Programas de saúde mental correm risco de serem destruídos por Bolsonaro

PACTU

Programas de saúde mental correm risco de serem destruídos por Bolsonaro

Governo Bolsonaro pretender extinguir 100 portarias que garantem programas e serviços do SUS no setor de saúde mental. Milhares de pessoas que precisam desses serviços ficarão desamparadas

A notícia da revogação de cem portarias sobre saúde mental do Sistema Único de Saúde (SUS),  que está sendo preparada pelo governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), está gerando revolta e indignação dos profissionais da área da saúde, usuários e todos que defendem a saúde pública no Brasil. As portarias em risco, editadas entre 1991 e 2014, foram fruto de muita luta e articulação de especialistas na área, movimentos sociais e sindical, pelos trabalhadores e usuários da saúde e pelo movimento antimanicômio. Se forem revogadas, milhares de pessoas ficarão desamparadas, sem assistência.

São pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), atendidos por programas como o De Volta Para Casa, que consiste no acompanhamento periódico de pessoas que sofrem de transtornos psiquiátricos, para que eles possam conviver com suas famílias e não sejam internadas e excluídas da sociedade em um hospital psiquiátrico, o manicômio.

“Essa medida vai na contramão de tudo que se espera para garantir a atenção humanizada à saúde mental das pessoas”, diz a secretária da Saúde do Trabalhador da CUT, Madalena Margarida Silva.

Ela afirma ainda que destruir serviços mostra que o governo é genocida e tem como foco tirar toda a possibilidade de a população acessar serviços de saúde que possibilitem melhoria da sua condição de saúde e de vida.

Sandro Cezar, presidente da CUT Rio de Janeiro e da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS), também critica a revogação.

“Desativar esses programas dessa forma é desumano, cruel e um retrocesso histórico. É acabar coma luta que fazemos há décadas para que seres humanos não fiquem encarcerados em hospitais e tenham o quadro de saúde mental agravado”, ele diz.

De acordo com reportagem da revista Época. Além do De Volta para Casa, outros programas que correm risco de desparecer são o Serviço Residencial Terapêutico; o Programa Anual de Reestruturação da Assistência Psiquiátrica Hospitalar no SUS e a Rede de Atenção Psicossocial, voltado às pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas.

A revogação que Bolsonaro pretende fazer representa a destruição de uma assistência que é prestada há mais de 30 anos, pelos CAPS, Centros de Atenção Psicossocial, que são unidades especializadas em saúde mental para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e persistente.

Os Caps oferecem um atendimento interdisciplinar, composto por uma equipe multiprofissional que reúne médicos, assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, entre outros especialistas.

 

Bolsonaro – inimigo da saúde mental

Para o ex-ministro da Saúde, deputado Federal Alexandre Padilha, o projeto de Bolsonaro ganha corpo com as novas medidas apresentadas já que consolida a Saúde Mental como inimiga do Governo Federal, que se utiliza de todos os meios possíveis para desmontar as ações e políticas públicas da área no SUS.

Em vídeo divulgado pelas redes sociais, Padilha confirmou que existe, de fato, uma proposta que já foi apresentada a um grupo de trabalho formado por secretários de saúde estaduais e municipais.

“A proposta estabelece que equipamentos de atendimento são sociais e não deveriam ser financiados pela área da saúde, além de querer mudar a forma de financiamento dos Caps e não citar o termo redução de danos no texto”, diz o ex-ministro.

Padilha também considera que o modelo do governo está centrado na ideia de hospital para tratamentos e médicos não valorizando a rede de atendimento comunitário.

O ex-ministro diz que o ‘revogaço’ acaba com a Rede de Assistência Psicossomática, criada em 2011, durante sua gestão no Ministério da Saúde.

“A rede consolidava serviços que já existiam, criava novos e colocara todos os serviços em rede”. Padilha explica que o tratamento não pode ser um serviço isolado, porque “não dá conta [de tratar da] a pessoa e a pessoa também não dá conta de começar um projeto de vida se não estiver integrada”.

A mobilização contra esse desmonte contará com o Ato Virtual pela Democracia, pelo Cuidado em Liberdade e pela Defesa dos Direitos Humanos, que acontecerá no dia 10/12, a partir das 19h00.

Fora de hora

Sandro Cezar afirma alerta ainda que a revogação dessas portarias, que ele classifica como “investimento pesado contra a saúde mental no SUS”, podem acontecer um momento que dificulta ainda mais o debate sobre a necessidade de manutenção desses programas.

“O Congresso está à beira do recesso, o que dificulta conseguir barrar essa medida. Por isso é urgente os movimentos engajados na luta antimanicomial, como a CUT, a CNTSS, movimentos sociais e profissionais da área de saúde mental se levantarem contra mais esse ataque para destruir o SUS”, afirma Sandro.

O caminho para essa defesa, ele diz, passa pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), do qual a CUT e a CNTSS fazem parte. “Vamos começar nos articulando do CNS para evitar esse processo histórico.

 

Por trás disso...

De acordo com Madalena Margarida Silva, com o fim desses serviços, o governo deixa a população não apenas sem assistência voltada à promoção e atenção à saúde mental, mas também deixa claro seu interesse em favorecer os serviços prestados por empresários da saúde e os setores das igrejas evangélicas ligados às comunidades terapêuticas, que verão suas demandas crescerem.

“Os serviços voltados para a proteção e promoção da saúde mental devem ser política pública e não serem tratados como mercadorias ou como espaço para privilegiar as bases que apoiaram o governo Bolsonaro”, diz Madalena.

 

Mobilização já começou nas redes sociais

A hashtag #defendamoCaps foi usada por internautas para expressas a indignação com o governo Bolsonaro sobre revogar as portarias.

Eu sou psicóloga e sei q nem todos conseguem ter acesso à minha profissão. Sei da importância do CAPS ao acesso gratuito ao profissional da Psicologia e Psiquiatria e o governo quer desmontar a saúde mental no Brasil, disse uma das profissionais da área que se manifestaram no Twitter.

Outra internauta, que utiliza o SUS, alertou para a gravidade da situação:

Gente, por favor, escutem o que eu tenho para dizer. Eu sou neuroatípica, bipolar severa. Se isso acontecer, o índice de suicídio no Brasil crescerá em semanas e eu não estou exagerando. Eu faço tratamento no CAPS, no SUS há um ano e meio +, disse.

 

 Edição: Marize Muniz

Fonte: Contraf-CUT

Deixar comentário

Matérias relacionadas