Reestruturação: bancários adoecem e perdem o emprego enquanto os bancos lucram
PACTU
Economista diz que os bancos mostram a cara do que é o neoliberalismo e afirma que o movimento sindical precisa se requalificar para enfrentar mudanças
O novo modelo de banco que vem sendo implantado no Brasil, não só destrói milhares de postos de trabalho todos os anos: ele também adoece e até mata, tamanha é a pressão por metas cada vez mais difíceis em nome da lucratividade. A opinião é do economista Pablo Sergio Diaz, coordenador regional do DIEESE no Paraná.
Pablo falou sobre os processos de reestruturação de bancos públicos e privados. Ele acredita que é um processo sem volta, mas que deixa como rastro um grande número de trabalhadores sem empregos e postos de trabalho fechados. O banco Santander, por exemplo, já demitiu 2.045 funcionários no Brasil entre o início de abril e o fim de setembro, os meses mais agudos da pandemia da covid-19. O Itaú demitiu quase 500 empregados e fechou dezenas de unidades. O Bradesco demitiu 1.224 trabalhadores. No terceiro trimestre, o Bradesco fechou 372 agências e projeta fechar 500.
O economista observa que os bancos vêm se reestruturando desde 2015, de forma que futuramente as agências bancárias tendem a desaparecer. “O aparelho celular irá substituir caixas, gerentes, escriturários, operadores e áreas de suporte. Hoje você já tem através da inteligência artificial a substituição de operadores de telemarketing”, exemplifica. O problema é que, segundo Pablo, “essa racionalização esconde uma relação de submissão das pessoas a um processo tecnológico que, ao invés de facilitar o trabalho, aumenta o controle e a cobrança sobre aqueles empregados que permanecem”.
Mais desemprego
O coordenador do DIEESE calcula que em pouco tempo o número de bancários será reduzido pela metade. “Santander, Bradesco e Itaú mostram a cara do que é o neoliberalismo, em que as pessoas são objetos e não seres humanos. Não há um compromisso social e o resultado é demissão em massa”, denuncia. Essas “inovações”, para Pablo, esconde um processo cruel da relação capital e trabalho. “É um processo de exclusão. O teletrabalho e agora o pix, tudo gera demissões que não serão substituídas”, completa.
Em vários países, como exemplo o Canadá e Noruega, existem dispositivos legais que medem o impacto que uma tecnologia pode causar sobre o emprego. Se for prejudicial, não se aplica. “No Brasil não existe isto”, diz Pablo, destacando, porém que, ainda assim, a categoria bancária tem obtido grandes vitórias, como foi este ano o Acordo Coletivo que garantiu reajuste salarial e manutenção de todas as cláusulas. O economista, porém, não tem dúvidas de que o movimento sindical terá que reavaliar suas estratégias de organização e de luta para fazer frente às mudanças que vêm ocorrendo no mundo do trabalho. “Temos que voltar a estudar, requalificar. Temos que ter um olhar de longo prazo”, aconselha.
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