Fenae contesta processo de retomada da venda de ativos de áreas estratégicas da Caixa em 2020
PACTU
As investidas da atual gestão da Caixa Econômica Federal sobre o banco 100% público e com caráter social na tentativa de privatizá-lo, intenção confirmada por Pedro Guimarães (presidente da instituição), na entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo, em 28 de dezembro de 2019, têm despertado reação por parte de diversos setores da sociedade brasileira. Entre esses segmentos, a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) reitera que a privatização de áreas rentáveis do banco é um “tiro no pé” do desenvolvimento do país, pois deixará as parcelas mais pobres da população sem assistência por meio das políticas públicas do governo.
Ao Estadão, o presidente da Caixa declarou que “a venda de ativos em 2020 será muito maior”, a começar pelo objetivo de capitanear a bilionária abertura de capital da Caixa Seguridade. Disse ainda que, depois de vender R$ 15 bilhões em ativos próprios em seu primeiro ano de gestão, será seguida à risca a desinflação de bancos públicos no Brasil, conforme orientação dada pela equipe econômica do governo. Uma das metas é concluir a reestruturação da operação de seguros, com a chegada de novos sócios a partir de fevereiro de 2021, quando termina o contrato de exclusividade com a francesa CNP Assurances, atual acionista.
Na entrevista, Pedro Guimarães afirmou que em 2020 sua gestão dará prioridade também à abertura de capital da Caixa Cartões. No caso das loterias, que segundo o presidente não depende exclusivamente do banco público, o caminho a ser seguido é o da adoção de uma lei específica para viabilizar a outorga, ainda sem prazo para definição. Guimarães considerou a abertura de capital da gestão de recursos uma situação mais simples, dependente apenas de uma Medida Provisória.
O desmonte da Caixa como banco 100% público preocupa Jair Pedro Ferreira, presidente da Fenae. Ele argumenta que o papel que a instituição desempenha no interior do Brasil e nos pequenos municípios ajuda a viabilizar políticas sociais que podem ser descontinuadas se prevalecer o interesse de mercado.
“A esse processo nefasto de venda de ativos de áreas estratégicas do banco, como seguros, cartões de crédito, loterias e gestão de recursos, teremos que responder com muita mobilização. É preciso explicar à população a diferença no dia a dia do país de uma Caixa 100% pública e uma instituição financeira enfraquecida, sem ativos, sem condições de cumprir seu papel social”, afirmou.
Jair Ferreira destaca que o banco público é um grande fomentador de desenvolvimento, em especial naquelas regiões do Brasil onde bancos privados não vão. Diante dessas ameaças, o presidente da Fenae avalia que, combinada, a força do trabalhador, da população e da sociedade civil poderá vencer grandes desafios. Ele lembra que propostas de privatizações já foram derrotadas no passado, como ocorreu entre 1995 e 2002, e também no fim de 2014, quando diversos bancos e empresas públicas foram preparados para tornar-se espaços de obtenção de lucro. “Não há outro caminho. É hora de priorizar a mobilização em defesa do banco 100% público. O momento é de união para reafirmar as diretrizes da campanha #ACAIXAÉTODASUA, conduzida pelo Comitê Nacional em Defesa da Caixa”, pondera.
Como atualmente a Caixa é responsável por 70% de todo o financiamento imobiliário no país, além de administrar políticas públicas importantes para a diminuição da desigualdade social, o vice-presidente da Fenae, Sérgio Takemoto, bota o dedo na ferida. “Com a venda das loterias, seguros e cartões e a retirada do FGTS da Caixa, o Brasil todo perde. A população de baixa renda é a que será mais prejudicada com o fim do acesso ao sistema financeiro, ao crédito, à poupança e a outros serviços”, completa. De acordo com ele, a posição externada pelo presidente da Caixa é mais uma demonstração de que a população está abandonada pelo atual governo.
“Quem vai atender o Fies? Quem vai entregar imóveis do Minha Casa, Minha Vida nos lugares mais remotos deste país? A Caixa Econômica Federal é importante para o Estado executar suas políticas e a sociedade não pode abrir desse banco público”, explica.
Takemoto pontua que, para neutralizar a intenção da gestão Pedro Guimarães de fatiar a Caixa, é necessário um grande movimento de união de forças progressistas do país. O vice-presidente da Fenae destaca ainda a importância das diversas frentes parlamentares em defesas de pautas específicas, mas diz acreditar que o momento é de aglutinação, numa grande frente de soberania nacional.
“Ao transferir ativos para a iniciativa privada, o Brasil entrega sua soberania e permite um impacto severo sobre os empregos e sobre o desenvolvimento nacional. A Caixa é protagonista na articulação dessa estratégia e, portanto, deve ter a sua participação fortalecida como banco público e social”, finaliza Sérgio Takemoto.
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