Bancos lucram alto e demitiram milhares
PACTU
O Itaú teve lucro líquido de R$ 28,3 bilhões no ano passado, alta de 10% em relação a 2018 e vem acumulando ganhos seguidos para acionistas nos últimos 10 anos. Em 2019, os lucros dos maiores bancos no país – incluindo Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander – subiram 13% e alcançaram R$ 81,5 bilhões. Foi o maior lucro consolidado nominal (sem considerar a inflação) já registrado pelas instituições financeiras.
Apesar disso, ou justamente por isso, os bancos têm sido alvos de queixas constantes de empresas e famílias que estão no sufoco, diante da crise provocada pela pandemia. Nesta quarta-feira (15), o senador Jean Paul Prates (PT-RN) voltou a lamentar as altas taxas de juros praticadas pelos bancos durante a pandemia.
Ele cobrou responsabilidade social dos bancos, que deveriam cumprir seu papel essencial de utilidade pública, ajudando a recuperação de empresas afetadas pela crise sanitária. As associações de diretores lojistas e câmaras de comércio em todo o país têm criticado os bancos pela elevação em até 70% da taxa de juros nos empréstimos.
“Isso é inaceitável”, criticou. O parlamentar lembrou que o governo reduziu a taxa Selic para 3,75% ao ano e injetou R$ 1,2 trilhão no sistema financeiro com o objetivo de garantir crédito mais barato ao setor produtivo. “O Estado brasileiro deve obrigar essas instituições financeiras a oferecer mais e melhores serviços nesse período de calamidade. Eles têm de colaborar no pagamento do auxílio-emergencial e têm de ajudar o Brasil a se recuperar economicamente”, cobrou. “E isso inclui taxas de juros mais favoráveis para seus clientes. Os bancos brasileiros são os mais lucrativos do mundo”.
Jean Paul lembrou que 80% dos depósitos e empréstimos estão concentrados em cinco bancos: Itaú, Banco do Brasil, Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal. “Os lucros do ano passado são superiores ao gasto estimado pelo governo com o pagamento do auxílio-emergencial de R$ 600 a 30 milhões de brasileiros”, destacou.
Benemerência
São os lucros extraordinários que permitem a um banco do porte do Itaú fazer benemerência, doando R$ 1 bilhão para combater o coronavírus. Curioso é que o banco repassará os recursos diretamente a uma entidade criada especialmente pela própria instituição financeira para gerir os recursos: o Itaú Social.
O banco não revela, contudo, que tais recursos não saíram dos lucros obtidos no último ano. Na verdade, a doação representa apenas 3,5% do que o Itaú ganhou só em 2019. Mas o pior é saber que o fundo bilionário foi abastecido com recursos do próprio banco, o que significa dinheiro da atividade do Itaú. Ou seja, os recursos deixaram de ir para crédito a empresas e cidadãos, o que seria injeção de dinheiro na economia real, já tão combalida.
Vale lembrar que o Itaú demitiu 7 mil funcionários nos últimos anos. Trabalhadores foram dispensados para que o banco mantivesse altas as suas margens de lucro, que não pagam nenhum tipo de tributo nem são revertidos de alguma forma ao Estado. O Brasil é, ao lado da Estônia, dos poucos lugares do mundo que não taxa lucros nem dividendos.
O histórico do Itaú não é tão bonito quanto a generosidade de agora esconde com a doação bilionária. No segundo trimestre de 2019, o banco lançou um Programa de Desligamento Voluntário (PDV), com 3,5 mil adesões. Além do PDV, já havia demitido outros 3,5 mil bancários.
A redução do “quadro de colaboradores” também se deveu ao encerramento de agências físicas. No ano passado, foram fechadas 201 agências físicas e abertas 23 agências digitais. O banco anunciou com alarde que o saldo de agências fechadas em 2019 chegou a 400.
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