Efeito Bolsonaro: Abril registra tombo nos Investimentos Diretos no País
PACTU
O mês de abril registrou forte queda nos Investimentos Diretos no País (IDP), ficando no menor patamar para o mês desde 1995. O valor foi de US$ 234 milhões, muito abaixo da estimativa de US$ 1,5 bilhão projetada anteriormente pelo Banco Central (BC), instituição responsável pela divulgação dos dados.
O tombo, obviamente, está relacionado com a crise internacional provocada pela pandemia do novo coronavírus. Mas segundo economistas, os efeitos da Covid-19 estão longe de ser a única explicação, especialmente quando se pensa no Brasil.
“Em 2019, esses números já eram reduzidos ante a média a partir de 2009. Entre janeiro e abril de 2020, o saldo foi de US$ 18 bilhões, o que é similar ao mesmo período de 2015, ano também marcado por instabilidade no Brasil. É um número muito ruim”, avalia Paulo Kliass, doutor em Economia pela USP.
A queda nos investimentos diretos, assim, é fruto de um mecanismo relativamente simples: “O que é mais relevante é a situação interna do Brasil. A perspectiva de uma retomada está muito longínqua. O País está longe de ser prioridade para o investidor internacional, como foi lá atrás”.
André Paiva Ramos, economista da ACLacerda Consultores, explica que há uma inter-relação entre as questões sanitária, econômica e política que colocam o País em um cenário bastante adverso.
A elevação da “aversão ao risco” do investidor está diretamente relacionada às respostas que o País, em especial o Governo Federal, tem dado à situação. O fato de que possivelmente o Brasil ocupará o primeiro lugar no número de casos e óbitos, por conta da doença, tem repercussões severas no volume de investimentos, fazendo com que “empresas posterguem ou cancelem decisões de investimento”.
“No caso brasileiro, é ainda mais grave. Já é um fato que tem feito com que os principais tomadores de decisão olhem para o Brasil com uma incerteza maior. Essa incerteza é ainda mais potencializada pela falta de coordenação de medidas sanitárias e econômicas”, diz.
Nesse sentido, a questão política agrava ainda mais a situação: “Tem mais um elemento que estimula a deterioração das expectativas: a crise política e institucional, claramente ilustrada na reunião ministerial. É uma combinação perfeita de crises. Ninguém sabe onde isso vai dar”, lamenta.
Ramos observa que o Brasil sempre figurou entre os países que mais atraem investimentos anuais, mas prevê que a situação deve se modificar a partir de agora.
Segundo Kliass, ante as dificuldades que afetam todos os países, a única alternativa para a recuperação do investimento internacional produtivo são mudanças drásticas.
“O cenário externo a gente não tem controle. O primeiro passo seria mudar a orientação em relação ao controle e combate ao coronavírus. Se o Governo Federal continuar insistindo na atual linha, não vai ter jeito. A gente passa uma sinalização extremamente negativa para o resto do mundo. Tem que conseguir recuperar a credibilidade internacional”, diz.
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