O perfil do trabalhador e as percepções acerca do home office
PACTU
Acreditamos que a pandemia acelerou e fortaleceu a adoção do trabalho remoto. E ao nosso entender, sim, a pandemia deixou o legado do home office
Para compreender melhor os desafios que o home office apresenta e obter informações acerca do perfil e percepção do trabalho home office, realizou-se uma pesquisa on-line com a utilização do Google Forms. Participaram do levantamento de dados 267 profissionais, no período de junho de 2020. Os resultados da pesquisa foram publicados na 13ª Carta de Conjuntura do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura Universidade do Município de São Caetano do Sul.
Se o teletrabalho veio para ficar, novo cenário exigirá uma regulação negociada
O perfil do respondente é caracterizado por pertencer a uma faixa etária entre 29 e 61 anos de idade, distribuídos de forma uniforme, representando 79,4 % da massa de dados e sem significativa diferença de gênero.A região de atuação profissional ficou dividida em: 57,14% nas cidades de Guarujá, Santos e São Paulo; 6,39% dos demais Estados; 1,5% de outros países e o restante, 34,96% de outras cidades do Estado de São Paulo.Dos respondentes, 83,83% estão trabalhando na modalidade home office durante esse período da pandemia. Os demais, 16,7%, informaram que suas empresas, na sua maioria, não adotaram o trabalho home office em razão das suas funções não permitirem essa modalidade de trabalho.
A importância da adoção do home office fica evidente quando se percebe que apenas 5% dos respondentes trabalhavam em tempo integral antes da ocorrência da pandemia COVID-19, e uma parcela de 31% em regime de tempo parcial. O percentual de 64% não exercia suas funções em home office.
Quanto à área de atuação profissional dos entrevistados, a grande maioria, 68,56%, informou que trabalha na área de TI/Telecomunicações, educação e outros setores.
Produtividade no home office
Quanto à percepção pessoal dos respondentes com a produtividade do trabalho em home office, a nota média foi de 3,6, entre 1 e 5 pontos, com uma variabilidade, desvio padrão, de 1,2 pontos. A rama da direita, intervalo entre 3 e 5 pontos, concentrou 83,33% das notas, indicando que os respondentes consideram que o trabalho em home office contribui para o aumento da produtividade.
‘Home office’ predomina entre brancos, de ensino superior e renda maior. Mulheres são maioria
Teletrabalho se consolida em gangorra emocional trazida pela pandemia
As respostas apresentaram alguns fatores que podem indicar a baixa produtividade no trabalho em home office, como a falta do contato pessoal com os colegas de trabalho representou 20,17% das respostas, a falta de estrutura física (espaço reservado, ventilação, acústica, luminosidade, cadeira e mesa) foi a escolha de 19,60% dos entrevistados. A falta de estrutura tecnológica, as demandas da rotina da casa e a má administração do tempo somaram mais 40,63% das respostas.Em contra partida, os motivos elencados para uma maior produtividade foram: não ter que se deslocar até a empresa (21,9%); maior qualidade de vida (20,88%); organização e foco com as atividades laborais (18,68%).
Em um questionamento dicotômico quanto a empresa ter disponibilizado recursos para o trabalho home office, tais como notebook, teclado, internet, entre outros itens necessários, 55,6% responderam não ter recebido nenhum recurso e 44,4% informaram que tiveram acesso a esses recursos.
Flexibilidade no home office
O tempo utilizado para se deslocarem até o seu local de trabalho foi o único dado que apresentou um comportamento diferenciado das demais variáveis quantitativas analisadas. A média do tempo de deslocamento é de aproximadamente 55 minutos com um pequeno desvio padrão de 8 minutos. Dos respondentes, 78,11% levam até 72 minutos para fazer o deslocamento de ida e volta ao seu local de trabalho. Ainda considerando tempo para chegar ao seu local de trabalho, foi avaliado o tipo de transporte utilizado. A maior evidência foram: o uso do veículo individual, carro próprio ou Uber/Similar (49,25%); o uso do ônibus (22,39%); e o deslocamento a pé (20,9%).
