Sob Bolsonaro, preço dos alimentos cresce acima da inflação
PACTU
Os dados que mostram o aumento da inflação (IPCA) divulgados mensalmente são vistos com apreensão pela população; mas, como mostra a comparação feita pelo doutor em economia Emílio Chernavsky, não são mais assustadores do que uma ida ao mercado.
Desde o último mês de 2019 - antes do início da pandemia - como aponta o gráfico elaborado pelo economista, o preço dos alimentos se descolou do IPCA, índice que mede a inflação. Conforme aponta Chernavsky, "O IPCA, como o INPC, é uma referência para a negociação de reajustes salariais"; assim, os trabalhadores, os que ainda têm direitos trabalhistas, tiveram reajustes abaixo dos preços dos alimentos.
O economista explica porque esse 'descolamento' entre o índice de reajuste da comida e o da inflação ocorre: "Os alimentos são mais sensíveis que a inflação agregada à variações na taxa de câmbio (que se desvalorizou nos últimos anos) e nos preços internacionais (que aumentaram), razão pela qual seus preços têm crescido mais".
O preço do trabalho
Chernavsky ainda destaca um outro componente na inflção: a mão de obra. "Numa economia há anos estagnada e com alto desemprego, de fato (os custos da mão de obra) aumentam menos, dado que os salários e a renda dos trabalhadores autônomos tendem a ficar estagnada ou diminuir", explica.
Em outras palavras, o ritmo do aumento da inflação mostra que os trabalhadores estão ganhando igual ou menos do que em períodos anteriores, o que deixa o aumento excessivo do preço dos alimentos ainda mais dramático.
"Mesmo que os salários fossem reajustados por esse índice (IPCA), como ele tem crescido menos que o preço dos bens mais consumidos pelos trabalhadores, a renda real deles cairia". A consequência do fato é sentida nos carrinhos de supermercado.
Governo Bolsonaro traz mudança no comportamento do consumidor
Segundo relata Bruno Ribeiro, empregado público residente na cidade de São Paulo, a carestia tem batido à porta da classe média com força: "Nos últimos cinco anos, em apenas um, meu salário teve reajuste maior que a inflação".
No mesmo sentido, Ribeiro fala sore as mudanças em sua forma de fazer compras em mercados e feiras: "Agora eu pesquiso preços em alguns mercados e vou mais vezes na semana, atrás de promoções. A mesma coisa na feira".
"Com a carne, que é o que subiu mais, é esperar ter alguma promoção (o que em geral é em torno de 30 Reais o kg de alguma carne de segunda) e comprar o máximo possível, já prevendo novo aumento", confidencia.
Mas não é somente no mercado e na feira que o preço dos alimentos vem pesando. Bruno Ribeiro conta que por causa dos sucessivos aumentos e com o aumento do valor despendido nas compras, sua vida mudou: "Reduzi saídas para bares e restaurantes, viagens para visitar a família e troca de produtos de informática, que é outro item que subiu muito nos últimos três anos".
A professora Julia Schorr, residente em Brasília, afirma que também passou por importantes alterações na rotina. "Como a família é de quatro pessoas, sendo duas crianças, tivemos que rever gastos com diversão e lazer, priorizando espaços gratuitos na cidade e também, e isso mais no cotidiano, meios de locomoção que não dependessem da gasolina".
Apesar das mudanças em seu cotidiano, Julia acredita que suas preocupações são elitistas. "Trinta e três milhões de pessoas estão passando fome, mas é como a recessão está nos afetando até agora", desabafa.
Como conclui Chernavsky, "Como muitas vezes nos últimos anos os reajustes têm ficado abaixo da inflação, a insuficiência de renda para custear as necessidades básicas atinge cada vez mais famílias".
Deixar comentário