Pela primeira vez, Americanas admite que houve fraude em suas demonstrações financeiras

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( Divulgação )
Pela primeira vez, Americanas admite que houve fraude em suas demonstrações financeiras
A fraude envolve contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares (VPC), que são incentivos comerciais usualmente utilizados no setor de varejo
Em comunicado nesta terça (13), a empresa admitiu que documentos que deram origem a um relatório demonstram os esforços do ex-presidente Miguel Gutierrez para ocultar da real situação de resultado e patrimônio da Americanas

Os assessores jurídicos das Lojas Americanas, que investigam o rombo na rede varejista, concluíram em relatório preliminar que as demonstrações financeiras vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da empresa, que tinha à frente o ex-presidente Miguel Gutierrez. De acordo com o documento, apresentado em reunião do conselho de administração (CA) realizada nesta segunda-feira (12), houve esforços da gestão anterior para “ocultar do CA e do mercado em geral a real situação de resultado e patrimonial da companhia”. 

“Os documentos analisados indicam que as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas”, afirmou a Americanas em comunicado divulgado nesta terça (13) à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Além de Gutierrez, a fraude também envolve os executivos Anna Saicali, José Timótheo de Barros, Márcio Cruz Meirelles, Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes. Segundo o relatório, eles teriam participado do esquema. O ex-presidente desligou-se da empresa em 31 de dezembro de 2022. Os demais citados acabaram afastados neste ano, após a empresa divulgar, em janeiro, a identificação de um rombo inicialmente de R$ 20 bilhões. 

A fraude

A fraude trata de contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares (VPC), que são incentivos comerciais usualmente utilizados no setor de varejo. Eles teriam sido criados artificialmente para melhorar os resultados operacionais da Americanas e se apropriar ainda da redução do chamado Custo de Mercadoria Vendida (CMV). Esses lançamentos, de acordo com os auditores, chegaram a atingir R$ 21,7 bilhões em 30 de setembro de 2022. 

O relatório do grupo também cita acordos de bonificação sem contrato com fornecedores e “sem lastro” financeiro. Na prática, isso significa que verbas foram “criadas” de forma totalmente fictícias. A análise da empresa foi baseada em documentos entregues pelo comitê de investigação independente e por documentos complementares identificados pela administração e seus assessores após reunião com o comitê. 

O rombo na rede varejista, contudo, também envolve os bilionários Jorge Paulo Lehmann, Beto Sucupira e Marcel Telles. Os três controlavam a maior parte das ações da Americanas, por meio da 3G Capital, e são suspeitos de terem participação direta nas práticas da varejista que levaram ao endividamento milionário. Curiosamente, em novembro do 2021, a 3G decidiu abrir mão do controle societário da Americanas para ficar com cerca de 30%. Entre agosto e outubro do ano passado, os diretores das Americanas ainda venderam R$ 223 milhões em ações. Às vésperas da divulgação do rombo, também foram resgatados R$ 800 milhões em investimentos no Banco BTG Pactual, de acordo com reportagem do Jornal GGN na época.

Golpe na Eletrobras

Nesta segunda, o trio de bilionários aceitou ficar um período de cerca de três anos com restrição na venda de ações da Americanas (AMER3). O acordo, segundo a agência Bloomberg, faz parte do plano de reestruturação da varejista, que está em recuperação judicial. 

Lehmann, Sucupira e Telles estão envolvidos, porém, em outras polêmicas. Eles são investidores da gestora 3G Radar que, apesar de ter uma participação minoritária na Eletrobras – com 1,3% do capital total da empresa, desde que ela foi privatizada –, têm acesso privilegiado ao conselho de administração da companhia, que define a diretoria e traça estratégias. 

Uma gravação de uma reunião interna, obtida pela Folha de S. Paulo, tem pelo menos quatro nomes ligados ao cofundador do 3G Radar, Pedro Batista de Lima Filho. As relações chamaram atenção de parlamentares e juristas. “É preciso urgentemente envolver os órgãos de fiscalização para apurar quem de fato manda na companhia de energia”, cobrou o deputado federal Alencar Santana (PT-SP). 

 

 

Fonte: Rede Brasil Atual

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