“Vamos passar de 17 milhões de desempregados em dezembro”, estima diretor do Dieese
PACTU
Por Tarsila Braga
Diretor técnico do Dieese Fausto Augusto Junior destaca que, por conta da pandemia, o Brasil passará no mínimo por uma recessão
A pandemia do coronavírus é um grande desafio para o momento, mas o pós-crise também é muito preocupante. De acordo com o diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fausto Augusto Junior, do ponto de vista econômico, o Brasil não sairá dessa crise como entrou.
“Já está contratada uma recessão e estamos esperando uma depressão. Os bancos colocaram muito dinheiro na economia, mas quem vai trocar de carro ou geladeira? Quando se tem um grau de instabilidade como o de hoje, fica difícil as pessoas fazerem previsão de consumo”, destacou.
O diretor do Dieese participou, nesta quarta-feira (22), de live no Facebook da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).
O bate-papo teve a presença da presidente da Confederação, Juvandia Moreira; da médica do trabalho Maria Maeno; e da presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (SindSaude-SP), Cleonice Ribeiro.
Desigualdade social
Durante a live, Juvandia falou sobre a desigualdade social brasileira. “Os ricos vão para hospitais que possuem respiradores e trabalhadores com EPIs. O restante da população vai para hospitais públicos que vêm sendo sucateados”, alertou ao explicar que a saída dessa crise não é rápida e tem que ser muito bem planejada.
Fausto lembrou que o orçamento da saúde de 2020 é equivalente ao orçamento de 2011. “Nós temos hoje 1/4 da população com plano de saúde e 3/4 está no SUS. Por outro lado, 2/3 são estabelecimentos privados e 1/3 vinculados ao SUS”, explica. É por isso, disse ele, que estão morrendo mais pessoas em Brasilândia do que no Jardins, ambos bairros da cidade de São Paulo.
Para a presidente da Contraf-CUT, a prioridade tem que ser a população brasileira e a vida das pessoas. “O governo está tomando medidas muito lentas. O dinheiro demora para chegar no bolso das pessoas, os equipamentos demoram a chegar aos profissionais”.
Medida Provisória nº 927
A Medida Provisória nº 927 e o quanto ela é prejudicial ao trabalhador, também foi tema do debate. De acordo com Juvandia, o aumento da jornada de trabalho não gera emprego, mas sim desemprego.
“O trabalhador não tem força para negociar individualmente. Ele sabe que é o elo mais fraco e fica intimidado pelo patrão. Tirar o sindicato dessa negociação é tudo o que eles mais querem, porque tiram a proteção do empregado”, alertou a presidente da Contraf-CUT.
O diretor do Dieese também lembrou de uma questão importante desta medida. De acordo com ele, a MP colocou a covid-19 como doença que não é caracterizada por acidente de trabalho. “Na prática, a maior parte desses trabalhadores que estão na atividade essencial não estão cobertos. Se um trabalhador desse morrer, o cônjuge só terá direito a 60% do valor da pensão por morte”, explicou.
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