CoronaVac é a vacina ‘mais segura do mundo’ e eficaz, diz presidente do Butantan
PACTU
Mais de 12 mil profissionais de saúde participaram dos testes com a CoronaVac. Sucesso se deve ao SUS e instituições públicas de pesquisa
São Paulo – O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que a CoronaVac é “uma excelente vacina” contra a covid-19. Desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com a instituição paulista, o imunizante é eficiente para evitar 100% dos casos graves e moderados e 78% para casos leves. Ou seja, de cada 100 pessoas expostas ao vírus, 78 não desenvolvem nenhum sintoma e 22 podem ter apenas um quadro leve da doença. No Brasil, 12.473 profissionais da saúde na linha de frente do combate ao coronavírus participaram dos estudos de eficácia da CoronaVac, voluntários expostos a riscos maiores de infecção.
O fato mais celebrado foi a eficácia total contra mortes e internações hospitalares. “Na prática é isso: estamos evitando casos graves, moderados, internações e diminuindo a necessidade de atendimento. Estamos reduzindo de forma significativa mesmo as manifestações mais leves. É uma excelente vacina”, disse Dimas. O instituto já iniciou o processo de aprovação emergencial junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que tem 10 dias para dar um parecer.
Na manhã desta quinta-feira (7), após reunião foi realizada entre médicos e cientistas do Instituto Butantan e membros da Anvisa, Dimas Covas disse que a recepção da agência foi positiva. Outra reunião deve será realizada no fim da tarde e a expectativa é de que os procedimentos para aprovação da CoronaVac sejam iniciados entre hoje e amanhã. “A Anvisa recebeu as informações e esperamos, formalmente, iniciar a tramitação do uso emergencial. A Anvisa entendeu e estamos caminhando no sentido de termos autorização para uso emergencial”, disse.
Estudo completo
Embora as notícias sejam positivas, ainda falta a divulgação dos resultados de forma mais completa. Faltam dados, por exemplo, sobre a segurança da vacina e detalhes sobre a condução dos estudos. O presidente do Butantan assegurou que esses dados estão no relatório encaminhado à Anvisa e que, nos próximos dias, serão divulgados em revista científica e para a imprensa. Sobre a segurança, Dimas e outros médicos que participaram da entrevista coletiva concedida hoje garantiram ser “uma das mais seguras do mundo”.
A infectologista Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas, que esteve na coletiva e participou da Fase 3 de testes da CoronaVac, disse que não ocorreram reações adversas. Sempre tivemos muita convicção da segurança da vacina, mesmo no dia a dia. Os dados são melhores do que o esperado (…) os efeitos colaterais devem ser mínimos. Em breve vamos discutir esses números quando tivemos o relatório completo em mãos”. O estudo completo possui mais de 10 mil páginas.
Mais dados
Outro aspecto relevante para considerar em relação à segurança da CoronaVac é que ela já foi aplicada em milhares de pessoas na China desde julho, sem registro de reações mais graves em grande escala. “A vacina do Butantan é eficaz. A única disponível hoje para o controle da pandemia no Brasil. Esperamos mais, mas hoje temos. Está entre as vacinas mais seguras do mundo. Mais de 700 mil pessoas já foram vacinadas na China. Uma das vacinas mais seguras do mundo, não só para a covid-19”, disse Dimas Covas.
Participaram dos testes mais de 13 mil voluntários de oito estados, em 16 centros clínicos. Metade recebeu a vacina e a outra metade, placebo. A partir deste procedimento, chamado “grupo controle”, é possível verificar cientificamente a eficácia de um medicamento.
Ambiente hostil
Um ponto de destaque para a condução dos testes da CoronaVac no Brasil foi o teste em um ambiente particularmente hostil. Além de o país ter um grande número de casos e uma intensa circulação do vírus, todos os voluntários do imunizante trabalham na área da Saúde e atuam na linha de frente contra o coronavírus. Isso significa que eles possuem maior chance de serem expostos à covid-19. Dimas considera um diferencial desta vacina para outras que são testadas em pessoas de diferentes áreas com menor chance de contágio.
