'Eles têm medo do Lula. Por isso ele está sequestrado', diz Frei Chico
PACTU
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva completa 300 dias de prisão nesta quinta-feira (31). Sua detenção na sede da Polícia Federal do Paraná é uma prisão política, de acordo com sua defesa e com juristas e intelectuais do mundo inteiro que se debruçaram sobre o processo que levou a sua condenação. A seletividade política com que o Lula é tratado pelo sistema de Justiça chegou ao ponto de lhe ser negado o direito de ir ao velório e enterro do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá. Lawfare – uso violento de instrumentos judiciais com fins políticos, sustentam os advogados. Prática usada como arma contra inimigos de guerra.
Após chorar a morte de seu irmão encarcerado em Curitiba, Lula recebeu hoje a visita de outro irmão, José Ferreira da Silva, o Frei Chico. Após o encontro, Frei Chico, ativista político que influenciou o interesse de Lula pela militância, relatou como estava o ex-presidente. "A morte do meu irmão Vavá foi muito triste. A pessoa vai ficando velha e vai acabar morrendo, mas é triste ver um parente se acabando, querendo falar com outro", disse. Após essa fala, uma pausa. Emocionado, Frei Chico perdeu as palavras.
"É difícil falar. Ele não conseguiu vir aqui, porque a doença não o deixava viajar. Foi triste para nós a decisão da Justiça de não deixar um preso (...) Na história o Brasil recente, ano passado, milhares de presos foram visitar seus mortos. Mas Lula é especial. É sequestrado do Poder Judiciário brasileiro, que deve estar defendendo os direitos do poder econômico deste país", completou.
O irmão de Lula relatou que o ex-presidente está muito triste com a situação e, mesmo assim, disse que não vai desistir. Ele cobra provas de seus supostos crimes. "O crime que Lula cometeu vão ter que provar uma hora. E não tem outro jeito. Eles não têm como provar. Montaram uma história sem volta, porque não tem explicação. Destruíram uma pessoa a acusando sem provas. Existe o achismo", disse.
Para Frei Chico, as forças que estão nas esferas mais altas do poder hoje no Brasil representam essa elite econômica. E eles têm medo de Lula. "Lula é contra isso e eles têm medo de que Lula comece a falar. O país acabou elegendo um grupo que tem o objetivo de destruir o próprio país. Destruir tudo que foi feito de avanço social", disse, alertando não confiar mais nesses setores do Judiciário. Para ele, a única forma de libertar Lula é por meio de manifestação popular.
E assinalou o que considera perigos das arbitrariedades para a democracia e para os cidadãos comuns. "Vavá dedicou sua vida a ajudar os outros. Chegou a ser acusado pela mídia, teve sua casa invadida, reviraram toda sua casa e não acharam nada. Ficaram tristes, foram embora. Nunca repararam esses prejuízos. Nunca tivemos pedido de desculpas. Não precisa ser do PT, qualquer cidadão está sujeito a esse tipo de humilhação. Democratas de outros partidos também podem sofrer a mesma coisa."
Paciência e mobilização
Lula também recebeu o ex-senador e ex-ministro Aloizio Mercadante e o ex-presidente do PT Rui Falcão. "São 175 mil presos que saem por ano para velar seus parentes. Lula não. Vejo a Suzane von Richthofen que matou os pais, ela sai e volta. O goleiro Bruno que deu a mulher para os cachorros, sai. Agora, Lula que colocou mais jovens na universidade do que qualquer outro presidente na história, fez o Bolsa Família, exemplo no mundo. Como um homem como esse não pode visitar o irmão no momento final?", disse o ex-senador.
Segundo Mercadante, a família de Lula vem passando por momentos difíceis. Ele enalteceu a organização da Vigília Lula Livre, que está de pé desde as primeiras horas da prisão do ex-presidente, é motivo de orgulho e desperta carinho. "A família do Lula tem sofrido muito. É impossível não manifestar a indignação. Hoje, são 300 dias e 300 noites trancado naquela cela. Na próxima terça-feira, dois anos da morte da dona Marisa. Hoje ele falou da vigília. Ele sempre fala da vigília, da importância para ele. Só quem não conhece essa militância acha que vamos vergar."
Rui Falcão, recém-eleito deputado federal em São Paulo, disse que o momento político brasileiro exige mudanças. "Se tem uma coisa que quem está no poder tem interesse, e não vai conseguir, é que, com a prisão do Lula, o PT seja destruído. Nossa militância resiste, a vigília é demonstração disso. Nosso presidente disse que vai continuar lutando e que vai redigir uma mensagem aos brasileiros (...) Não querem que o Lula seja visto, porque sabem o que ele representa para a população brasileira. Saímos de lá animados após uma conversa muito forte", completou.
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