São Sebastião: tragédia anunciada
PACTU
Por Joel Guedes *
No Rio Grande do Sul, várias cidades estão em situação de emergência devido à seca que já dura três safras. Em outros cantos do país é a chuva que causa destruição. No Rio de Janeiro e em Camboriú (SC), enchentes assolam os moradores. Em Mauá, no ABC Paulista, vários morros deslizaram. É a repetição de fenômenos naturais extremos que têm assolado várias regiões do país, provocando calamidades. O caso mais recente e grave é o de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. A chuva de 600 milímetros, em um único dia, deixou até agora um saldo de 49 mortos e mais de 50 pessoas desaparecidas, além de dezenas de casas soterradas e estradas destruídas. Há mais de três anos o governo paulista era alertado sobre a ocupação desordenada de morros e encostas litorâneas, por trabalhadores atraídos por empregos gerados pelo turismo na região.
O Estado precisa do turismo e a indústria turística precisa dos trabalhadores. O problema é que a alta especulação imobiliária empurra esse grande contingente de pessoas para as áreas de risco, sob as vistas grossas do poder público. Ainda pior que isto é o fato de o governo de São Paulo ter sido avisados com dois dias de antecedência sobre o risco de um desastre no litoral norte do estado. Naquele final de semana de carnaval, a cidade esperava 500 mil turistas, número cinco vezes maior que a população da cidade, estimada em 91,6 mil habitantes. Sabe-se lá por quê, ninguém foi alertado sobre o perigo de desastre, que infelizmente acabou se confirmando. O caso de São Sebastião, como outros que a antecederam, foi uma tragédia anunciada. Os turistas são responsáveis por boa parte do dinheiro que gira na estância balneária, mas quanto vale cada vida perdida?
Por outro lado, o episódio serviu para nos mostrar a grande diferença entre os governos atual e anterior, negacionista do aquecimento global. Ao contrário do comportamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a tragédia ocorrida em Santa Catarina, em dezembro passado, na segunda-feira de carnaval, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou a base naval de Aratu, na Bahia, onde passava os dias de carnaval, para vistoriar os estragos, confortar a população e coordenar a ação de seu governo, junto com o governo paulista e a prefeitura da cidade. O socorro às vítimas e a recuperação da infraestrutura da região reveste-se de uma ação emergencial imprescindível.
No entanto, a tragédia configura-se como mais um alerta. O governo Lula já estabeleceu uma nova ordem para a política ambiental no país. Precisa, agora, chamar os estados e municípios para tratarem a questão com mais seriedade e, conjuntamente, desenvolverem um grande projeto de preservação de morros e encostas, sobretudo em regiões mais propensas para fortes chuvas. Junto com isso, a necessária desocupação populacional das áreas de risco, sob pena de novas tragédias se repetirem em eventos futuros.
* Joel Guedes é jornalista e editor do jornal Pactu
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