Bolsonaro fica calado sobre ataque dos EUA ao Irã e fala em preço de petróleo
PACTU
Silêncio sobre assassinato de líder iraniano leva termo "Bolsonaro fica calado" ao topo das redes. Região tem revolta. EUA manda americanos saírem do Iraque
O assassinato do comandante militar iraniano Qassem Soleimani por ordem de Donald Trump ocorreu por volta das 23h de ontem (dia 2, hora de Brasília). O ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, classificou o bombardeio ao aeroporto de Bagdá, no Iraque, com “terrorismo internacional” de Trump. O ato do governo dos Estados Unidos causou perplexidade ao mundo e suscitou manifestações de revolta em vários países da região. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro fica calado sobre a conduta norte-americana.
Ao não se manifestar sobre o gesto de Trump, #BolsonaroFicaCalado subiu ao topo das menções no Twitter, disputando o ranking com #Trump e #TerceiraGuerraMundial, sendo a maioria dos comentários críticas em forma de sátira e ironia.
Quase 10 horas depois do ataque, o presidente brasileiro limitou-se na manhã de hoje (3) a especular sobre o impacto no preço do petróleo. Bolsonaro mencionou uma possível alta no custo de combustíveis no país devido ao ataque dos Estados Unidos que matou o general Soleimani. Na saída do Palácio da Alvorada, em meio a um pronunciamento improvisado em que repetia bravatas ideológicas relacionadas à educação, previu um impacto no preço do petróleo no mercado internacional. “Que vai impactar, vai. Agora, vamos ver nosso limite aqui. Porque, se subir, já está alto o combustível, se subir muito complica.”
Perplexidade e repúdio
Nos países do Oriente Médio o clima é de perplexidade. Governos e organizações anti-americanas manifestaram contundente repúdio. A Síria condenou veementemente o que chamou de “agressão traiçoeira e criminosa norte-americana” que matou o general iraniano, alertando que constitui uma “escalada perigosa” da tensão na região, segundo o Diário de Notícias da rede Al Jazeera.
O Ministério dos Negócios Exteriores sírio declarou, em nota, que o ataque reafirma a responsabilidade dos Estados Unidos pela instabilidade no Iraque, como parte de sua política de “criar tensões e alimentar conflitos nos países da região”. A nota do Ministério sírio indicou que o ataque apenas fortalecerá a determinação de continuar no caminho estabelecido “pelos líderes martirizados da resistência contra a interferência norte-americana nos assuntos dos países da região”.
Rebeldes do Iémen apoiaram as manifestações do aiatolá Ali Khamenei após o assassínio do general Qassem Soleimani. “Condenamos esse assassinato e entendemos que represálias rápidas e diretas são a solução”, disse Mohammed Ali al-Huthi, um alto responsável da liderança política dos rebeldes Huthis, em sua conta na rede social Twitter. Apoiados pelo Irã, os rebeldes Huthis tomaram em 2014 a capital do Iémen, Sana, e áreas inteiras do país devastado por uma guerra que causou a mais grave crise humanitária do mundo, segundo a ONU.
O líder do movimento xiita libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah, também aliado do Irã, defende “a justa punição” aos “assassinos criminosos” responsáveis pela morte do general.
O movimento islâmico Hamas, no poder na Faixa de Gaza, assentamento palestino com 2 milhões de habitantes, condenou o ataque norte-americano contra “o mártir” Qassem Soleimani, “um dos mais eminentes chefes de guerra iranianos”. O grupo considera o ataque um “crime norte-americano que aumenta as tensões na região”.
O grupo armado Frente Popular de Libertação da Palestina (PFLP) pediu uma resposta “coordenada” das “forças de resistência” na região.
No Líbano, o Ministério dos Negócios Estrangeiros pediu que o país e a região sejam poupados das repercussões do bombardeio dos EUA no Iraque. E condenou o ataque, afirmando ser uma violação da soberania iraquiana e uma perigosa subida da tensão com o Irã.
Abandonar o Iraque
A Guarda Revolucionária do Irã confirmou na manhã de hoje (dia 3, no horário local) a morte do general Qassem Soleimani, na sequência de um ataque aéreo no aeroporto de Bagdá, e que também visou o “número dois” da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque, Abu Mehdi al-Muhandis.
O presidente dos Estados Unidos ordenou a morte do comandante da força de elite iraniana Al-Quds, conforme comunicado oficial do Pentágono, a pretexto de “proteger” a região de um suposto plano de ataque liderado por Soleimani.
A tentativa de causar um sentimento de “união e proteção” dos americanos não é a primeira empreitada de um ocupante da Casa Branca em ano eleitoral. George W. Bush desencadeou a Guerra do Iraque, em 2003, alegando o uso jamais comprovado de armas químicas por parte do país então liderado por Sadam Hussein.
Na manhã desta sexta-feira, Donald Trump, que concorrerá à reeleição em novembro deste ano, enfatizou o tom ufanista ao tuitar que o Irã “nunca ganhou uma guerra, mas nunca perdeu uma negociação”.
A embaixada dos Estados Unidos em Bagdá pediu a todos que deixem o Iraque imediatamente. “Devido ao aumento das tensões no Iraque e na região, a Embaixada dos EUA pede aos cidadãos americanos que sigam o Aviso de Viagem de janeiro de 2020 e saiam do Iraque imediatamente. Os cidadãos dos EUA devem partir via companhia aérea sempre que possível, e, na sua falta, para outros países via terra”, disse o comunicado.
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