Lula: O país não tem governo. Bolsonaro não cuida da economia, do emprego, da saúde
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Em pronunciamento nesta quarta (10), o ex-presidente disse estar satisfeito com a decisão do STF, criticou a atuação de Bolsonaro e disse que “país não merece ”passar pelo que está passando”
Escrito por: Andre Accarini
Em seu primeiro pronunciamento ao povo brasileiro, após a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou as condenações impostas pela 13ª vara Federal de Curitiba na Operação Lava Jato, o ex-presidente Lula disse estar tranquilo e sereno porque, após cinco anos, “a verdade apareceu”, criticou a gestão de Jair Bolsonaro no combate a pandemia do novo coronavírus e se solidarizou com às famílias das quase 270 mil vítimas da Covid-19.
Durante o pronunciamento nesta quarta-feira (10), na sede Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), em São Bernardo do Campo, de onde saiu para a cela da sede da Polícia Federal, no Paraná, em 2018, após ser condenado sem crime e sem provas pelo ex-juiz Sérgio Moro, Lula também falou sobre o voto do ministro Gilmar Mendes, no julgamento do processo sobre a suspeição de Moro, declarando a parcialidade do ex-juiz nas sentenças contra ele, que resultaram em sua prisão.
Para Lula, o STF finalmente reconheceu que ele foi vítima de uma farsa e que não teve um julgamento justo. “Eu tinha tanta confiança e consciência do que estava acontecendo que tinha certeza que esse dia ia chegar. E chegou” disse o ex-presidente.
Lula disse ter ficado satisfeito com a decisão “Foi um dia gratificante. Fachin cumpriu algo que reivindicamos desde 2016. A gente cansou de dizer”.
Para o ex-presidente, a inclusão da Petrobras nas acusações feitas contra ele foi a forma que os procuradores da Lava Jata e o ex-juiz Moro acharam para concluir a obsessão de criminaliza-lo.
Após lembrar dos fatídicos dias da decretação de sua prisão por Moro e a decisão de se entregar à Polícia Federal para provar sua inocência não sendo um fugitivo, como ele cita, e contar com a solidariedade de milhares de pessoas que, para defender Lula, tomaram a sede do sindicato, o ex-presidente se declarou uma pessoa sem mágoas.
”Se tem um cidadão que tem razão de estar magoado sou eu. Mas não estou”. Lula minimizou seu sofrimento durante todo o período em que foi massacrado pela mídia e humilhado por agentes públicos como os procuradores da força-tarefa da Lava Jato e pelo próprio Sérgio Moro ao citar a realidade de milhões de brasileiros.
"Sinceramente não tenho mágoa porque o sofrimento que o povo brasileiro está passando é infinitamente maior do que qualquer crime que cometeram contra mim e do que cada dor que eu sentia quando estava preso." - Lula
Ele citou o estado de vulnerabilidade e miséria de milhões de brasileiros impactados pela crise econômica do país, agora aprofundada pela pandemia do novo coronavírus. Homens e mulheres, ele diz, que levantam e “não tem um pão para comer e um café para tomar”
Para Lula, não há dor maior do que chegar na hora do almoço e não ter um prato de feijão com farinha para os filhos ou estar desempregado e no fim do mês não ter salário para sustentar a família.
"Essa dor que a sociedade sente agora me faz dizer que a dor que sinto não é nada diante da dor de milhões de brasileiros e é muito menor do que a dor de 270 mil pessoas que viram a morte de seus entes queridos por causa da Covid-19 e sequer puderam se despedir." - Lula
E foi este o tom principal da fala de Lula durante o pronunciamento que antecedeu entrevista coletiva à imprensa. “Seria um erro da minha parte não falar que o Brasil não merece estar passando pelo que passa”, disse.
O ex-presidente fez um alerta para a situação atual do Brasil, chamando a atenção para a necessidade de uma reação contra o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) a quem Lula fez críticas pela falta de uma condução “digna de um presidente da República”, tanto na economia como no enfrentamento à pandemia da Covid-19.
Lula afirmou que Bolsonaro, como presidente, deveria ter montado um comitê de crise, logo em março do ano passado, no início da pandemia, com a participação do ministro da Saúde, secretários estaduais de Saúde, além de médicos, infectologistas e cientistas para tomar decisões no sentido de orientar a população sobre o que fazer.
“Era ainda preciso priorizar dinheiro para a Saúde e comprar todas as vacinas que pudesse. Mas sequer aceitamos as vacinas que a Pfizer nos ofereceu e isso porque temos um presidente que inventou a Cloroquina, que fala que tem medo é maricas, que é coisa de covarde, que é ex-atleta e, portanto, não ia pegar a doença, que afinal, acabou contraindo. Não é papel civilizado de um presidente da República”, disse Lula.
