Brasil é o segundo país do mundo em mortes, mas apenas o 63º em testes para covid
Umuarama/PR
Para ex-ministros, falta “vontade política” e “capacidade” para aumentar o número de testes no país
O Brasil é apenas o 63º país que mais testa para a covid-19 no mundo, embora seja o segundo em número de contaminados (2,8 milhões) e óbitos (95 mil). De acordo com o Worldometers, que compila informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), dos países e de publicações científicas, os brasileiros realizaram 13,1 milhões de testes, o que representa 62 testes realizados para cada grupo de mil habitantes.
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Esses números, colocam o Brasil atrás de países com economias mais fracas, como Peru (73), Cabo Verde (74), Chile (88), Cazaquistão (112) e Guiana Francesa (131). Mônaco (973) é o país que mais testa, seguido de Luxemburgo (951) e Ilhas Faroé (808). Os dados mostram também que o país segue displicente com um dos principais pré-requisitos para conter a pandemia: os testes em massa para detectar a doença.
O isolamento social e a identificação de doentes por meio de testes são recomendações da OMS desde que a entidade declarou o coronavírus como pandemia, em 11 de março deste ano. Em 28 de abril, às vésperas de Nelson Teich assumir o Ministério da Saúde, o governo divulgou que pretendia testar 46 milhões de brasileiros até setembro.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), há 200 tipos possíveis de teste para detectar o coronavírus. As formas de coletas são sangue, os sorológicos, e secreções do nariz e garganta, o PCR. O primeiro, identifica a presença de anticorpos e permite saber se o paciente já teve contato com a doença. Porém, é o segundo que identifica com precisão se o vírus está presente no corpo.
Ex-ministros criticam
Os 13,1 milhão de testes feitos pelo Brasil incluem o PCR e os sorológicos. Para o ex-ministro da Saúde Arthur Chioro, a crise é gerada pela Emenda Constitucional 95, aprovada em dezembro de 2016, que estabelece um limite de gastos para a Saúde.
“A Emenda do Teto fez uma restrição orçamentária tão grande para o Ministério da Saúde nos últimos três anos, da ordem de R$ 22 bilhões, que foi desmontando a capacidade dos nossos laboratórios de saúde pública, a LACEN (Laboratórios Centrais de Saúde Pública)”, afirma Chioro.
Para Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, o problema não é orçamentário. “Não tem vontade política por parte do governo Bolsonaro, é um governo genocida, e não há capacidade para que isso seja feito, porque o ministério vive uma ocupação militar.”
Em 8 de maio deste ano foi aprovado o “Orçamento de Guerra”, que permite ao governo usar com maior flexibilidade os gastos no combate à pandemia, sem que estejam vinculados ao Orçamento Geral da União (OGU). Pelo texto, o Palácio do Planalto fica autorizado a descumprir a chamada “regra de ouro”, mecanismo que impede o endividamento para pagar dívidas correntes.
Chioro lamenta que, mesmo com mais verba, o governo federal tenha optado em não contratar mais testes. O ex-ministro lembrou que prefeituras e estados tiveram que comprar máquinas para leitura de exames, pois o Estado não assistiu à Saúde Pública.
“A nossa capacidade é essa vergonha porque o governo desde o começo não tomou as decisões que precisava. A nossa rede é semi-automatizada, depende de produtos picados, quase 88% dos produtos são importados", diz Chioro, que ironiza:
"No fundo, o [Nelson] Mandetta, era seguro na história da restrição [orçamentária], porque Saúde não precisava de dinheiro.”
Edição: Rodrigo Durão Coelho
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