Artigo: Por que Bolsonaro recuou?
PACTU
Por Edilson José Gabriel *
Por que Bolsonaro recuou?
A Nota Pública divulgada no dia 09/09, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) e redigida por Michel Temer (MDB-SP), surpreendeu o país e decepcionou profundamente uma parcela importante de seus apoiadores. Desde então, a pergunta que norteia as análises de jornalistas e de políticos é “Por que Bolsonaro recuou?”
Não podemos dizer que é óbvio, mas rapidamente, a partir do texto da Nota e dos discursos de Bolsonaro em solenidades públicas, não ficou difícil de encontrar a resposta. E a explicação tem base em um fato que não está relacionado diretamente com esse momento, mas ajuda a compreendê-lo: a célebre conversa telefônica onde o ex-senador Romero Jucá (MDB-RR) sugere um acordo nacional para a deposição da presidente Dilma, “com o Supremo e com tudo”.
Bolsonaro apostou todas as suas fichas em um autogolpe, que seria desencadeado no dia 07/09. Mais uma vez demonstrou alguma capacidade de mobilização (principalmente da classe média alta), mas pouca ou nenhuma capacidade de articulação, sem contar uma visão completamente desatualizada dos métodos utilizados pelo poder econômico para fazer valer seus interesses.
Bolsonaro não deu o golpe no dia 07 e, a partir do dia 08/09, seus discursos, suas ações e suas omissões começariam a lhe render perigosas consequências. Não lhe restou alternativa a não ser a rendição, traduzida, de maneira muito direta e resumida no seguinte tratado. Bolsonaro cumprirá seu mandato até o final, poderá ser candidato à reeleição em 2022 e seus filhos não serão presos. Em troca disso, não atacará mais as instituições, acabando com o tensionamento com o Congresso e, principalmente, com o STF. Parece pouco, mas não é. Isso dá mais tranquilidade e rapidez para a tramitação da pauta ultraliberal de Paulo Guedes e dos senhores do mercado: a privatização dos serviços e das empresas públicas, a retirada de direitos trabalhistas e o desmonte da proteção social.
Ou seja, enquanto nos divertimos com as piadas feitas com o recuo de Bolsonaro, avançam a PEC 32, da Reforma Administrativa, a privatização dos Correios e da Petrobras e outras medidas que interessam apenas ao capital nacional e internacional.
Os trabalhadores e trabalhadoras, porém, não devem desanimar. Apesar de tudo, há um elemento que não está sob o controle nem de Bolsonaro e nem de ninguém que tenha feito parte do acordo. É o povo na rua. Os protestos contra Bolsonaro não param de crescer e a campanha pelo impeachment do presidente já tem nova data para manifestações: dia 02/10. Até lá, a expectativa de que a CPI da Covid traga novos elementos, justificando o slogan “Fora Bolsonaro”.
Em tempo: ao contrário do que parece, Michel Temer não está de volta. Ele só foi convocado a mediar a crise por ter indicado Alexandre de Morais ao Supremo. E Alexandre de Morais, ex-advogado do PCC, também não ficou bonzinho. Ele é o relator das ações relacionadas ao Gabinete do Ódio e já aceitou de muito bom grado o grande acordo para evitar o retorno de um projeto popular ao governo da República do Brasil.
* Edilson José Gabriel é Diretor de Imprensa e Comunicação do Sindicato dos Bancários de Umuarama, Assis Chateaubriand e Região
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