Acordo dos bancários teve 120 mil nas assembleias e apontou caminhos de negociação

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Acordo dos bancários teve 120 mil nas assembleias e apontou caminhos de negociação
"Eles não queriam dar reajuste. Os bancários reagiram, e isso foi muito importante", afirma Juvandia. Ela destaca inovações na organização da campanha salarial

“Quando uma categoria dessas ganha, a sociedade ganha”, afirma presidenta da confederação dos trabalhadores no setor. Economia tem impacto de R$ 8 bilhões

São Paulo – No único momento presencial da campanha, representantes de bancários e banqueiros assinaram, na última sexta-feira (4), o acordo coletivo da categoria, incluindo aditivos com os bancos públicos. O documento é válido por dois anos, até 31 de agosto de 2022. Mas nem mesmo o ato de assinatura, em um hotel de São Paulo, foi tranquilo: redação diferente do negociado em alguns itens prolongaram o encontro até as 22h, encerrando, enfim, uma jornada que consumiu 44 dias e 15 rodadas de negociação.

As conversas madrugada adentro já são características das campanhas dos bancários. Mas foi uma campanha atípica pelo seu formato. Devido à pandemia, tudo foi virtual, desde a conferência que aprovou a pauta de reivindicações, ainda em julho. Mas o desafio também mostrou possibilidades e pode ter apontado caminhos para as próximas negociações coletivas.

Um dado a se ressaltar é o da presença de trabalhadores nas assembleias virtuais. Em torno de 120 mil participaram das assembleias finais, que avaliaram e aprovaram a proposta de acordo dos bancários. Na consulta para preparação da pauta e prioridades, já tinham sido 30 mil respostas – até 10 vezes uma quadra lotada na base do sindicato de São Paulo, por exemplo. Até então, a maior parte das respostas era no papel. “Não perdemos representatividade. A gente inovou e encontrou forma de continuar dialogando com os trabalhadores”, observa a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira.

 

Participação superou resistência

Ela avalia, inclusive, que essa presença expressiva de bancários nas assembleias, em numero maior que nas presenciais, foi decisiva para dobrar a resistência empresarial. “Foi aí que eles começaram a recuar.” Os bancos só admitiam conceder abono, sem incorporação aos salários. “Eles não queriam dar reajuste, essa que é a verdade. Os bancários reagiram, e isso foi muito importante. O banco internamente tem como medir (a insatisfação dos empregados)”, diz Juvandia.

Ela lembra que, no início, a bancada patronal queria, inclusive, retirar direitos do acordo coletivo. Além de mexer nas regras para cálculo da participação nos lucros ou resultados (PLR). Talvez apostando em uma “desmobilização” devido à pandemia.

O acordo fechado – que envolve mais de 450 mil bancários – prevê, neste ano, reajuste de 1,5% e abono no valor de R$ 2 mil. Para 2021, reajuste com base na inflação acumulada e aumento real de 0,5%. Itens como vales alimentação e refeição também tiveram e terão aumento.

Nova cultura

Do lado dos dirigentes sindicais bancários, o cenário exigiu também uma preparação específica. “A gente teve que criar ferramentas, uma nova cultura”, comenta a presidenta da Contraf-CUT. Foram montadas, por exemplo, duas turmas para cursos sobre redes sociais. Para a organização sindical, foi aberto um novo caminho, acredita Juvandia. “O teletrabalho veio e vai ficar. O local de trabalho é a casa do bancário, a gente vai ter que continuar dialogando com ele.” Mas ela observa que esse trabalho de aproximação nunca deixou de ser feito, com visitas constantes ao locais de trabalho.

Este foi um ano de negociação incessante. Começou, a rigor, desde a decretação da pandemia, seis meses atrás, em 12 de março. Discussões sobre condições de trabalho e saúde e segurança para funcionários e clientes. Medidas como compra coletiva de álcool em gel e máscaras: “Desde antes de ser obrigatória a gente cobrava”. E com a economia em queda livre.

Assim, foram vários fatores que desafiavam qualquer negociação coletiva: governo avesso a diálogo, desemprego, PIB encolhendo , insegurança. “(O governo) deveria estar fazendo o contrário, aumentar os gastos públicos. Essa receita é de encolhimento do Estado, é receita burra”, critica Juvandia. Mas ela não aponta o Executivo como principal motivo para as dificuldades encontradas na mesa única, e virtual, de negociação.

“Eu não diria que foi o governo. O governo foi mais um fator”, diz, apontando dificuldades impostas em outras negociações, como a dos Correios e da Petrobras. Porém, especificamente no setor público, o principal empecilho estava na Caixa Econômica Federal, especificamente no item plano de saúde, uma tema sensível, que acabou encontrando meio-termo.

Acordo dos bancários põe R$ 8 bi na economia

Outro item de destaque é o do home office, que continuará sendo discutido individualmente. “O debate na mesa foi muito importante. Tinha banco que achava que o bancário devia devolver alguma coisa. Conseguimos mostrar que eles economizaram e os bancários aumentaram seus gastos, não tinha nada que devolver”, comenta Juvandia. “Acho que a gente ganhou o debate mostrando, por A mais B, que havia um aumento de custos do trabalhador.” Mas o setor segue se negando a discutir cláusulas de garantia de emprego.

Ela enfatiza a importância desse acordo não só para o trabalhador bancário, mas para o próprio país. Apenas quatro itens – , PLR, reajuste, abono e benefícios – vão representar impacto de R$ 8 bilhões na economia. Só com o abono de R$ 2 mil, são mais de R$ 900 milhões. “Quando uma categoria dessas ganha, a sociedade ganha”, afirma.

Edição: Paulo Donizetti de Souza

Fonte: Contraf-CUT

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