Nota baixa: principais bancos em operação no Brasil ficam devendo em sustentabilidade

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( Marcos Santos / USP Imagens )
Nota baixa: principais bancos em operação no Brasil ficam devendo em sustentabilidade
Pesquisa deve ser realizada anualmente entre as principais instituições bancárias do Brasil

Maior nota obtida no Ranking de Atuação Socioambiental ficou abaixo de 30; resultados variam de 0 a 100

Em uma escala de notas que vão de 0 a 100, nenhum banco que atua no Brasil conseguiu resultado acima de 30 no chamado Ranking de Atuação Socioambiental de instituições financeiras (RASA).  

Conduzida pela Associação Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS), a pesquisa avaliou os sete maiores bancos do país, os dois bancos cooperativos mais expressivos e o holandês Rabobank, que no Brasil atua somente com o agronegócio.

O grupo de instituições avaliadas responde por quase 90% do mercado nacional de crédito. No entanto, apenas duas conseguiram resultados superiores a 25, ainda distante da nota máxima. A análise avaliou temas ambientais, sociais e de governança, gerenciamento de riscos, produtos financeiros com impactos positivos e a composição do portfólio, que inclui o perfil de risco das empresas.

Para chegar ao resultado, a SIS avaliou informações públicas, mas foi além, solicitou dados adicionais às instituições financeiras. Somente BTG Pactual, SICREDI e Banco Safra optaram por enviar mais detalhes. 

Segundo Luciane Moessa, diretora executiva e técnica da associação SIS, uma das razões para as notas baixas é justamente a baixa transparência. O banco europeu Rabobank, por exemplo, é considerado referência na agenda da sustentabilidade, mas divulga poucos dados sobre a operação no Brasil. A instituição teve resultado de 29,04, o maior do ranking. 

A lista traz ainda BTG Pactual (27,61), Itaú (16,50), SICREDI (16,30), Bradesco (16,27), Santander (12,56), Caixa (10,34), Banco do Brasil (10,22), Sicoob (6,85) e Safra (4,03). Moessa afirma que “os resultados não são animadores” e ressalta que se as instituições financeiras fizessem mais, a economia brasileira seria beneficiada. 

“Falar em sustentabilidade do setor bancário é extremamente importante para avaliar a sustentabilidade da economia brasileira. Porque aproximadamente dois terços da economia brasileira só se viabilizam e dependem de acesso ou a crédito ou a investimentos, mercado de capitais. Então, se tivermos um sistema bancário sustentável, vamos ter uma economia sustentável.” 

A especialista afirma que, muitas vezes, os bancos assumem compromisso público com determinados temas, mas deixam de colocar medidas importantes em prática para que a ação se concretize. 

Moessa traz como exemplo o trabalho infantil. Embora os bancos digam que não financiam atividades econômicas que exploram crianças, nenhum deles disse consultar a base de dados do governo sobre o tema. O problema se repete em outros setores. No caso do meio ambiente, a consulta é feita somente ao Ibama e deixa de lado órgãos ambientais estaduais. 

“Eles fazem o dever de casa incompleto, mesmo em temas que estão nas políticas e que são básicos para a agenda da sustentabilidade do nosso país”, afirma Moessa.  

A regulação bancária brasileira também contribui para o desempenho. Até o ano passado, não havia exigência de que os bancos publicassem relatórios de sustentabilidade. Luciane Moessa afirma que, este ano, o cenário já deve avançar com a obrigatoriedade de apresentação dos dados. Ela pontua ainda que o Banco Central (BC) é ativo na agenda da sustentabilidade. 

Mas ainda há muito o que melhorar, segundo a especialista. A regulação tem também pontos genéricos e precisa ir adiante nas exigências. 

“O tema da base de dados, por exemplo. A regulação faz a referência de que os bancos têm que consultar a base de dados públicas, mas não traz uma lista mínima de quais são elas. A regulação faz uma série de exigências de governança, mas não diz que eles têm que publicar a dimensão da área de sustentabilidade. É uma informação que nunca encontramos, para nenhum banco.” 

O outro lado 

Brasil de Fato entrou em contato com as instituições bancárias citadas no ranking. Itaú e Bradesco responderam às mensagens para informar que não iriam comentar o estudo. 

Em nota o Sicredi afirmou que possui “uma estratégia de sustentabilidade e uma estrutura de gerenciamento de riscos, que evoluem a cada ano.” A instituição pontuou ainda que vai divulgar o relatório de sustentabilidade no próximo mês e reforçou compromisso com o Pacto Global da ONU e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da organização. 

“O Relatório de Sustentabilidade de 2022 trará uma visão completa de todas as ações que realizamos ao longo do ano passado e das nossas contribuições para o desenvolvimento sustentável do negócio e da sociedade.” 

O BTG também mandou posicionamento por escrito, em que afirma que análises de riscos sociais, ambientais e climáticos são parte da cultura da empresa, aplicadas “de maneira transversal aos nossos relacionamentos, financiamentos e investimentos.” 

No texto, a instituição destacou, “Tal prática nos possibilita conduzir uma agenda pioneira no desenvolvimento de soluções e serviços alinhados aos parâmetros ESG que garantam não só um retorno financeiro, mas também impactos socioambientais e climáticos positivos." 

A Caixa Econômica Federal respondeu à reportagem após o fechamento da matéria. O banco afirmou busca "melhoria constante de seus processos, de forma a manter sua posição como agente financeiro sustentável, responsável pela execução de políticas públicas e pelo o desenvolvimento do país."  

Embora a SIS tenha requisitado informações de todas as instituições que aparecem no ranking, a CAIXA alegou em nota que o estudo foi produzido com base em dados público, sem acesso a todas as práticas adotadas. A instituição, no entanto, não explicou porque não repassou informações sobre essas práticas para a organização.

As outras instituições não responderam.

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho

Fonte: Brasil de Fato

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