Pela democracia, cidadãos e instituições reagem ao bolsonarismo
PACTU
Por Joel Guedes*
Com a Procuradoria Geral da República (PGR) e a Câmara dos Deputados totalmente omissas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) mantém ataques à democracia, a instituições e pessoas. Reagiu com ódio e adjetivos chulos contra lideranças e personalidades que assinaram o “manifesto pela democracia”, divulgado no último dia 20, pela Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo, com participação de vários ex-ministros dos governos Fernando Henrique, Lula, Dilma e até de Michel Temer.
O documento expressa a preocupação da nação com os ataques incessantes do presidente da República ao processo eleitoral, às instituições e ao estado de direito democrático, defende a livre atuação dos Três Poderes da República e o fim da crise institucional que ameaça a estabilidade democrática. E foi muito feliz ao sugerir que é preciso cortar as aventuras de Bolsonaro no nascedouro. Portanto, não apenas entre os partidos de esquerda, mas também em setores da direita, do centro e em grande parte da sociedade brasileira, há uma ideia formada de que o bolsonarismo não pode ir adiante.
É compreensível, portanto, a reação raivosa do presidente, quando sente a pressão da sociedade e vê muitos “aliados” desembarcando da sua candidatura, inclusive parte do empresariado e até mesmo políticos do “centrão” que até semanas atrás defendiam-no incondicionalmente. A “lealdade” está restrita a poucos, entre os quais o procurador Augusto Aras e o presidente da Câmara, Athur Lira, mas não se sabe por quanto tempo.
Não é pouca coisa esse manifesto pela democracia. Sobretudo num cenário em que as instituições vinham fazendo vista grossa a diversos atentados ao Estado Democrático de Direito nos últimos anos. São sinais de que, antes tarde do que nunca, ensaiam, enfim, funcionarem como permite e determina a Constituição. Nesse rumo, nas últimas semanas, a Polícia Federal, o Ministério Público e o próprio Supremo Tribunal Federal pesaram a mão sobre autores de ataques e ameaças bolsonaristas nas redes sociais, contra a democracia e contra adversários políticos.
Bolsonaro também sente o peso, mas pior é o que está por vir. Só para lembrar que, entre alguns dos crimes descobertos pela CPI da Covid-19 no Senado, imputados ao presidente da República, estão charlatanismo, falsificação de documento público e corrupção passiva. Na Câmara, já se acumulam mais de 150 pedidos de impeachment apontando as mais diversas práticas delituosas. Parlamentares da oposição garantem que, mesmo após o fim do governo Bolsonaro, muitas investigações deverão ser iniciadas no âmbito da Polícia Federal e do Ministério Público. De forma que não seria normal se Bolsonaro não estivesse tomado pelo desespero - que o leva a falar asneiras e ser quem ele realmente é -, sabendo que o único jeito de não ser preso é ser reeleito em 2022, o que é uma possibilidade a cada dia mais remota.
* Joel Guedes é jornalista e editor do jornal Pactu
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