Dieese: Balanço econômico de 2019 aponta economia patinando
PACTU
Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos) faz pelo menos seis anos que o otimismo da grande imprensa contrasta com a vida real dos brasileiros e brasileiras. E nesse final de 2019, apesar do alto nível de desemprego, de desalento e a semi-estagnação econômica, não tem sido diferente.
Em seu boletim de conjuntura de dezembro, o Dieese destaca que em 2018, por exemplo, “a previsão era de que a economia brasileira cresceria 2,5% em 2019, mas, mesmo com a liberação de quase R$ 45 bilhões do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) dos trabalhadores, o PIB mal atingirá aumento de 1%, completando o terceiro ano de baixo crescimento”.
Porém, mesmo o baixíssimo crescimento tem servido para os mercados elogiarem a política econômica de austeridade aplicada pelo ministro Paulo Guedes.
Como estão os principais setores da economia?
O Dieese destaca que um dos setores mais importantes para a composição do PIB do País é a agropecuária. Em um ano, ela avançou 2%. Houve expansão da área plantada, da produção das principais culturas e do valor da produção. Porém, o crescimento do setor dependeu de incrementos pontuais, como o aumento das exportações de carne para a China e outros países. “Em razão da gripe suína, o cenário externo é instável, diante da expansão das disputas no comércio internacional”, destaca o boletim.
Já a indústria apresentou queda de 0,5% na indústria de transformação e 0,9% na extrativa ao longo de 2019. Apesar disso, o setor teve recuperação no aumento do seu faturamento. O Dieese atribui essa recuperação à redução de custos nas empresas, já que salários, horas trabalhadas e nível de emprego continuaram a cair. Outro indicador importante, a capacidade instalada, está estagnada.
A construção civil apresentou avanços durante 2019. Porém, seu foco foi principalmente os segmentos de renda média e alta. O baixo investimento público prejudicou o setor de infraestrutura. Os avanços beneficiaram basicamente parte da classe média e da classe alta.
No setor de mineração, o Dieese ressalta que houve uma retomada. Principalmente a partir do terceiro trimestre, quando a Vale voltou a produzir após o crime ambiental de Brumadinho. Houve também aumento da produção de petróleo e gás da Petrobras, porém, no acumulado de 12 meses, a taxa continua negativa.
Houve leve melhora no comércio de 1,4% em 12 meses. Isso pode ter a ver com a liberação do FGTS.
“O comércio teve melhora no terceiro trimestre de 2019, em relação ao segundo (1,1%) e no acumulado de 12 meses (1,4%). A queda dos juros e os saques do FGTS parecem ter tido efeito benéfico, entretanto, sem melhora consistente do mercado de trabalho e da renda, os indicadores não terão sustentação de longo prazo”, pondera o boletim.
Quem se beneficiou desse crescimento?
Houve uma variação positiva no consumo das famílias de 2018 para 2019. Porém, segundo o Dieese, isso aconteceu por fatores pontuais, como a liberação do FGTS. Esse fato mascara a insuficiência de postos de trabalho e, principalmente a baixa renda advinda dos postos criados.
Apesar da permanência da inflação baixa, ocorreram pressões inflacionárias pontuais. O aumento no preço dos alimentos, dos planos de saúde, da energia elétrica e dos combustíveis afetaram negativamente a condição de vida das famílias.
O boletim do Dieese também destaca que o mercado de trabalho cresceu principalmente por meio do emprego informal. Outras formas precárias de emprego, como trabalho em tempo parcial, temporário, intermitente, terceirizado, também foram responsáveis pelo crescimento. Porém, como a renda obtida com esses trabalhos é baixa, não impactam significativamente o crescimento da economia.
Adeus ano velho, feliz ano novo?
As previsões para 2020 feitas pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia são otimistas: um crescimento de 2,32% e, para os dois anos seguintes, expansão de 2,5% ao ano, “números próximos do previsto pelo mercado financeiro, mas que poderá se mostrar distante da realidade mais uma vez”, segundo o Dieese.
Ainda de acordo com o Dieese, os gastos associados à eleição municipal, a queda dos juros e a liberação do FGTS podem aumentar o consumo das famílias.
Porém, não há elementos robustos que permitam afirmar que o baixo crescimento ficará no passado. A austeridade fiscal,o crescente endividamento das famílias e os baixos salários deixam o mercado interno impossibilitado de crescer. Se o PIB crescer, é possível que reverta riqueza para muito pouco, beneficiando uma parte muito pequena da população brasileira.
“A hipótese de crescimento do PIB em 2020 tem como base aumento da concentração da renda, manutenção de altas taxas de desocupação e de emprego precário e empobrecimento da classe trabalhadora”, avalia o Dieese.
Deixar comentário