Pela primeira vez, Brasil tem menos de 50% dos trabalhadores ocupados
PACTU
Pela primeira vez desde que é feita a contagem, o Brasil tem mais pessoas em idade ativa fora do mercado do trabalho do que dentro. É o que mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o último balanço, divulgado em 30 de junho, o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar chegou a 49,5% no trimestre encerrado em maio, queda de cinco pontos percentuais em relação ao trimestre que terminou em fevereiro.
Houve recorde na taxa de subutilização da força de trabalho (27,5%), que é a soma dos índices de desocupação, da subocupação (pessoas que trabalham menos de 40h semanais) e da força de trabalho potencial (pessoas que não estão em busca de emprego, mas que estariam disponíveis para trabalhar).
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Segundo a economista Iriana Cadó, especialista em economia social e do trabalho, é a taxa de subutilização que causa mais preocupação, já que os brasileiros neste índice não são contabilizados como desempregados.
“O cenário é muito preocupante, porque, se muitas dessas pessoas, que dizem que gostariam de trabalhar caso tivesse emprego, retornassem a procurar emprego, a gente teria uma taxa de desemprego de quase 28%”, diz a economista.
Evidentemente que a pandemia ia trazer consequências, mas poderiam ser muito menores.
Ela cita dois grandes fatores para o recorde: a inflexão econômica provocada pela crise de 2015 e a irresponsabilidade do governo de Jair Bolsonaro frente à pandemia.
“Evidentemente que a pandemia ia trazer consequências, mas poderiam ser muito menores de como estamos assistindo que elas foram. Isso está ligado à não recuperação da crise de 2015 - ou seja, a gente ainda estava sentindo esses efeitos no mercado de trabalho –, mas também pelo fato de o governo não ter se responsabilizado efetivamente na condução de uma política que minimizasse esses efeitos”, afirma Iriana.
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Degradação do trabalho
A especialista cita que, além das consequências da crise econômica, a fragilidade de direitos trabalhistas também fez com que o índice de subutilização disparasse.
“O fato de termos um monte de pessoas trabalhando à sua própria sorte faz com que elas, sob esta conjuntura, estejam totalmente desprotegidas. Tanto é que o aumento da desocupação se deu, sobretudo, para essas pessoas que estavam trabalhando na informalidade”, explica.
De acordo com a Pnad, 28,6 milhões de pessoas querem trabalhar, mas não procuraram emprego ou por causa da pandemia ou porque não existe emprego onde elas moram.
É o caso da professora Joelma Araujo Silva, de Santo Amaro, no Recôncavo baiano. Demitida em março, depois que a prefeitura afirmou que teria que fazer cortes por causa da pandemia, ela diz que não consegue buscar emprego.
“O único setor que eu poderia estar trabalhando, que seria fácil eu retornar, era mercado e farmácia. São os únicos que estão funcionando”, relata. Mas, segundo Joelma, as opções que sobraram estão sem vagas. Ela garante que aceitaria qualquer tipo de trabalho até que possa voltar a lecionar.
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A professora conta que precisou “entregar” os dois filhos para esperar pandemia passar – um foi morar com o pai dele, e o outro, com o irmão de Joelma. Para sobreviver, ela conta com doações e com o único bico que conseguiu: um trabalho na lavoura, que rende a ela cerca de R$ 400 por mês.
“[Estou vivendo de] doação. Normalmente tem uns amigos, de vez em quando alguns me convidam para almoçar. Estou ajudando o pessoal aqui na colheita de quiabo, o que também gera um dinheirinho. Dá para tirar uns R$ 100, R$ 150 por semana. Estou sobrevivendo assim”.
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Outro trabalhador que virou índice é o técnico de segurança do trabalho Joilton Pereira. Ele foi dispensado por causa da pandemia. Segundo ele, a empresa alegou que precisava reduzir custos e, em seguida, contratou outro profissional, com salário menor.
Eles podem estar se aproveitando do momento para reduzir seus custos do salário.
Joilton conta que até chegou a buscar trabalho, mas desistiu ao ver que os patrões estavam se aproveitando do coronavírus para pagar menos – em alguns casos, até metade do que era oferecido anteriormente.
“É um efeito que foi causado pelo momento da pandemia, mas eu sei que muitos empresários podem ter condições de manter um salário maior, mas eles podem estar se aproveitando do momento para reduzir seus custos do salário”.
O técnico afirma que se sente sentir desmotivado ao notar a ausência de salários justos. “Acaba desvalorizando o profissional, tirando o valor, porque o valor não é só o salário. Desvaloriza não somente no salário, como também na motivação”.
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Edição: Rodrigo Chagas
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