Pazuello, a indisciplina militar e a democracia

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Pazuello, a indisciplina militar e a democracia

Por Joel Guedes (*)

Políticos de vários partidos, diversos setores da sociedade e até mesmo membros das Forças Armadas, criticaram com veemência e preocupação a decisão do comando do Exército, de não punir o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, pela sua participação em um ato político-partidário ao lado do presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL), ocorrido no dia 23 de maio, no Rio de Janeiro. Pazuello transgrediu o Regulamento Disciplinar do Exército e o Estatuto das Forças Armadas. Sua absolvição é preocupante, por vários motivos. A decisão, que é inédita para casos como esse, foi comunicada dia 3 de junho pelo comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

Analistas explicam que, ao aceitar os argumentos de Pazuello, de que se tratava apenas de “uma voltinha de moto” e ceder à pressão de Bolsonaro, o Exército mostra o quanto está comprometido com o governo, endossando, inclusive, ações consideradas criminosas contra a população durante a pandemia da covid-19. Por outro lado, lideranças políticas e de vários outros segmentos alertam que a decisão de não punir o general pode gerar anarquia nas Forças Armadas e é temerária para o Brasil, que sofre com a escalada golpista do bolsonarismo e o enfraquecimento gradativo da democracia.

O atual governo é o mais militarizado desde o fim do golpe militar. Atualmente, são mais de 6 mil militares ocupando funções de primeiro, segundo e terceiro escalões na administração pública federal. Desses, Pazuello, que é da ativa, foi o que mais degradou a imagem do Exército. Primeiro com uma gestão desastrosa no Ministério da Saúde, sem nenhuma ação eficaz de combate à pandemia. Depois, chamado para depor na CPI da Covid, no Senado, derramando uma tonelada de mentiras.

Humilhação pouca é bobagem: Bolsonaro caprichou ainda mais na pirraça, presenteando Pazuello com uma função remunerada no governo e condecorando o comandante do Exército com o grau mais alto da Ordem do Mérito da Defesa. No caso, nitidamente a defesa dos interesses do governo e não da nação. Só há um detalhe nessa história toda: o comando do Exército e os militares que compõem o governo, em sua maioria oficiais da reserva, podem até estar sentindo o gostinho e as benesses da política, compartilhando com Bolsonaro os seus sonhos mais delirantes. Porém, não representam o Exército e as Forças Armadas como um todo.

Certo é que quando a política entra por uma porta do quartel, a disciplina e a hierarquia saem pelas outras. Ao rasgar o Regulamento Disciplinar do Exército, o seu comandante pagou pra ver. Certamente será trabalhoso convencer a tropa de que agiu com a responsabilidade que o cargo lhe impõe, pois, como disse o general Santos Cruz, ainda lá em abril de 2020 e já prevendo o que viria pela frente: “o Exército é instituição do Estado e um dos pilares da democracia”. Assim sendo, não pode o Exército estar a serviço de um presidente ou de um governo e sim em defesa da Constituição e da Democracia.

(*) Joel Guedes é jornalista (Mtb 11703), atuou em diversos órgãos de comunicação do Paraná e há 23 anos é editor do Jornal Pactu, produzido pelos Sindicatos de Bancários de Umuarama/Assis Chateaubriand, Paranavaí, Campo Mourão, Toledo e Guarapuava.

Fonte: Pactu

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