Brasil cai no ranking global de igualdade de gênero
PACTU
Para mudar situação do país rumo a igualdade é preciso luta e eleger políticos que realmente representem a pauta por direitos iguais, diz secretária da Mulher Trabalhadora na CUT, Juneia Batista
O Brasil ocupa a 93ª posição entre 156 nações avaliadas pelo ranking global de igualdade entre gêneros de 2020, segundo levantamento do Fórum Econômico Mundial (WEF). O país caiu 26 posições em 15 anos – em 2006, ocupava o 67º lugar.
Esse desastre brasileiro comprovado no estudo era previsível, afirma a secretária da Mulher Trabalhadora na CUT, Juneia Batista. Desde o golpe de 2016, que impediu “injustamente” o governo da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) de continuar, prossegue, as mulheres vêm sofrendo ataques e, em consequência disso, sendo prejudicadas. “Diminuiu a qualidade de vida, a possibilidade de ter um trabalho decente e o acesso a políticas públicas”, completa.
Para a dirigente, o voto é o único caminho para o país reverter a situação e reconquistar todos direitos adquiridos nos 13 anos dos governos Lula e Dilma, entre eles benefícios, políticas públicas, inclusão de renda e de um modo de vida melhor pro povo brasileiro, principalmente às mulheres pobres e negras.
“A gente precisa, no ano que vem prestar mais atenção em quem elegeremos para presidente, nas eleições dos executivos estaduais e no legislativo e exigir para que sejam retomadas as políticas públicas de inclusão de renda”, pontuou Juneia.
“E a gente precisa esclarecer a população que todos os nossos direitos não vêm de graça e que é preciso, além de lutar todos os dias por melhores condições na vida e no trabalho, ter alguém no poder que realmente nos represente”, acrescentou.
A secretária da Mulher Trabalhadora na CUT ressalta que é preciso continuar na luta pela igualdade de gênero “para que a gente possa, de fato, dizer que a gente é uma nação. Enquanto isso não acontecer, nós continuaremos como hoje com um pandemônio tomando conta do Palácio do Planalto”.
Pandemia piora situação
Segundo matéria publicada no site da Folha de São Paulo, o Brasil foi citado por uma executiva do Instituto de Pesquisa Ipsos, co-autor do estudo, Natalie Lacey como um dos países em que as mulheres serão ainda mais afetadas na pandemia, porque “elas vão perder muito mais rapidamente os empregos do que os homens e ainda serão recontratadas muito mais lentamente”.
A tese da executiva é comprovada por pesquisas como a que foi pela consultoria McKinsey em 2020, que mostra que, apesar do aumento do desemprego ter sido global, na pandemia as mulheres foram mais afetadas que os homens em todo o mundo.
Para cada homem que perdeu o emprego, havia 1,8 mulheres na mesma situação - quase o dobro. No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres formavam um exército de 50,9% das pessoas sem ocupação no 3º trimestre de 2020, enquanto eles eram 49,1%.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) fez com que a igualdade de gênero retrocedesse cem anos porque elas assumiram mais tarefas domésticas que os homens e também são as mais suscetíveis a deixar o mercado de trabalho.
“A pandemia deixou ainda mais assombrosa a situação das mulheres, que ainda são as maiores responsáveis pelo cuidado e, lamentavelmente, pelas tarefas domésticas. E ainda tem toda uma diferença salarial estrutural, o que deve piorar na pandemia e dificultar ainda mais a paridade de gênero no país”, disse a sócia do Araujo Recchia Santos, Sociedade de Advogadas e Coordenadora Geral do Observatório de Candidaturas Femininas da OABSP, Maíra Recchia.
De acordo com a advogada, numa pesquisa feita nos Estados Unidos foi perguntado para a população feminina se o companheiro estava ajudando em casa, 54% delas disseram que sim e 75% dos homens entrevistados afirmaram que ajudam mais. “Com esta diferença de olhar as mulheres acabam exercendo uma, duas, três e até quatro jornadas”.
Pior desempenho
As piores perdas de posição no ranking da igualdade de gênero aconteceram na participação da mulher na política, inclusive no Brasil que está em 122º lugar entre os 156 países no número de mulheres eleitas para o Congresso e em 120º em relação à participação em ministérios.
A situação só não é pior por causa dos seis anos de presidência de Dilma Rousseff que colocaram o Brasil na 27ª posição no ranking nesse item.
Para Maíra, a questão da pouca participação das mulheres na política se dá por uma questão estrutural porque se tem legislação de cotas para enfrentar esta desigualdade, ela é praticamente uma cortina de fumaça.
Segundo ela, na prática eles usam a lei para tentar fazer com que as mulheres se interessem na política, mas na realidade as mulheres de fato não têm um espaço dentro dos partidos, nas tomadas de decisão e elas também não têm adequado investimento nas suas candidaturas.
“O percentual de candidaturas femininas, que hoje é no mínimo de 30%, os partidos não investem de fatos nelas e ainda só conquistaram agora a garantia do percentual de tempo na propaganda eleitoral gratuita. Enquanto essa estrutura não mudar vai ser muito difícil a gente angariar igualdade nesses espaços de poder”, afirmou a advogada.
Já sobre a questão do índice da participação da mulher na política ter melhorado no governo da ex-presidenta Dilma, Maíra disse que “quando você tem uma mulher nos espaços de liderança e diversidade o recorte de gênero sempre está nos processos e pautas e temas que são colocados”.
*Edição: Marize Muniz
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