Se a guerra contra o Iraque foi um desastre, com o Irã deve ser ainda pior’
PACTU
Alerta foi dado por um dos candidatos à presidência dos EUA pelo Partido Democrata, Bernie Sanders. Europeus temem consequências de ataque norte-americano
O assassinato do chefe da Guarda Revolucionária do Irã Qassem Soleimani pelos Estados Unidos nesta sexta-feira (3), em ação promovida em um aeroporto de Bagdá, no Iraque, pode desencadear um conflito cujas consequência tanto no Oriente Médio como no mundo ainda são imprevisíveis. Líderes europeus e norte-americanos manifestaram preocupação com o cenário.
“Quando votei contra a guerra no Iraque em 2002, temi que isso levasse a uma maior desestabilização da região. Infelizmente, esse medo acabou sendo verdade”, postou em seu perfil no Twitter um dos postulantes à vaga de candidato à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata Bernie Sanders. “Os EUA perderam aproximadamente 4.500 bravos soldados, dezenas de milhares foram feridos e gastamos trilhões. A perigosa escalada de Trump nos aproxima de outra guerra desastrosa no Oriente Médio que pode custar inúmeras vidas e trilhões de dólares a mais.”
Com uma postura antibelicista em toda sua carreira política, Sanders destacou ainda em vídeo que um eventual conflito militar com o Irã pode alcançar proporções trágicas. “‘Se você pensa que a guerra contra o Iraque foi um desastre, meu palpite é que a guerra no Irã vai ser muito pior.” De acordo com o site especializado Global Fire Power, o Irã é a 14ª potência militar do mundo, enquanto os iraquianos ocupam a 53ª posição.
Golpe no acordo
De acordo com o jornalista britânico e editor diplomático do The Guardian, Patrick Wintour, o assassinato de Qassem Soleimani pelos Estados Unidos pode ter sido o golpe final nas esperanças de se manter vivo o acordo nuclear iraniano até as eleições americanas. A avaliação seria de diplomatas europeus, que temem ainda que o parlamento iraquiano busque expulsar as 5 mil tropas americanas do Iraque, o que traria consequências graves para a região, incluindo na luta contra o Estado Islâmico.
Wintour destacou ainda comunicado do secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, que não condenou nem perdoou o assassinato de Soleimani: “Sempre reconhecemos a ameaça agressiva representada pela força iraniana de Quds liderada por Qassem Soleimani. Após sua morte, instamos todas as partes a reduzir a escalada. Mais conflitos não são do nosso interesse”.
A ministra europeia da França, Amélie de Montchalin, fez declaração no mesmo sentido em uma estação de rádio francesa. “No nível europeu, temos de trabalhar em estruturas multilaterais coletivas e impedir que os poderes, um contra o outro, joguem seu jogo de maneira imprevisível”, afirmou. “Nosso papel não é ficar de um lado ou de outro, é falar com todos.”
O presidente da Comissão de Relações Exteriores do parlamento britânico, Tom Tugendhat, sugeriu, em entrevista à BBC News, que o governo do Reino Unido não sabia que os EUA iriam realizar o ataque aéreo para matou o general iraniano.
“Bem, eu acredito há muito tempo que o objetivo de ter aliados é que podemos surpreender nossos inimigos e não um ao outro, e isso tem tristemente sido um padrão”, disse. “Eu exortaria o governo dos EUA a compartilhar muito mais estreitamente com os aliados, particularmente aqueles que estão lutando ao lado da região, incluindo nós.”
Tugendhat apontou ainda que o ataque aéreo “sem dúvida terá consequências”.
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