Por que o Brasil depende de fertilizantes da Rússia?
PACTU
Um plano iniciado pouco depois do golpe contra o governo da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, levou o Brasil à perda de três fábricas de fertilizantes da Petrobras. Duas localizadas no Nordeste, fechadas no governo Michel Temer (MDB), e uma no Paraná, encerrada no governo Bolsonaro (PL), que, além disso, vendeu para os russos uma fábrica de fertilizantes do Mato Grosso do Sul. O fechamento aumentou a dependência do Brasil em relação aos adubos vindos da Rússia. O país governado por Vladimir Putin responde por 23% das importações desse tipo de produto, que hoje está em falta devido à guerra com a Ucrânia.
Ainda em 2020, dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) indicavam que cerca de 84% dos fertilizantes usados por agricultores brasileiros já eram importados. Esse percentual é o maior já registrado em mais de 20 anos. E deve aumentar. Os trabalhadores contestaram a decisão da Petrobras de deixar a produção de fertilizantes e alertaram para os riscos que isso traria à agricultura brasileira. O alerta, porém, foi ignorado. Nem Temer nem Bolsonaro pensaram na soberania do país ou numa possível interrupção do fornecimento desses produtos à agricultura brasileira. Se faltar fertilizantes, os agricultores passarão a pagar mais caro pelo produto e terão que repassar o custo à população.
Incompetência e Oportunismo
Após ter transmitido solidariedade à Rússia em reunião com Putin, Bolsonaro agora evita criticar a guerra. Bolsonaro afirmou que “a questão do fertilizante é sagrada” e que a posição do Brasil “é de equilíbrio", sobre a invasão da Ucrânia. Analistas políticos não consideram essa afirmação como pragmatismo diplomático, mas sim como incompetência presidencial.
Mas Bolsonaro enxerga a crise de modo diferente. Ao falar sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia em sua conta no Twitter, o presidente se lembrou do conselho dado pelo ex-ministro Ricardo Salles, de que é durante as crises que se passa a boiada. E, nessa linha, Bolsonaro defendeu a liberação da exploração mineral de terras indígenas para a obtenção de potássio, usado como fertilizante. O assunto vem sendo tratado em regime de urgência pela Câmara dos Deputados.
De acordo com a análise de Gerson Castellano, petroquímico e diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), com a guerra na Ucrânia, o Brasil corre o risco da falta do potássio ou aumento do seu preço. Ele afirma, entretanto, que o Brasil seria teoricamente autossuficiente em ureia, também usado como fertilizante, caso não tivesse desativado as fábricas da Petrobras.
O texto enviado à Câmara propõe mudanças radicais em relação ao que já se pratica há quase 50 anos no país. A proposta altera o Estatuto do Índio, uma lei vigente desde 1973. Se o Congresso aprovar o projeto enviado pelo governo da forma como foi elaborado, o Estatuto do Índio deve perder o artigo que restringe aos indígenas a exploração das riquezas em suas terras.
Estará aberta a porteira para a garimpagem, tudo que Bolsonaro queria desde tomou assento na cadeira presidencial.
* Redação: Joel Guedes
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