Isso pode explicar uma diferença entre os estudos conduzidos no Brasil para de outros países. A Turquia, por exemplo, atestou preliminarmente uma eficácia acima de 90% em casos leves para a CoronaVac. Os testes do Instituto Butantan expuseram a vacina a um teste mais agressivo. “Nós desafiamos a vacina de forma que outras não fizeram. Todos os voluntários tinham risco maior de infecção. Essa vacina foi submetida a um teste difícil. É a prova mais dura do mundo em uma vacina contra a covid-19”, disse o presidente do Butantan.
Cronograma
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que o calendário de vacinação segue conforme o apresentado em dezembro. Idosos, profissionais de saúde, indígenas e quilombolas devem começar a ser vacinados no dia 25 de janeiro. O estado já conta com 10,8 milhões de doses da vacina prontas para aplicação, de acordo com a Secretaria de Saúde. O cronograma prevê aplicações de vacinas de segunda a sexta das 7h às 22h, e aos sábados, domingos e feriados das 7h às 17h.
Inicialmente, serão aplicadas duas doses. A segunda aplicação, um reforço, deve ser feita de 14 a 21 dias após a primeira. O Butantan estuda a possibilidade de esticar esse intervalo para 28 dias, com finalidade de iniciar a imunização em um maior número de pessoas. Também não está fora de cogitação uma terceira dose para os mais idosos.
“Temos a condição de já iniciar, a partir do dia 25 de janeiro, a imunização, a primeira fase. Principalmente de idosos que representam 77% das pessoas que morrem em decorrência da covid-19. Indígenas, quilombolas e profissionais da saúde também receberão na primeira fase. Temos seringas, profissionais e todos os requisitos para vacinar em todo o estado de São Paulo. Mas queremos que a vacina seja distribuída para todo o país através do Programa Nacional de Imunização”, disse o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn.
Isolamento social
O estado de São Paulo tem mais de 44 milhões de habitantes. A intenção também é de disponibilizar a CoronaVac para todo o país, por meio do SUS. Em todo o país, são 210 milhões de pessoas. Para atingir uma imunização de rebanho com a taxa de eficácia da CoronaVac, será necessário vacinar 70% da população. Todos estes grandes números chamam a atenção para a cautela contra a covid-19 que ainda deve permanecer. Por questões logísticas, o processo de vacinação ainda vai demorar.
Por isso, é essencial manter medidas de isolamento social, especialmente nos próximos meses. Cientistas esperam um grande aumento de casos e mortes nas próximas semanas em razão das aglomerações de fim de ano. O médico do Hospital das Clínicas Esper Kallas insiste na manutenção e aumento dos cuidados. “Implementação de um programa de vacinas leva tempo. Infelizmente, temos um tempo pela frente até tudo isso acontecer. Vamos ter dois meses duros. O fato de termos uma notícia boa, não dá salvo conduto para achar que o problema está resolvido. Temos que reduzir a transmissão do vírus, estarmos atentos. Vamos ter momentos difíceis até a vacina estar entre os brasileiros que precisam.”
Estava previsto para hoje uma revisão no Plano São Paulo, que determina o grau do isolamento social a ser cumprido no estado. Entretanto, a divulgação foi adiada para amanhã (7). Ontem, São Paulo teve mais de 14 mil internações, maior número desde agosto. As taxas de ocupação em UTIs giram em torno dos 65%. Diante dos dados, é esperado um endurecimento nas medidas de distanciamento.
Política
Mesmo ao dizer que a “vitória é da ciência e não de ideologias e da política”, direcionou sua fala de forma política. Doria homenageou o Instituto Butantan pelos seus 116 anos, agradeceu voluntários, médicos, jornalistas, câmeras, entre outros, e cutucou o presidente, Jair Bolsonaro. “Rendo minha homenagem a tantos que perderam suas vidas. A tantos que sofrem de efeitos colaterais desta doença, mesmo curados. A seus familiares que choram a perda de seus pais, tios, avós. Fico feliz como brasileiro de saber que a maioria dos brasileiros tem compaixão. A maioria expressiva dos brasileiros nunca acreditou numa gripezinha”, disse.
“Infelizmente chegaremos à marca de 200 mil brasileiros que perderam suas vidas. Hoje, 7 de janeiro, é o dia da vida. Com todos cuidados que ainda deveremos ter ao longo deste ano, temos esperança. A esperança da vacina. Seu coração pulsa melhor porque, em breve, você terá sua vacina (…) Sigam se protegendo, orientando seus familiares. Não aceitem orientações equivocadas e maldosas, desprovidas de bondade a fazerem o que não devem”, completou.
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