Justiça deve priorizar direitos de empregados e fornecedores da Americanas, defende Nassif
PACTU
“O golpe está no sangue deles (Lemann, Telles e Sicupira)”, diz Luis Nassif, do GGN. “Uma intervenção judicial idônea deve priorizar empregos”
Por Paulo Donizetti de Souza
O rombo superior a R$ 40 bilhões na Americanas não é resultado de “inconsistência contábil”, mas de um golpe calculado. Desse modo, o processo de recuperação da empresa deve passar por uma intervenção que coloque os mais de 44 mil trabalhadores da empresa como prioridade da Justiça. Em entrevista ao programa Revista Brasil TVT deste fim de semana, o jornalista Luis Nassif defende a indicação de técnicos idôneos para seguir no caso Americanas. E que tenham como prioridade a defesa dos empregados, e também dos fornecedores – uma vez que a cadeia produtiva responde por outros milhares de empregos indiretos.
“Em um processo de falência, a parte preferencial são os trabalhadores. Então, o ideal não é levantar a atual situação de recuperação judicial em que entrou a empresa”, argumenta Nassif. “Ou seja, o ideal é que ocorra uma intervenção da Justiça, que coloque a recuperação nas mãos de alguém idôneo, que tenha sempre em vista a importância de se preservarem os empregados e os fornecedores. Depois, num segundo momento, vêm acionistas.”
Segundo o diretor do Jornal GGN, o rombo da Lojas Americanas resulta de um “golpe totalmente armado” por seus ex-controladores. Ele se refere ao trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles. E ao risco de os bancos credores, em razão de serem vítimas de trapaça contábil, se anteciparem em eventuais processos e vitórias judiciais. “Porque fora do processo de recuperação judicial, os bancos pegam o dinheiro devido a eles e acaba a empresa. Aí fica todo mundo desamparado.”
Nassif enumera o conjunto de atores que têm de ser prioridade das investigações e da responsabilização civil e criminal:
- Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, sócios na empresa 3G, que articularam o golpe
- O CEO Sergio Rial é cúmplice, por ter acompanhado a evolução do golpe meses antes de assumir o comando formal da Americanas, por apenas nove dias
- A empresa PwC (Pricewaterhouse-Coopers), que “vergonhosamente” fez, ou deveria ter feito, a auditoria dos balanços que esconderam o rombo.
- O Conselho de Administração; e
- A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), responsável por monitorar o funcionamento do mercado de capitais.
“Então tem um conjunto grande de atores que precisam ser responsabilizados civil e penalmente”, afirma.
“O que eles não previam foi a dimensão da reação dos credores e o impacto na imagem deles (os três bilionários).” Nassif observa que esse mesmo trio já deu golpes nos EUA com empresa de alimentação controlada por eles, e haviam praticado ação similar no Brasil com a empresa de logística ferroviária ALL.
“Ou seja, faz parte do sangue deles o golpe. Eles compram empresas para depenar. Fizeram isso lá atrás com a Telemar.”
“A legitimação do mercado de capitais é ajudar a financiar a economia real, a criar empregos e receitas para o Estado na forma de impostos gerados por atividade produtiva. Mas não se faz isso no Brasil, onde o mercado de capitais serve para eles darem tacadas, assumir controle de empresas em dificuldade e passar pra frente”, explica o jornalista. “E isso, no caso, se deu através das três pessoas que eram símbolo do capitalismo brasileiro. E daí a gente entra na questão central: esse pessoal deu um golpe para assumir o controle da Eletrobras”, diz.
Os três também atuaram diretamente para a privatização da Eletrobras, da qual também são acionistas. Em reportagem no GGN sobre o caso Americanas, Nassif denunciou que Lemann, “se apropriou da Eletrobras de forma indecente, fruto de lobby direto na veia do poder público”.
Como ele relata, Lemann entrou como minoritário. “Mas no golpe do impeachment passou a ter poder de indicação dos gestores. Estes reduziram investimentos – que eram relevantes para o país – para garantir dividendos polpudos. A 3G, controlada por ele, produziu uma avaliação do preço da Eletrobras indecente, tomando como base o valor contábil da empresa. O golpe da privatização ocorreu com a empresa emitindo ações, diluindo a participação estatal e impondo um acordo de acionistas. A União só ficou com direito a 10% dos votos, independentemente de sua participação acionária”, relata.
Confira entrevista de Nassif sobre o escândalo na Americanas no Revista Brasil TVT
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