Com o bom humor característico, Lula, 75 anos, afirmou que sua vez de se vacinar vai chegar e ele terá orgulho em mostrar que foi vacinado para incentivar as pessoas a se imunizarem e não acreditarem no discurso negacionista de Bolsonaro.
Após fazer um breve histórico da vida política de Bolsonaro, que passou cerca de 30 anos como deputado federal sem aprovar projetos, apenas construindo a imagem de que não era um político, Lula alertou também sobre a “loucura” que está tomando conta do país.
Para o ex-presidente as mortes por Covid-19 poderiam ter sido evitadas com uma ação eficaz de enfrentamento, o que não houve até agora com o governo de Bolsonaro. Ao contrário, cada vez mais os preços dos combustíveis e alimentos aumentam, tornando o brasileiro ainda mais miserável, sem condições de se sustentar.
"Esse pais está desordenado e desagregado. Não tem governo. Bolsonaro não cuida da economia, não cuida do emprego, não cuida do salário, da saúde, do meio ambiente da educação, nem dos jovens na periferia." - Lula
“Há quantos anos não se ouve falar sobre desenvolvimento e geração de emprego e renda”, questionou Lula.
Auxílio
Durante o pronunciamento, que durou cerca de duas horas, Lula reforçou a importância da luta pelo auxilio emergencial para que as pessoas não morram de fome e para que a economia tenha um mínimo de recuperação.
"É a lógica: se família tem dinheiro, vai no supermercado, comprar comida, compra um sapato, compra uma camisa, o comércio vende e tudo funciona. Se ela não tem, fica em casa prostrada esperando na frente do fogão quando vai ter dinheiro para ter o que comer." - Lula
O Brasil era feliz...
Era feliz e sabia, mas o projeto de país almejado pelos adversários políticos de Lula interromperam uma história de respeito internacional e crescimento econômico. A Lava-Jato foi mostrada ao Brasil como uma operação que além de prender empresários e políticos corruptos, ainda recuperou “bilhões de reais” aos cofres públicos.
Mas Lula adverte que os R$ 4,4 bi recuperados pela operação não são nada perto dos mais de R$ 170 bilhões que o Brasil perdeu em investimento por causa da Lava Jato. Os dados fazem parte de um estudo feito pelo Dieese com dados oficiais da própria operação e estatísticas econômicas.
“Que a operação prendesse o dono, mas não fechasse a empresa, para continuar funcionando, gerando empregos”, disse o ex-presidente.
Lula criticou ainda o ‘entreguismo’ de Paulo Guedes, ministro da Economia, que pretende privatizar estatais estratégicas para o país – ações equivocadas na avaliação de Lula.
“A única forma de diminuir a dívida pública é o crescimento econômico, o investimento público. A lógica é que se o Estado não confia na sua política e não investe, por que o empresário haveria de investir”, disse o ex-presidente se referindo à importância das estatais.
Lula também lamentou que a indústria brasileira tenha se retraído ao longo dos anos por falta de investimentos. Ele lembrou que a indústria automobilística vendia cerca de 4 milhões de carros em 2008. Hoje, vende apenas cerca de 2 milhões por ano, o que para ele, é resultado não só da falta de incentivo, mas também pela falta de demanda.
O ex-presidente afirmou ainda que tem intenção de – tão logo possa – sair pelo país novamente para dialogar com o povo brasileiro sobre a necessidade de reverter essas situações e descartou falar em reeleição, pelo menos por enquanto.
Em resposta à imprensa, Lula disse que ainda é muito cedo para falar em 2022, e que “tem muita coisa para se fazer e se pensar antes de discutir sua candidatura”.
Moro
"Nós vamos continuar lutando para que o Moro seja considerado suspeito. Ele não tem o direito de se transformar no maior mentiroso da história do Brasil e se tornar herói. Deus de barro não dura muito tempo. Eu tenho certeza que hoje, ele deve estar sofrendo muito mais do que eu sofri", disse Lula, que acusou a mídia de ter "firmado um pacto" com a República de Curitiba, que estava à frente da Lava jato.
Lula afirmou, ainda, que foi "vítima da maior mentira jurídica, contada em 500 anos de história" e lembrou de Marisa Letícia, sua ex-companheira, que morreu em 3 de fevereiro de 2017 e do irmão Vavá, que morreu no ano passado e ele não pode ir ao velório.
O ex-presidente ainda ironizou William Bonner, apresentador do Jornal Nacional da TV Globo, dizendo que estava muito mais sereno do que o jornalista ao dar a notícia sobre a anulação e ao noticiar o voto de Gilmar Mendes sobre a suspeição do ex-juiz que incluiu críticas ao jornalismo de emissora.
Assista à integra do pronunciamento
*Edição: Marize Muniz
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