revezamento de 16 alunos, para evitar aglomeração, e cinco costureiras que trabalham em casa. O material é confeccionado dentro das especificações de segurança e será esterilizado pelo HU-UFPI. Parte da matéria prima usada foi adquirida pela UFPI e outra foi doada por empresários e também por pessoas ligadas à universidade.

A Universidade Federal do Ceará está produzindo para os hospitais do estado em parceria com o governo. Além disso, a reitoria colocou à disposição oito impressoras 3D para a produção desses EPIs por setores externos à instituição. Os interessados em colaborar devem preencher o formulário eletrônico da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece).

Clipes para óculos de proteção. (Foto: Divulgação/UFAC)

Universidade Federal do Acre (Ufac) está fabricando clipes de óculos de proteção para profissionais da área de saúde. A capacidade de produção é de 100 unidades diárias. Escudos faciais e aventais descartáveis também estão sendo produzidos voluntariamente por alunos do curso de Medicina da universidade acreana. A iniciativa teve apoio popular por meio de campanha de financiamento coletivo. A meta do projeto é a produção de 5 mil equipamentos.

Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), laboratórios de Arquitetura e Urbanismo, de Instrumentação Micrometeorológica e Sensoriamento Remoto e do Instituto de Física (IF) estão confeccionando protetores faciais. Os EPIs serão doados ao Conselho Regional de Medicina do estado (CRM-MT), que fará a distribuição conforme a necessidade da Secretaria de Estado de Saúde.

Projeto conduzido pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) já entregou à Secretária de Saúde do Estado mais de 80 máscaras (à esquerda), além de doações ao Hospital Universitário. Ao todo são 28 impressoras 3D, pertencentes a pessoas físicas e jurídicas, que estão produzindo gratuitamente os protetores faciais.

A escassez de EPIs no mercado tem motivado muitas parcerias, como a Frente de Impressão 3D na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul. Mais d e 150 protetores faciais já foram distribuídos no HUSM, outros hospitais e forças de segurança no município.

Além da impressão da base dos protetores faciais, o grupo também desenvolveu um molde para injeção de plástico da haste, junto ao Colégio Evangélico Panambi. O objetivo é a fabricação, a partir de amanhã (2) de 4800 protetores faciais por dia para o município de Panambi. Com isso, as impressoras 3D poderão ser direcionadas para a confecção de outros itens indisponíveis no mercado.

Em Santa Catarina, a UFSC se juntou ao Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) na produção dessas máscaras. No campus de Araranguá, a produção teve início no começo da semana passada. As equipes necessitam de doação de lâminas de acetato. O contato deve ser feito pelo email  [email protected].

Álcool gel

O desabastecimento do produto indispensável no combate ao novo coronavírus é uma das grandes preocupações e por isso movimenta muitos laboratórios. De olho na situação difícil enfrentada por instituições que abrigam crianças, idosos, pessoas doentes e em situação de rua, a Farmácia Escola da Universidade Federal do Ceará produziu um lote com 56 litros de álcool gel para beneficiar 17 delas.

Nos laboratórios do campus Jandaia do Sul da Universidade Federal do Paraná (UFPR), já foram produzidos 700 litros de álcool 70% glicerinado. Em Palotina, foram 125 litros da formulação teste. O objetivo é suprir a demanda da região do Vale do Ivaí e norte Pioneiro. Como o álcool em gel estava em falta ou era vendido por preços muito acima da média, adotou-se uma formulação eficiente, aprovada pela Agência de Vigilância Sanitária da Regional de Apucarana. 

Produção do álcool 70% glicerinado pronto para distribuição. (Foto: UFPR)

A produção do álcool estão sendo intensificadas também nos laboratórios da Universidade Federal da Bahia (UFBA) em Salvador e em Vitória da Conquista. Na capital baiana há matéria prima suficiente para produzir 200 litros, que serão distribuídos em hospitais universitários. Como há escassez de insumos, estão sendo pesquisadas também alternativas para obtenção de substância com a mesma eficácia.

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por meio do Departamento de Ciências Farmacêuticas, já doou mais de 100 litros de álcool 70% para a Polícia Científica estado. Foram beneficiados os Institutos de Criminalística, Médico Legal e de Genética Forense, da Secretaria de Defesa Social do Estado. O produto vai ser utilizado no local de trabalho dos profissionais, bem como na área destinada ao atendimento ao público.

No Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (IQ/UFG), pesquisadores produziram 34 litros de um desinfetante para as mãos que será destinado ao Hospital das Clínicas da UFG e à Vigilância Sanitária do Estado de Goias. O material será utilizado para desinfecção e antissepsia de ambientes hospitalares. A produção, segundo os professores do Laboratório de Cromatografia e Espectrometria de Massas seguiu as normas da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Outras iniciativas

Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que também se junta às demais universidades na produção de proteção facial para profissionais de saúde, investe também em recursos para antever o impacto da pandemia na Grande Vitória e antecipar providências.

Professores do Departamento de Matemática desenvolveram um modelo matemático que simulará possíveis cenários para a disseminação do novo coronavírus e analisar como as medidas de contenção estão ajudando no achatamento da curva de contágio. O intuito de auxiliar as autoridades sanitárias na tomada de decisões. 

Com informações das universidades

Fonte: RBA-Rede Brasil Atual

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