Ações doadas não tornam bancário responsável pelo BB
PACTU
Apesar de parecer simpática, movimento sindical alerta sobre medida unilateral da direção do banco: não será tolerada mais pressão sobre funcionários.
No dia 9 de agosto os bancários do BB receberem três ações do banco. A novidade, anunciada pelo presidente da instituição, Paulo Rogério Cafarelli, à imprensa comercial, abrangeu todos os 98.416 funcionários da ativa do banco. E, segundo ele, é parte de um plano de incentivo de resultados que representa mais 9,6 milhões de reais em ações.
“Mais do que o valor em si, é que a gente vai poder comunicar que todo empregado é também dono da empresa. Nosso mote agora, nossa campanha é que no Banco do Brasil você é atendido pelo dono”, disse Caffarelli em entrevista à Você S/A.
Os “donos” do banco, no entanto, não podem vender as três ações até se aposentarem ou saírem do banco. A ação fica custodiada pelo BB sob o CPF do servidor e, enquanto estiver na ativa, obrigatoriamente ele tem de ser acionista do banco.
“A iniciativa é boa, mas três ações é muito pouco, representa pouco mais de 90 reais”, afirma Wagner Nascimento, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB (CEBB). “E essa historia de ser atendido pelo dono, não sabemos qual será o efeito, se vai aumentar a pressão sobre os funcionários, mas deixamos claro: não iremos aceitar. Além disso, o valor foi muito pequeno e não negociado com o movimento sindical que está em plena discussão com a direção do banco, na Campanha Nacional Unificada 2018, e o banco solta uma medida exclusiva da parte dele com um valor irrisório de três ações”.
Outros duzentos
Wagner lembra que quando o BB lançou essa ideia de distribuir as ações, no mês passado Cafarelli soltou um vídeo falando disso e ficou todo mundo na expectativa do que seria. “A iniciativa de distribuir ações para os funcionários não é uma coisa ruim e nós já cobramos isso do banco. Em 2008, quando o BB completou 200 anos, fizemos uma proposta de o banco doar 200 ações, para cada funcionário. Acabou que por conta de questões de regulação junto à CVM e demais órgãos de controle, o banco não conseguiu viabilizar essa distribuição de ação à época e acabou dando um bônus de R$ 1.300 para cada funcionário assim que foram encerradas as negociações da Campanha Nacional Unificada. Isso representava cerca de 90 ações quando foi creditado no início de novembro de 2008. O preço estava em torno de 16 reais à época”, relata Wagner.
“O que tem de grave agora é que o governo reduziu sua participação no banco ao longo do tempo, vendeu ações do fundo soberano recentemente, e pulverizar mais ações, de certa forma, está valorizando o funcionário, mas também é uma maneira de privatizar mais o banco”, critica o dirigente.
Agora, Cafarelli afirma que a participação nas ações do banco pode aumentar ao longo dos anos, já que outra mudança foi anunciada: os servidores receberão metade do bônus semestral (por meio do Plano de Desempenho Gratificado – PDG – premiação vinculada ao resultado e ao desempenho dos funcionários participantes) em ações do banco. A outra metade é por crédito no cartão Alelo, empresa que tem como sócios o BB e o Bradesco.
As ações que o funcionário receber pelo PDG, conforme o seu desempenho, poderão ser monetizadas imediatamente, ou ele poderá ir criando a sua carteira de ações do banco.
“Os sindicatos e a CEBB acompanharão isso de perto. Isso não pode ser mais um motivo para aumentar a cobrança por metas abusivas dentro do banco”, completa Wagner Nascimento.
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