Correios dão lucro bilionário, mas Bolsonaro quer vender serviço público
PACTU
Bolsonaro entrega ao Congresso, Projeto de Lei que privatiza os Correios. Projeção é que empresa terá lucro de mais de R$1,5 bilhão. Venda coloca em risco o emprego de 99 mil trabalhadores e trabalhadoras
Enquanto milhões de brasileiros passam fome sem um novo auxílio emergencial (até agora não foi, sequer, definido o valor e as parcelas), Jair Bolsonaro (ex-PSL) mantém seu descaso com a miséria da população e prefere ir ao Congresso Nacional entregar mais um patrimônio público ao mercado financeiro, o que trará grandes prejuízos à população e ao país.
Em mais um aceno de “prestígio” ao seu ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, que teve sua credibilidade abalada com a intervenção de Bolsonaro na Petrobras, o presidente da República quer agora, depois da Eletrobras, entregar os Correios à privatização. Guedes foi o “fiador” de parte do setor empresarial que apoiou Bolsonaro nas eleições de 2018, em troca de um plano de privatizações das estatais.
A proposta do governo entregue em forma de Projeto de Lei (PL), nesta quarta-feira (24), ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL), quebra o monopólio dos Correios no envio de cartas, telegramas e outras mensagens. O projeto ainda estabelece que os Correios, hoje 100% público, sejam transformados em sociedade de economia mista (pública e privada).
Ou seja, o governo vai entregar uma empresa que tem projeção de um lucro líquido de mais de R$ 1,5 bilhão, em 2020 ( o balanço ainda não foi divulgado oficialmente), e deixar à própria sorte 99 mil trabalhadores e trabalhadoras, num momento em que o número de desempregados no país ultrapassa os 14 milhões de pessoas.
Ao vender uma empresa que tem lucro bilionário, com possibilidade de demissão de milhares de trabalhadores, para em tese dar mais opções ao consumidor, na verdade, o governo Bolsonaro destrói a mais antiga empresa pública do país, que completa no dia 20 de março, 358 anos.
Mais prejuízos à população
O pagamento sobre este patrimônio público vai sair do bolso de todos os brasileiros. Basta pesquisar os preços cobrados na entrega de encomendas cobrados pelos Correios e uma empresa privada. Um levantamento da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect) mostrou que uma encomenda que custa nos Correios R$ 43,00 é até 12 vezes mais cara em empresas privadas como DHL e Fedex. A encomenda entregue por essas empresas, numa mesma localidade, custava em torno de R$ 600,00 e pelos Correios R$ 43,00.
A diferença na qualidade do serviço prestado entre os Correios e empresas privadas foi também constatada. Segundo o secretário de comunicação da Fentect, Emerson Marinho, as empresas privadas Mercado Livre e Magazine Luiza, em menos de um ano, atuando nos serviços de entregas de encomendas, tiveram o dobro das queixas do que as registradas pelo serviço dos Correios.
Embora o governo diga que vai garantir a preço justo a entrega de cartas, um direito universal, tanto que o Brasil é signatário da União Postal Universal (UPU), o que está em jogo vai além. É a experiência e o know how que os Correios têm em logística de entregas de encomendas, responsáveis por 44% da receita da estatal, o que garante que a empresa seja a única no país a atender aos mais de 5 mil municípios brasileiros.
“A entrega de cartas já não é tão mais necessária como antigamente com as mensagens chegando mais rápido pela tecnologia envolvida, principalmente com os aplicativos de celulares. Mas, os Correios se modernizaram e criaram uma expertise que ninguém tem na entrega de encomendas, como é o caso do Sedex, uma referência nacional e, é isto que está em jogo”, diz Emerson Marinho.
Segundo ele, o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD-RN), quer entregar a malha logística construída pelos Correios aos interesses financeiros do empresariado, por que hoje há uma disputa global neste que é considerado o novo serviço do século 21.
Portugal e Argentina revisam privatização com ‘apagão’ de entregas
Apesar da disputa maior seja nos serviços de entregas de encomendas, segundo o dirigente da Fentec, a entrega de correspondências em municípios distantes e principalmente utilizadas em locais em que a telefonia não atende com eficácia, será muito prejudicada como aconteceu em Portugal e na Argentina.
“Esses países começam a rever seus modelos de privatização porque houve o que chamam de 'apagão postal’, em virtude das empresas privadas não fazerem entregas de correspondências nas províncias distantes dos grandes centros, tanto em Portugal como na Argentina”, afirma Emerson Marinho.
Segundo ele, após vender o ‘filet mignon’ que é o serviço de entregas de encomendas, deve ser desidratado o serviço postal com garantia de entrega.
“A partir do momento de quem o capital privado for o acionista majoritário, este serviço poderá ser extinto”, diz Marinho.
Deixar comentário