Desprezo pela vida, negacionismo e austeridade. As respostas de Bolsonaro ao auge da covid no Brasil
PACTU
“Já temos razões mais do que suficientes para esse governo ter caído”, diz Jandira Feghali. “O plano de vacinação tem se mostrado ineficaz”, diz Talíria Petrone
Por Eduardo Maretti
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta segunda-feira (1º) que o governo Bolsonaro promete entregar 140 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 nos meses de março, abril e maio. “O assunto foi tratado ontem na reunião com o presidente Bolsonaro” , escreveu nas redes sociais. “Também ficou acertado o auxílio emergencial, que deve ser de R$ 250 até junho”. Enquanto o governo protela e, ao invés de organizar, desorganiza o combate à pandemia, governadores de vários estados estão entrando em desespero ante a situação do sistema de saúde.
O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), em nota, reivindicou hoje mais rigor nas medidas restritivas para evitar o “colapso nacional”. A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), já determinou ao Ministério da Saúde o custeio de unidades de terapia intensiva para pacientes de Covid-19 na Bahia, no Maranhão e em São Paulo, por recusa de Jair Bolsonaro em fazê-lo.
O caos e a situação dramática são responsabilidade direta do governo federal de Bolsonaro, seu ministro da Saúde (Eduardo Pazuello) e da Economia (Paulo Guedes), na opinião das deputadas Jandira Feghali (PCdoB-RJ e Talíria Petrone (Psol-RJ). A parlamentar comunista lembra que o Planalto gastou, até o momento, R$ 2,2 bilhões (apenas 9%) dos mais de R$ 24 bilhões em créditos autorizados por três medidas provisórias aprovadas no Congresso ainda em 2020. As verbas são destinadas a comprar e produzir vacinas contra a infecção.
“Desprezo pela vida”
“O que tem é uma brutal incompetência, negação e desprezo pela vida das pessoas desse governo”, diz Jandira. “Já temos razões mais do que suficientes para esse governo ter caído.” Para ela, o número de 140 milhões de doses anunciadas por Lira para o período até maio não é realista diante do quadro. “Deve estar falando do que o governo diz a ele, somando Fiocruz com Butantan. Mas até maio não vai ter, a não ser que compre 70 milhões da Pfizer e/ou outras. Só com Butantã e Fiocruz não dá para ter 140 milhões até maio”, alerta Jandira.
Enquanto o país chega a 255 mil óbitos, Bolsonaro continua zombando dos mortos por covid. “Desculpe aí, pessoal, não vou falar de mim, mas eu não errei nenhuma desde março do ano passado”, disse ele hoje, em referência ao inicio da pandemia.
Na semana passada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o pedido de registro definitivo da vacina da Pfizer, mas o governo Bolsonaro se recusa a comprar o imunizante alegando problemas de contrato. “O governo não compra as vacinas porque não quer, e fica arrumando entraves burocráticos”, diz Jandira.
O Brasil também receberá apenas 9,1 milhões de doses do consórcio Covax Facility, aliança da Organização Mundial da Saúde (OMS). Vários países receberão mais doses do que o Brasil, como Paquistão (17 milhões de doses) e Nigéria (16 milhões).
“Negacionismo e austeridade”
“No momento mais grave da pandemia, o governo responde com negacionismo e austeridade, e o plano de vacinação recentemente apresentado por ele tem se mostrado ineficaz”, diz a líder do Psol na Câmara, Talíria Petrone (RJ). “É preciso se garantir lockdown nos estados que estiverem com lotação de seus leitos acima de 80%, 90%, junto com auxilio emergencial de R$ 600, no mínimo, no momento em que a crise econômica se atrela muito profundamente à crise sanitária.”
Além da premente aceleração do processo de compra e produção de vacinas, as deputadas defendem as medidas reivindicadas pelo Conass, como “a restrição em nível máximo nas regiões com ocupação de leitos acima de 85%”, assim como a proibição de eventos como shows, congressos, atividades religiosas e esportivas em todo o território nacional.
União ante o colapso
A gravidade da situação tem levado governadores a se unirem. Chefes de 16 executivos estaduais acusaram Bolsonaro de distorcer os valores sobre repasses para a área da Saúde. Entre outros, o governador da Bahia, Rui Costa, em entrevista, fez um apelo pelo bom senso das pessoas que não se importam com a sociedade, indo a bares e promovendo aglomerações.
“O seu direito individual é superior à dor de pais que estão perdendo seus filhos?”, questionou Costa em entrevista, interrompendo a fala pela emoção. “Gostaríamos que todas as pessoas estivessem usando máscara, mesmo aquelas que se consideram o Super-Homem, jovens… Se não é por eles, pelo menos (que seja) pela mãe, pelo pai, pelo parente, pelo vizinho. Fico me perguntando se essas pessoas sozinhas decretaram o fim da pandemia” , lamentou o governador baiano.
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