A CPI da Covid e as mentiras do bolsonarismo
PACTU
Por Joel Guedes (*)
Os membros da CPI da Covid-19, com exceção dos senadores governistas, se mostram irritados com o festival de mentiras contadas até agora por vários depoentes. Do ex-assessor de comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, ao atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, passando pelo ex-chanceler Ernesto Araújo, pelo ex-ministro Eduardo Pazuello e pela médica Mayra Pinheiro, a estratégia foi a mesma: negar, omitir e tentar confundir a CPI e a população. Seria fácil se não houvesse disponível e acessível uma quantidade imensa de informações e documentos, alguns de domínio público, comprovando a propaganda da cloroquina, a negligência na compra de vacinas, a falta de oxigênio no Amazonas e em outras localidades, a campanha contra o distanciamento social e uso de máscaras e as crises diplomáticas que prejudicam o país. Também há fortes evidências de que todas as medidas que contribuíram para o agravamento da pandemia e a morte de mais de 450 mil pessoas tenham sido tomadas por um ministério da Saúde paralelo, sob o comando do presidente da República e participação de Carlos Wizard Martins. Mas todos negam.
Wajngarten e Araújo poderiam ter sido presos em flagrante, mas a CPI decidiu não se transformar em um tribunal. E assim, num momento em que o país quer a verdade e punição aos culpados pela tragédia na pandemia, a CPI fica diante de um terrível impasse: aceitar o abuso da mentira ou punir os mentirosos.
No caso do general Pazuello e da médica Mayra, a situação é mais grave: eles tiveram a escolta de liminares judiciais e o direito de ficarem calados para não se autoincriminarem, mas optaram por falar. Só não falaram a verdade, afrontando a Comissão e a inteligência dos brasileiros. O bolsonarismo segue seu ritmo: desmoraliza o Executivo, o Legislativo, o Judiciário, as Forças Armadas e as instituições democráticas. Desmoralizar uma comissão de inquérito é pouco, perto do estrago que já foi feito.
Diante de tudo isso, esta semana a CPI aprovou requerimentos que pedem a reconvocação de algumas pessoas, entre elas o ministro Queiroga, muito evasivo no primeiro depoimento, e o general Pazuello, por motivos óbvios. Feito isto, à CPI restam dois caminhos: cumprir a lei e dar a resposta que o Brasil espera ou a desmoralização. O bolsonarismo aposta no fracasso da CPI e isto seria péssimo, não apenas porque deixaria impunes os responsáveis pela maior tragédia sanitária da história do país, mas também colocaria em risco a segurança das instituições democráticas e a própria democracia.
(*) Joel Guedes é jornalista e editor do Jornal Pactu, produzido pelos sindicatos de bancários de Umuarama/Assis Chateaubriand, Paranavaí, Campo Mourão, Toledo e Guarapuava.
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