O que está por trás da venda de títulos de créditos do Banco do Brasil para o BTG?
PACTU
Carteira com valor de R$ 2,9 bilhões foi negociada por 12% do preço; economista cita nebulosidade e interesse privatista
O ineditismo e a nebulosidade na venda de uma carteira de títulos de crédito do Banco do Brasil (BB) ao BTG Pactual, em julho deste ano, causou estranheza no mercado financeiro e até aos servidores do banco.
O BB nunca havia operacionalizado direitos de crédito (FIDC-NP) a uma instituição privada. O valor chama a atenção: a carteira, cujo valor contábil é de R$ 2,9 bilhões, foi cedida por R$ 371 milhões - ou seja, por cerca de 12% do valor total.
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Os títulos cedidos são sobre dívidas que o banco contrai de devedores (indústria, comércio ou pessoas físicas) e transforma em produto no mercado financeiro. A maior parte da carteira em questão, segundo o BB, é de títulos “podres”, quando a dívida já tem mais de cinco anos e dificilmente será paga ao banco.
Diante dos valores nunca praticados na instituição, a Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (ANABB) reagiu à transação, cobrou esclarecimentos da direção do banco, internamente, e também pediu investigação ao Tribunal de Contas da União (TCU).
A economista Érika Gallo, especialista em Economia Monetária e Financeira e doutoranda do Instituto de Economia da Unicamp, afirma o que mais preocupa neste caso é a obscuridade da carteira – afinal, quem são os devedores? Segundo ela, a resposta não dada é o que poderia dizer se a operação atende a interesses privados ou não.
“A gente não sabe qual é a composição dessa carteira. Ele [Banco do Brasil] só falou que a maior parte é de título podre, mas a maior parte quanto? Quem são os devedores? Não está aberta essa informação ao público. Então, não sabemos até que ponto é difícil de receber, porque uma coisa é você vender uma carteira de títulos de pessoa física – a pessoa perdeu o emprego, até arranjar outro vai demorar -, outra coisa é ter título de crédito de empresa, que é relativamente ok”, explica.
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A economista questiona se os títulos realmente são “podres”. Ela diz estranhar o fato de o BTG comprar algo que poderia gerar grande prejuízo. “O BTG, sendo um banco privado, compraria realmente uma carteira com 80% de título ‘podre’? Acredito que não. Acredito que os analistas de risco do BTG são muito profissionais e acho muito difícil eles terem feito esse tipo e negócio”.
Quando anunciou a venda, o Banco do Brasil reforçou que a prática inédita deve se tornar rotineira. Para Érika, trata-se de um passo largo rumo à privatização total prometida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, um dos fundadores do BTG.
“São fundamentos que o Guedes está tentando colocar. O plano é vender o Banco do Brasil, privatizar 100% dele. Quanto menos dívida o banco tem, mais fácil de você vender. Nenhum outro banco vai querer comprar um banco cheio de dívida”, pondera.
A economista ressalta que a ação de Guedes é contrária ao interesse público. “Ele está tentando melhorar a saúde financeira do banco. Ele está fazendo isso não para melhorar o Banco do Brasil, mas para apontar para o mercado que o Banco do Brasil vale a pena ser comprado”.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
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