Em meio a denúncias contra interino, Inpe cria cargo para pesquisadora exonerada
PACTU
Exonerada da coordenação-geral de Observação da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a pesquisadora Lúbia Vinhas irá para um cargo ainda a ser criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
A informação foi confirmada nesta terça-feira (14) pelo ministro da pasta, Marcos Pontes, em coletiva de imprensa convocada para anunciar uma reestruturação no órgão de pesquisas.
Segundo o ministro, Lúbia comandará o setor de Base de Informações Georreferenciadas (BIG), um repositório de informações sobre o uso e cobertura do solo no Brasil, oceanos, atmosfera, estudos da Antártida e mudanças climáticas.
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A área de Observação de Terra, antes coordenada por ela, agora ficará a cargo do pesquisador Gilvan Sampaio de Oliveira. As mudanças ainda dependem de aprovação formal.
Pontes negou que a troca de cargos de Lúbia tenha ligação com os recordes de desmate na Amazônia, divulgados na sexta-feira (10) pelo departamento que ela comandava. Segundo o portal G1, a pesquisadora disse que não sabia que seria exonerada.
Pontes alegou “falta de atenção” para perceber que a chefe de monitoramento de desmatamento estava sendo exonerada justamente no momento em que o país chegava ao seu 14º mês consecutivo de destruição florestal recorde.
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“Basicamente, [foi] um mal-entendido. Talvez eu tivesse que prestar atenção um pouquinho mais no momento, esperando um pouquinho para fazer essa mudança. Não aconteceu, falha minha”, justificou o ministro.
"Estrutura paralela"
As mudanças estruturais são encampadas pelo diretor interino do Inpe, Darcton Damião. Ele foi acusado, em uma carta assinada por técnicos do órgão, divulgada em 7 de julho, de alimentar uma “estrutura paralela” entre os servidores.
Segundo a denúncia, há uma “verticalização e unificação de comando aos moldes das estruturas militares, claramente na contramão das tendências atuais de pesquisas em redes colaborativas com liberdade acadêmica e autonomia científica”.
Ainda segundo os servidores que assinam o texto, Darcton se utiliza da “estrutura paralela” para ter acesso a planos de trabalho e, com isso, obter vantagem sobre outros postulantes ao cargo de diretor – para ser efetivado, ele precisa passar por uma seleção que inclui uma lista tríplice.
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O interino nega agir por interesse próprio e diz que menção é “uma leitura superficial da situação”. Segundo ele, as reuniões restritas são apenas para organizar a nova estrutura.
“Não existe uma estrutura paralela. O que é existe é que, toda segunda-feira, eu me reúno eventualmente com os membros da futura estrutura para não improvisar no dia um, quando a estrutura estiver aprovada. Eu estou preparando, semanalmente, as coisas que a gente precisa fazer nas diversas áreas”.
Darcton assumiu o cargo provisoriamente há quatro meses, após a demissão de Ricardo Galvão. Ele foi exonerado após rebater críticas de Bolsonaro sobre a confiabilidade dos dados do instituto, em meio ao aumento do número de queimadas na Amazônia.
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Edição: Rodrigo Chagas
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