Outro dado é que 64,10% afirmaram não ter seus rendimentos diminuídos por conta da pandemia. Mas 35,90% tiveram seus rendimentos reduzidos, dos quais 21,37% com significativa diminuição.Quanto ao sentimento de satisfação em relação a essa nova condição de trabalho, apenas 25% dos respondentes afirmam não estarem felizes enquanto 46,55% estão muito felizes.
Quanto à crença dos respondentes junto à posição favorável de trabalho home office a ser adotada pela empresa, eles acreditam em alguns motivos, como por exemplo: promover a flexibilidade no ambiente de trabalho (16,35%); redução de custos (16,35%); ajudar os colaboradores a atingir um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e trabalho (14,46%); mudança no estilo do trabalho (11,76%); e resolução de problema com tempo de locomoção até o trabalho (10,81%). Entre os motivos para não adoção do trabalho home office, as duas categorias com maior número de respostas assinaladas são o conservadorismo por parte do gestor ou direção com 26,29% e a dificuldades de fazer a gestão de forma remota com 27,10% das escolhas.
Considerações finais
O home office no Brasil deve alcançar 22,7% das ocupações existentes o que corresponde a mais de 20 milhões de trabalhadores (IPEA, 2020). Este novo cenário já sinaliza novos desafios para as organizações e para os trabalhadores.
Algumas mudanças já são perceptíveis e estão sendo empreendidas, como por exemplo, a nova arquitetura organizacional com espaços que possibilitam a proteção dos trabalhadores por meio de barreiras físicas que impedem o contato entre as pessoas. A adesão por parte de muitas empresas para um fortalecimento do home office, e assim, a diminuição dos espaços físicos dos escritórios. Este movimento já está impactando no mercado imobiliário.
Os relacionamentos e interações tendem a ser mais remotos, com o incremento das videoconferências e até mesmo o happy hour virtual. Surge a etiqueta respiratória e novos comportamentos serão necessários, deixando de lado a calorosa forma do brasileiro se expressar.
A tecnologia se torna uma ferramenta ainda mais importante para estabelecer a conectividade entre as empresas, as pessoas e o ambiente, e possibilitou que muitos modelos de negócios pudessem ter prosseguimento neste período de pandemia, como, por exemplo, a migração das lojas físicas para as lojas online.
Em tempos de preocupação com o meio ambiente, vale salientar a redução da poluição, haja vista que 71,64% dos trabalhadores faziam o deslocamento para o trabalho utilizando carro ou ônibus, grandes emissores de gases de efeito estufa.
Mobilidade urbana e home office
Outro aspecto será o aumento da diversidade no ambiente organizacional. Com a adoção do home office, poderão ser contratados profissionais de qualquer parte do mundo, sem a necessidade do deslocamento para a empresa. Percebe-se também uma mudança na mobilidade urbana, onde muitos vão preferir residir em cidades com mais qualidade de vida e com menor custo de vida.
Muitas empresas reconhecem que não houve perda de produtividade e os profissionais estão tendo que fazer a gestão do tempo, elaborar um planejamento e organização dos recursos necessários ao trabalho e criar rotinas que contribuam para a eficiência das atividades desempenhadas. Nos ajustes, o trabalho híbridopode ganhar força.
A pesquisa apontou que os trabalhadores estão menos estressados, mais felizes e produtivos, e acreditam que as empresas vão continuar com a modalidade home office após o fim da pandemia.Corroborando, segundo pesquisas da Cushman&Wakefield (Exame, 2020), 73,8% das empresas pretendem instituir esta modalidade de trabalho como prática permanente e para 59% há mais pontos positivos do que negativos.
Acreditamos que a pandemia acelerou e fortaleceu a adoção do trabalho remoto. E ao nosso entender, sim, a pandemia deixou o legado do home office.
Márcia Célia Galinski Kumschlies é doutoranda em Tecnologia Ambiental. Mestre em Administração. Professora universitária. Coordenadora do Núcleo de Pesquisas Fernando Lee e da Pós-Graduação na Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá.
Fernando Gonzales Tavares doutor em Ensino de Ciências e Matemática. Mestre em Engenharia Mecânica. Bacharel em Matemática. Professor universitário na Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá.
Leia outros artigos da série Desenvolvimento em Foco
TAGS:
Deixar comentário