Guedes quer usar reservas em dólares para pagar dívida
PACTU
O ministro da Economia, Paulo Guedes, não esconde mais que tem a intenção clara de usar as reservas internacionais brasileiras no período da pandemia do coronavírus. De maneira desavergonhada, Guedes sugeriu numa conversa por videoconferência, na quinta-feira passada (9), que cogita lançar mão da dinheirama durante a crise sanitária global.
Guedes confessou que a ideia é abater a dívida pública – ou seja, transferir o dinheiro do povo para os bancos e o sistema financeiro nacional. “É mais do mesmo comportamento bandoleiro de transferir renda do andar de baixo para o andar de cima em plena crise econômica”, criticou a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Ela condena a proposta.
A medida é irresponsável e mostra que o esforço dos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff poderão ser torrados sem quaisquer medidas anticíclicas para a retomada da economia. Quando deixou o governo, em abril de 2016, após sofrer o golpe parlamentar pelo impeachment, Dilma havia deixado em torno de US$ 372 bilhões – o equivalente hoje a R$ 1,971 trilhão. O colchão das reservas afasta a mentira amplamente difundida pela mídia e os conservadores de que o PT havia quebrado o país.
“É uma mentira, difundida e repetida para confundir a opinião pública, rechaça Gleisi. Ela questiona a decisão do governo. “Na contramão de outras nações, Guedes quer gastar as reservas que protegem o Brasil no cenário internacional”, alerta.
Ela diz que o governo tem outras fontes de recursos para enfrentar a crise sanitária e seus efeitos sobre a economia. “Por que não usam o saldo financeiro do Tesouro, que economizaram com a Lei do Teto de Gastos e com o superávit primário?”, indagou a parlamentar. “Não dá mais Bolsonaro, Paulo Guedes e todo esse governo”, desabafou.
Reservas já vinham sendo gastas
Em 2019, o Banco Central vendeu US$ 36,9 bilhões das reservas internacionais brasileiras, que servem como garantia ou seguro em momentos de crises cambiais. Ao final do ano de 2002, antes de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumir a presidência da República, as reservas brasileiras eram de US$ 38 bilhões. Em março de 2016, em pleno processo de impeachment de Dilma, as reservas ultrapassavam US$ 372 bilhões.
Até fevereiro – antes, portanto, da eclosão da crise global do coronavírus – o governo Bolsonaro já havia torrado US$ 12 bilhões, na tentativa de conter a alta do dólar, que subiu 14% nos dois primeiros meses de 2020. Em 25 de março, as reservas estavam no patamar de US$ 343 bilhões.
Na conversa com senadores, na quinta-feira, reproduzida em reportagem pela Folha de S.Paulo, o ministro da Economia disse que o Brasil não precisa de todo o volume de reservas em divisas internacionais. O relato é do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). “Passada a crise, nada impede que possamos utilizar parte deste montante para pagar a conta da crise e até reduzir nosso endividamento”, disse o ministro, segundo o parlamentar.
Para abater a dívida interna, como sugere Guedes, o Banco Central teria que transferir os valores ao Tesouro, mas a Constituição o proíbe de financiar a União. Além disso, economistas estimam que a venda maciça de dólares pelo BC deprimiria a taxa de câmbio, diminuindo a competitividade das vendas externas em momento de contração do comércio global.
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