Com alta da inflação e sem auxílio, famílias cortam itens essenciais da alimentação
PACTU
Com tendência de alta em janeiro para o valor da cesta básica, famílias cortam alimentação. Insensível à fome, governo Bolsonaro ainda não apresentou substituto ao auxílio emergencial, defendido pela CUT
O governo genocida de Jair Bolsonaro (ex-PSL) não se importa com a fome que está batendo à porta das famílias brasileiras. Insensível, ainda não apresentou nenhum programa ou benefício que substitua o auxílio emergencial, aprovado pelo Congresso Nacional no ano passado, que terminou em dezembro.
No Brasil real, os brasileiros sofrem com a disparada dos preços dos alimentos, em especial os da cesta básica como óleo de soja, arroz, leite e carnes desde o ano passado e a previsão é a de que continuem enfrentando preços altos.
A inflação fechou 2020 com alta de 4,52%, a maior desde 2016 (6,29%), segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE. E, segundo estimativa do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a tendência é de alta no mês de janeiro. Produtos como carne, arroz e feijão devem puxar para cima os preços.
Em defesa da segurança alimentar e portanto, da vida, a CUT, demais centrais, partidos políticos progressistas e movimentos sociais vêm pressionando o governo para pagar o benefício de R$ 600 (R$ 1.200 para mães chefes de família) até o fim deste ano. A Central e mais de 270 entidades parceiras lançaram na última terça-feira (2) uma campanha pela manutenção do auxílio emergencial até o fim da pandemia.
Enquanto a CUT e seus parceiros lutam, sem dinheiro, sem emprego e sendo obrigados a manter o distanciamento social por causa da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), milhões de brasileiros estão vendo suas despensas cada vez mais vazias. Para muitos, a fome já começou a bater nas portas de suas casas; outros se viram como podem para manter o orçamento, cortando comida.
“Aqui em casa, como só ovo, uma hora é omelete, outra ovo frito e depois ovo cozido”, conta Antônia Alves Pedrosa Moreira, de 57 anos, que após por problemas na coluna deixou de trabalhar como faxineira.
Viúva há menos de um ano, ela viu sua vida desmoronar. O bar que tinha numa área de invasão soma dívidas de R$ 27 mil, entre água, luz e outras despesas. O auxílio emergencial quem recebia era o marido, e por problemas de cadastro e burocracia, Antônia ficou sem receber o que teria direito.
“Faz tempo que eu não sei o que é comer uma laranja. Só não passo fome por que meus irmãos me deram cestas básicas e arroz, feijão e óleo. Mas hoje, pra mistura tenho só uma batata, um pedaço de cenoura e uma cebola”, diz a mãe de quatro filhos, todos casados, que também passam por dificuldades financeiras.
“Um dos filhos tem três crianças e ganha pouco, nem cesta básica recebe da firma. Outro é separado e tem de pagar pensão para não ir preso. Tenho só um filho que me ajuda quando pode”, conta.
Acostumada a ter fartura à mesa e a comer carne todos os dias quando o marido era vivo, Antônia questiona as dívidas que ficaram para ela pagar. “Eu não tive direito de sacar o auxílio emergencial do meu marido, mas as dívidas que ele deixou tenho de pagar. Como vou sobreviver se não consigo reabrir o comércio que tinha? aquele ponto não vale R$ 27 mil”, desabafa a ex-faxineira.
Numa situação diferente, mas nem tão confortável, está Antônia Zelma, doméstica que mora sozinha. Apesar de ter um emprego regular com carteira assinada, ela diz que cortou tudo pela metade, da banana, à carne e ao leite.
Avó de três adolescentes, Zelma diz, que não recebe a visita dos netos e do filho como antes, por causa da pandemia, mas sabe que assim que a vida voltar à normalidade não terá como mimar os netos com o que eles gostam de comer.
“Só de aluguel são mil reais e ainda tem a conta da água e da luz. O jeito foi cortar tudo literalmente pela metade. Hoje compro só meia dúzia de banana, meio quilo de frango e assim por diante. Nem sei mais o que é comprar iogurte”, lamenta.
Preços dos alimentos ainda em alta
E a notícia para essas mulheres e as demais famílias brasileiras não é nada boa, como antecipa a economista e supervisora de preços do Dieese, Patrícia Costa.
Apesar da pesquisa do Dieese ainda não estar fechada (sai no próximo dia 11), a economista avalia que o preço da cesta básica vai subir em todas as capitais do país. Em 2020, a variação foi de 17% a 32%, muito maior do que a inflação oficial de 4,52 %. O comprometimento da renda para comprar uma cesta básica, para quem ganhava um salário mínimo no ano passado (R$ 1.045,00) foi de 52%. Ou seja para comprar a alimentação básica, o trabalhador gastou em média R$ 543,40.
“A tendência de alta piora por conta do excesso de calor, obrigando os comerciantes a colocar mais rapidamente na prateleira o produto in natura. Como a produção demora a ser colhida novamente começa a diminuir a oferta dos produtos e ,consequentemente, o preço sobe”, diz Patrícia Costa.
Segundo ela, esta situação é apenas a ponta do iceberg por que em seguida virá a entressafra do leite, que já está bem caro para as famílias. E assim, a inflação dos alimentos vai subindo mais do que o índice oficial, por que o governo não tem uma política de abastecimento.
O governo fechou 27 unidades armazenadoras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de acordo com informação publicada em agosto do ano passado no site da própria companhia. Em um artigo publicado no Brasil de Fato, a engenheira, Maria Antunes, descreveu a situação da falta de estoque regulador de alimentos, que acaba provocando a alta de preços dos alimentos. Segundo ela, “o governo não tem estoque regulador para enfrentar momentos difíceis como o que estamos vivendo”.
Diante deste quadro de fome e miséria, em vez de pensar numa política de emprego e renda, com valorização do salário mínimo e benefícios que atendam os mais pobres, o ministro da Economia, o banqueiro, Paulo Guedes, chegou a aventar a possibilidade de retirar a isenção de impostos sobre os produtos da cesta básica, o que provocaria uma alta ainda maior, argumentando que os mais ricos pagavam o mesmo preço que os pobres nos preços do arroz e do feijão.
“O governo fala em repasse posterior do preço da cesta para os pobres, mas o impacto imediato é extremamente negativo. A gente sabe dificuldade das famílias mais pobres para conseguir benefícios. São filas imensas nas agências bancárias, burocracia para conseguir o Bolsa Família, além do que, muitos não sabem, sequer, que têm direitos”, critica a economista do Dieese.
É um tiro no pé isentar políticas que garantem o abastecimento, especialmente num momento de alta nos preços dos alimentos
- Patrícia Costa
Para ela, o governo deveria fazer uma reforma Tributária que pare de onerar os pobres e faça os ricos pagarem mais impostos sobre suas fortunas, proposta esta também defendida pela CUT.
“As famílias já são penalizadas com os reajustes nas tarifas de energia [ aumento de 44% no governo Bolsonaro ] , água e aluguel , e com os aumentos nos preços dos alimentos, não vai dar para comer” diz Patrícia.
* Edição: Marize Muniz
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