Aparelhada por Bolsonaro, Codevasf ‘vende’ carros ou tratores em troca de doações

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Aparelhada por Bolsonaro, Codevasf ‘vende’ carros ou tratores em troca de doações

Político que doar polpa de frutas a instituições sociais, pode levar uma pá carregadeira no valor de R$ 470 mil. Estatal tem até catálogo de produtos para escolherem como eles vão agradar seus correligionários

Aparelhada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que entregou o comando da empresa ao Centrão, grupo de partidos comandados por dois aliados de primeira hora, o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) é a estatal mais envolvida em escândalos de corrupção e no toma lá, dá cá envolvendo o governo e políticos do nordeste em troca de votos e apoios no Congresso Nacional.

A última denúncia, publicada pela Folha de S. Paulo nesta segunda-feira (12), revela que a Codevasf está “vendendo” para associações ou entidades beneficentes carros ou tratores em troca de doações de polpa frutas a instituições sociais ou 5 kg de carne a uma escola. O político que quiser, pode ainda, comprar pagando 1% do valor do veículo, máquina ou equipamento.

Na Paraíba, por exemplo, a Codevasf entregou a uma cooperativa um veículo pesado pá carregadeira no valor de R$ 470 mil, e, no papel, pediu como "contrapartida" a doação de polpa de frutas a instituições sociais equivalente a 1% do valor do equipamento.

A reportagem flagrou dezenas de caminhões e tratores parados em um terreno no campus da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), em Mossoró (RN). Segundo os repórteres Flávio Ferreira e Artur Rodrigues, tudo foi comprado pela Codevasf. E “graças a uma operação casada da gestão Bolsonaro para executar manobras na lei e em doações oficiais, esses produtos poderão ser distribuídos em pleno período eleitoral, driblando a legislação que impedia a prática do toma-lá-dá-cá com fins políticos”, diz o texto. Se são de graça, estão dentro da lei é o a manobra na lei dá a entender. 

Milhões de reais estão sendo distribuídos pela presidência da Codevasf, comandada por Marcelo Moreira Pinto que foi indicado por Lira e Nogueira, nos redutos políticos dos aliados do presidente, candidato à reeleição e segundo colocado em todas as pesquisas de intenções de voto, que indicam a vitória do ex-presidente Lula (PT) na disputa pela presidência da repíublica.  

Recentemente, a estatal firmou contrato de R$ 61,75 milhões com diarista para compra de tratores, a PF encontrou mala com R$ 1,3 milhão em uma operação que investigava corrupção na Companhia, comprou R$ 2 milhões em tubos, sem necessidade para atender o Centrão, gastou R$ 3 bilhões em comprovação de obras e tantas outras denúncias. 

Com a explosão de gastos com as chamadas emendas de relator, os valores com doações de veículos e maquinário pela Codevasf saltaram de R$ 178 milhões, em 2020, para R$ 487 milhões, em 2021, aumento de 173%. Só nos primeiros cinco meses de 2022, o montante chegou a R$ 100 milhões.

É tanto dinheiro para distribuir que a Codevasf colocou à  disposição do governo e seus aliados até um catálogo de produtos elaborado para que os políticos possam escolher como vão agradar seus correligionários.

Os repórteres da Folha encontraram vários veículos  Codevasf que estão há meses no campus da Ufersa, guardando para envio a cidades do Rio Grande do Norte (RN).

“No fim de agosto, havia 31 caminhões, sete tratores e dois arados no terreno do campus cedido à Codevasf. Segundo indicam folhas de papel coladas nos veículos, foram entregues há cerca de três meses. Na quinta-feira (8), eram 26 caminhões”.

A reportagem lembra que a regional do Rio Grande do Norte da Codevasf foi criada na gestão atual, em reduto de  Rogério Marinho (PL), candidato ao Senado pelo estado, que comandou o Ministério do Desenvolvimento Regional, de 2020 até este ano.

Um de seus adversários políticos, Carlos Eduardo Alves (PDT), também candidato a senador, já pediu à Justiça Eleitoral uma investigação sobre um suposto abuso de poder político do ex-ministro ligado às doações da Codevasf.

"O demandado [Marinho] fez uso de toda a estrutura do governo federal, em especial do Ministério do Desenvolvimento Regional e da Codevasf para em concedendo favores, os cobrar no período eleitoral", segundo a petição.

 

Fonte: CUT

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