'Eu vou voltar. O Lula não é o Lula, é uma ideia, não adianta perseguir'
PACTU
São Paulo – Ao final de ato em defesa da soberania nacional, diante da sede da Petrobras, no centro do Rio de Janeiro, Lula disse "eu voltar para recuperar a autoestima deste país" e que não adianta persegui-lo. "O Lula não é o Lula, é uma ideia representada por milhões de mulheres e homens. Se preparem, porque o povo trabalhador vai voltar a governar neste país", afirmou. A manifestação, iniciada ainda na manhã de hoje (3), terminou por volta de 16h50.
O ex-presidente disse que vários veículos de comunicação, o Ministério Público e a Polícia Federal mentem a seu respeito ("São carreiras de Estado, não têm o direito de mentir, estão lá para defender as instituições", observou a respeito do MP e da PF) e reafirmou já ter provado a sua inocência em relação às acusações na Operação Lava Jato. "Eles querem evitar que eu seja candidato em 2018. Estou tranquilo. Quem deve estar preocupado são eles", ironizou. "Falam mal de mim de manhã, na hora do almoço, à noite, sábado, domingo, feriado, e quando sai uma pesquisa quem está na frente é o Lula."
Ele fez referência ao slogan cunhado durante a campanha que o levou pela primeira vez à Presidência da República, 15 anos atrás. "Eu quero que vocês saibam que o Lulinha paz e amor continua. Não quero vingança, mas eu sei como é que estou sendo tratado", disse o ex-presidente. Segundo ele, a verdade "será discutida em cada rua, em cada praça deste país".
O ex-presidente disse que ainda falta discutir mais a questão da soberania nacional, tema do ato de hoje no Rio. "Nós começamos a falar de soberania nacional quando disputamos as eleições de 2002, dizendo não aos Estados Unidos, não permitindo a implantação da Alca, quando a gente criou o Mercosul, a Unasul, quando a gente aprovou o ensino africano nas nossas escolas públicas e quando a gente estabeleceu que o país iria ser protagonista internacional."
Ele também destacou as iniciativas do governo brasileiro, em sua gestão, por um assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas e por um acordo de paz no Irã. E criticou os Estados Unidos por dar "palpite" na Venezuela, que atravessa uma crise política. "A Venezuela é um problema dos venezuelanos, os americanos que cuidem de seus problemas."
Para Lula, o atual governo não tem competência e, por isso, está vendendo todo o patrimônio nacional, agindo mais como "Casas Bahia" do que como governantes e "abrindo mão de instrumentos de política econômica", citando Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, BNDES, Eletrobras e Casa da Moeda, entre outras empresas, além da indústria naval.
"A Petrobras é um instrumento de desenvolvimento. Diziam que era impossível a gente explorar o pré-sal", acrescentou Lula, fazendo ainda menção a uma reportagem, publicada nesta terça-feira, em que empresários norte-americanos se dizem "decepcionados" com a reforma trabalhista brasileira. "Eles ainda acham que ter uma hora de almoço é muito, licença remunerada (para mulheres gestantes) é demais. O que eles querem é que este país volte ao tempo da escravidão, e a gente não vai voltar."
Políticas de Estado
O ex-presidente chegou ao ato por volta das 16h. Ganhou um bordado de representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que realiza no Rio seu oitavo encontro nacional, e um jaleco de dirigentes da Federação Única dos Petroleiros (FUP). "A história do presidente é muito parecida com a da Petrobras", disse o coordenador da FUP, José Maria Rangel, lembrando que foi com políticas de Estado que o Brasil sentiu menos os efeitos da crise mundial deflagrada em 2008.
"Tenho orgulho de ter sido o presidente da República que mais investiu em desenvolvimento de óleo e gás, em pesquisa, que mais fez capitalização da Petrobras, que mais visitou a Petrobras em terra e no mar", disse Lula. "Se eles têm vergonha, eu quero dizer pra eles: se preparem, me processem, mintam o quanto quiser, mas eu vou voltar (...) Para dizer pros jovens pobres da periferia: vocês vão continuar estudando em universidade, vão ter ProUni, Fies, escolas técnicas, para dizer para o povo pobre da periferia, vai ter Minha Casa, Minha Vida subsidiada, vamos continuar gerando emprego neste país. (...) Não adianta dizer que tem violência na Rocinha. A violência está na elite dirigente."
Ele prestou homenagem ao "professor cidadão" Luiz Carlos Cancellier, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina. "Hoje estamos um pouco mais tristes", afirmou Lula, que horas antes havia divulgado nota de condolências, na qual diz que o professor "foi exposto sem nenhum motivo justificável, apenas para a sanha das manchetes sensacionalistas e a sede de destruição de reputações". Referiu-se ao afastamento do reitor como uma medida que "desrespeitou a autonomia universitária, e que não deveria ter lugar no Estado democrático".
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