Correios privatizados no mundo não melhoraram prazo de entrega e ficaram mais caros
PACTU
O ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, disse que o governo pretende incluir os Correios nos planos de privatizações de estatais. A ideia foi confirmada pelo próprio presidente de extrema-direita no twitter, desprezando o fato de a estatal ser superavitária: após prejuízos registrados entre 2103 e 2016, os Correios registraram lucro de 161 milhões de reais em 2018 e de 667,3 milhões de reais em 2017.
Se isso se confirmar, o Brasil será um dos poucos países do mundo a ter um serviço postal privatizado. Detalhe: em nenhum dos países onde isso aconteceu os correios viraram exemplo de sucesso. Pelo contrário, os prazos de entrega continuaram os mesmos ou pioraram e os preços dos serviços foram à estratosfera. Considerado o serviço postal melhor avaliado do mundo, os Correios suíços são uma empresa pública.
Na Alemanha, por exemplo, os correios foram privatizados parcialmente no ano 2000 e totalmente em 2005. Embora o modelo adotado seja citado pelos entusiastas das privatizações, os alemães reclamam que os preços dos serviços postais ficaram incrivelmente altos e sobem todo mês. Em janeiro, o jornal alemão Die Welt noticiou um aumento de até 400% nas postagens para o usuário comum. 38 mil postos de trabalho foram cortados.
Considerada a mais ambiciosa privatização do Reino Unido desde as ferrovias, em 1997, a venda do Royal Mail do Reino Unido, iniciada em 2013 e completada em 2015, cobra hoje um valor 60% maior por um selo do que os correios dos Estados Unidos, que ainda permanecem estatais. As maiores queixas dos britânicos em relação aos correios privatizados são sobre perdas de encomendas e cartas. Atrasos e danos nos pacotes também são alvos frequentes de reclamações. 11 mil trabalhadores foram para a rua.
"As maiores queixas dos britânicos em relação aos correios privatizados são sobre perdas de encomendas e cartas. Atrasos e danos nos pacotes também são alvos frequentes de reclamações. 11 mil trabalhadores foram para a rua."
Em agosto do ano passado, o Washington Post publicou um artigo afirmando que o plano de Donald Trump de privatizar os correios iria destruí-los. “Os correios estão na vida norte-americana desde 1775, quando o Segundo Congresso Continental nomeou Benjamin Franklin como o primeiro carteiro geral. Atualmente, o serviço postal dos EUA é a agência governamental mais popular do país, com uma taxa de aprovação de quase 90%. Mas agora, o presidente Trump está aparentemente empenhado em destruí-lo”, diz o texto.
Segundo a colunista Catrina Vanden Heuvel, que assina o artigo, quem mais irá sofrer com a privatização, além dos trabalhadores, serão as comunidades rurais. Atualmente, o serviço postal é obrigado a atender todos os norte-americanos, o que não irá ocorrer com uma empresa privada, que cortará postos de atendimento em locais remotos por não serem lucrativos. Uma das ideias que ela defende em vez da privatização é a criação de “bancos postais”, algo similar ao que já acontece no Brasil.
"Atualmente, o serviço postal dos EUA é a agência governamental mais popular do país, com uma taxa de aprovação de quase 90%. Mas agora, o presidente Trump está aparentemente empenhado em destruí-lo."
Um editorial da Nation lembrou que entre o Dia de Ação de Graças e o fim do ano, os trabalhadores dos correios dos EUA despacham aproximadamente 15 bilhões de cartas e 900 milhões de pacotes “com um nível de eficiência que nunca seria recriado pelo setor privado”. Conclui a revista: “Donald Trump teve um monte de ideias ruins em dois anos como presidente. Mas esta é a pior”.
Os trabalhadores dos Correios dos EUA estão reagindo à privatização, e lançaram uma campanha em defesa do serviço postal como entidade do Estado.
Companha contra a privatização dos Correios Americanos
“Nossa mensagem ao público é bastante simples: ‘Serviço Postal dos Estados Unidos – Conserve-o. Ele é seu!'”, disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nos Correios dos EUA, Mark Dimondstein, em um comunicado. “Não venda esse tesouro nacional para interesses privados que irão cobrar mais por menos serviço.” Eles planejam entregar a mensagem em 100 localidades ao redor do país. Além de rejeitar a privatização e alertar para a subida dos preços com a privatização, os trabalhadores também querem acabar com o mito de que os correios são mantidos por impostos. Por Cynara Menezes.
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