Rombo na Americanas

PACTU

( Divulgação )
Rombo na Americanas
Bradesco socializa prejuízos com empregados e sociedade

* Por Joel Guedes

No Brasil, é comum os bancos comprarem ações de grandes companhias e títulos duvidosos, com o objetivo de potencializar os seus lucros e jogarem o prejuízo para o governo e a sociedade quando alguma coisa dá errada. Para isso, os bancos contam com um aparato legal, a Resolução 2682 do Banco Central, que regulamenta a contabilização da provisão para créditos de liquidação duvidosa, porém sem critérios ou limites. É o que vem acorrendo após o rombo de R$ 40 bilhões na loja Americanas, cujos credores eram os maiores bancos brasileiros e que agora querem socializar o prejuízo com a população. O Bradesco, que é um dos maiores bancos privados do país, foi agressivo no uso desse instrumento. O banco tinha créditos no valor de R$ 4,798 bilhões com a Americanas e decidiu provisionar 100% das possíveis perdas. Com isso, o Bradesco socializou o prejuízo com os seus empregados e com a sociedade. 

A jogada contábil do Bradesco credita 40% do prejuízo ao governo federal. Um rombo de R$ 1,8 bilhões em impostos, que foi empurrado para o contribuinte. Essa fórmula, lesiva à União, não é complicada: determinado o lucro real, o provisionamento para créditos duvidosos é abatido no imposto a pagar. Os dividendos são privados e os prejuízos socializados, inclusive com os próprios funcionários do Bradesco, que sofreram impacto negativo no valor da PLR. Calcula-se que a perda na PLR de 2022 dos bancários e bancárias do Bradesco tenha ficado em torno de 14%. Uma injustiça, pois esse valor não pode ser recuperado, sem falar nos outros problemas que os empregados já enfrentam no dia a dia, sendo o principal deles a ameaça à saúde pelo cumprimento de metas cada vez mais desumanas.

A socialização desse prejuízo feita pelo Bradesco é esdrúxula porque não se trata da inadimplência de milhares de pequenos comerciantes. É a dívida de um único CNPJ, que entrou em recuperação judicial e tem sócios bilionários que poderiam tapar o rombo. Vale lembrar que o Bradesco assumiu  riscos, ao concentrar créditos vultosos com um único cliente, e agora deixa de recolher quase dois bilhões de reais aos cofres públicos e provisiona de uma só vez toda a dívida para gozar do benefício fiscal. Vale lembrar que o banco Itaú também provisionou 100% dos R$ 3 bilhões de créditos com a Americanas. Porém, ao contrário do Bradesco, o Itaú usou R$ 1,7 bilhão que já estavam provisionados para outros fins e adicionou mais R$ 1,3 bilhão. O lucro do banco foi tão elevado que, mesmo reduzido, foi possível pagar a PLR de 2022 pelo teto. Enquanto isto, o Santander, terceiro maior banco privado do país, foi mais comedido e só provisionou o equivalente a 30% da dívida das Americanas. É importante lembrar que que se a operação fosse exitosa, os dividendos dos bancos seriam pagos integralmente aos acionistas com isenção fiscal.

Por último, cabe uma reflexão: é justo, num país com a economia em frangalhos, 20% da população passando fome e outros 30% à beira da miséria, deixar a sociedade bancar R$ 1,8 bilhão para amenizar o prejuízo de um banco privado?

* Joel Guedes é jornalista e editor do jornal Pactu

Fonte: Pactu

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