Caos planejado: as cortinas de fumaça produzidas pelo governo
PACTU
Por Joel Guedes *
Em 2019, enquanto era criticado pelo sumiço do ex-assessor Fabrício Queiroz, durante desfile de carnaval no Rio de Janeiro, o presidente Jair Bolsonaro postou vídeo obsceno com crítica ao carnaval de rua. Em março de 2020, quando o IBGE divulgou crescimento do PIB de apenas 1,1%, Bolsonaro fez piada nas redes sociais com presença de um humorista. Em dezembro de 2021, quando o governo era altamente cobrado por um planejamento de vacinação, o presidente polemizava com o decreto zerando a alíquota de importação de armas. Em março de 2021, quando o senador Flavio Bolsonaro era questionado pela compra de mansão de 6 milhões de dólares, no mesmo dia, Bolsonaro vai às redes sociais e condena o isolamento social com duras palavras. No meio de tudo isto, muita mentira, fake news, agressividade e insultos. A intenção é sempre a mesma: desviar a atenção da mídia e da população.
Essa tem sido a lógica de Jair Bolsonaro governar, desde a sua posse, em 2019: criar cortinas de fumaça para esconder os maus feitos do seu governo e os verdadeiros problemas do país. Como fez também nas últimas semanas, jogando para a mídia novos ataques à democracia com o indulto ao deputado Daniel Silveira, criticado até mesmo por aliados. Ao fazer isto, Bolsonaro “abafa o caso” da corrupção no Ministério da Educação e desvia o foco de projetos em tramitação no Congresso, marcados por destruição dos serviços públicos, privatizações e pautas ambientais que avançam sobre os direitos das comunidades indígenas, entre outros.
Pesquisadores de comunicação analisam que Bolsonaro governa com uma estratégia militar. Em um contexto de guerra, para enganar o inimigo, os soldados são deslocados para um lugar, buscando induzir seu rival a defender determinado flanco, mas a intenção é atacar outro lado que ficará desprotegido. Bolsonaro insulta jornalistas, ironiza situações urgentes, como fez tantas vezes durante a pandemia, e ataca as minorias. Ao instaurar o caos usando linguagem chula e falas agressivas, o presidente alegra seus seguidores no “cercadinho” de Brasília, mas deixa o Estado em conflito e mascara os reais problemas nacionais que seu governo é incapaz de resolver: fracasso, retrocesso, colapso da economia e a grave crise social agravada pelo desemprego, miséria e fome.
Bolsonaro sabe que caminha para uma derrota nas eleições, mas fará de tudo para gerar instabilidade no processo eleitoral. Alguém pode até achar que tudo isso é pouco diante de um plano diabólico de um recruta que planejou explodir o quartel do Exército e só não o fez porque foi descoberto a tempo. Julgado, acabou expulso.
No momento atual, não haverá Tribunal Militar. O julgamento será nas urnas, no voto democrático. Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.
* Joel Guedes é jornalista e editor do jornal Pactu
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