Omar Aziz amarela e CPI poupa Bolsonaro da acusação de genocídio
PACTU
(*) Joel Guedes
Por pouco, uma divergência de última hora não colocou tudo a perder na CPI da Covid-19, no Senado. Isto porque o presidente da Comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM) quase teve um chilique ao saber que senador Renan Calheiros (MDB-AL) fazia constar no relatório final a acusação da prática de genocídio pelo presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL), na pandemia do novo coronavírus. Cinco dos sete principais integrantes da CPI apoiavam o relator, mas Aziz chegou a ameaçar voto contrário. A paz só foi selada após uma reunião na noite de terça-feira,19/04, em que se convencionou pela mudança do texto final, com mais de mil páginas.
O que espanta é que durante os seis meses de investigações, tanto Omar Aziz quanto os demais membros da CPI usaram a palavra “genocídio” dezenas de vezes para classificar a omissão e as ações de Bolsonaro na pandemia. Mesmo diante dos alertas feitos por entidades e médicos respeitados em todo o mundo, o presidente do Brasil desdenhou da letalidade do vírus. Vários epidemiologistas brasileiros e estrangeiros garantem que as ações erradas do governo, muitas delas por conveniência do próprio presidente, e a omissão foram responsáveis pela grande maioria das mais de 600 mil mortes por covid-19 no país, desde março de 2020.
Apesar do presidente da CPI não querer imputar a Bolsonaro o crime de homicídio ou genocídio, como grande parte da população brasileira esperava que ocorresse, não se pode afirmar que a CPI terminou em pizza. No relatório que deverá ser votado na terça-feira, 26/10, Renan Calheiros pede o indiciamento de Bolsonaro por outros 11 crimes. Além de ignorar o perigo, o presidente ajudou a disseminar o vírus, priorizou o tratamento precoce sem eficácia comprovada, promoveu charlatanismo e, de forma deliberada, atuou para atrasar a compra de vacinas, entre outros crimes. As provas que a CPI dispõe são bastante consistentes. Também devem ser responsabilizados filhos do presidente, ministros e ex-ministros, funcionários e ex-funcionários do governo, deputados e médicos. No total, a CPI deve propor que 63 pessoas sejam indiciadas.
Esta talvez tenha sido a mais importante Comissão Parlamentar de Inquérito na história do país desde sua redemocratização. Ainda que seja muito pequena a crença de que, apesar de tudo, seja muito difícil ocorrer o impeachment de Bolsonaro, ou mesmo que ele acabe não pagando criminalmente pelos seus atos, a CPI já teve uma utilidade: as investigações revelaram a milhões de brasileiros a face oculta de um governo desprovido de boas intenções e de humanidade. Também mostrou que enquanto milhares de brasileiros morriam todos os dias vítima do vírus, o governo incentivava experiências macabras, como as da Prevent Senior, e fechava os olhos para a criminosa ação de empresários, políticos e lobistas que atuavam com certos privilégios, nas entranhas do Ministério da Saúde, com intuito de desviar dinheiro público, inclusive da compra de vacinas.
Ou seja, um governo que não governa, que joga com a vida das pessoas e que não está nem aí para as demandas dos cidadãos, ainda que estejam agonizando em um leito de UTI.
Omar Aziz e a CPI amarelou geral. No entanto, no inconsciente popular, a palavra genocídio não deve ser esquecida tão cedo. Moralmente e politicamente, Bolsonaro e os seus já estão condenados.
(*) Joel Guedes é jornalista e editor do Jornal Pactu
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