Mobilização contra Bolsonaro em 20 de novembro será luta contra o racismo
PACTU
Entidades que integram a Campanha Nacional Fora Bolsonaro unificaram as pautas e organizam atos contra o governo em todo o país. População negra é a que mais sofre com a política nefasta do atual governo
As mobilizações pelo #ForaBolsonaro que ocorrerão em todo o país em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, serão contra o racismo estrutural no Brasil e também pelas pautas urgentes da classe trabalhadora, como geração de emprego decente, pelo fim da fome e da miséria e contra a política econômica do governo de Jair Bolsonaro.
Os atos já estão sendo organizados em várias cidades do país – capitais e interior dos estados. Em São Paulo, por exemplo, será realizada a já tradicional marcha da Consciência Negra com a palavra de ordem #ForaBolsonaroRacista.
A unificação das lutas contra o racismo e pelo #ForaBolsonaro, que inclui a pauta dos trabalhadores, foi consenso entre as entidades que integram a Campanha Nacional Fora Bolsonaro e as que organizam, já há alguns anos os atos de 20 de novembro. A orientação é para que os atos sejam construídos em conjunto com organizações como a Coalizão Negra por Direitos e a Convergência Negra.
“O racismo estrutura as relações de desigualdade no Brasil e a população negra é vítima preferencial do caos social e sanitário brasileiro, sendo a que mais sofre com as doenças, o desemprego, violência e a fome”, diz trecho da convocação para o dia 20.
Para Anatalina Lourenço, secretária de Combate ao Racismo da CUT, a unificação das lutas contra o racismo e contra o governo de Bolsonaro reforça a denúncia sobre a característica racista do atual governo que vem promovendo um enorme retrocesso no que se refere aos direitos da população negra brasileira.
Relatório elaborado pela Coalização Solidariedade Brasil, rede que agrega 18 entidades internacionais, avaliou que nos primeiros dois anos de governo Bolsonaro houve retrocesso significativo no que se refere a direitos humanos e desigualdade no país.
Dados do relatório mostram por exemplo, um aumento de 6% nas mortes pela polícia no primeiro semestre do ano passado. Constata ainda que jovens negros de favelas são os alvos preferenciais desta violência. Em 2019, primeiro ano de Bolsonaro no governo, 79,1% dos mortos pela polícia foram negros.
“Se tem algo que nos mobiliza pelo ‘Fora, Bolsonaro’ é o comportamento racista desse governo”, concorda Secretária-Geral da CUT, Carmen Foro, que considera acertada a decisão de unificar as lutas. “A população negra tem sido a mais afetada – a que mais sofre – com a política nefasta de Bolsonaro”, acrescenta.
E, para além do enfretamento ao atual governo, Carmen destaca ainda que a constante luta contra o racismo deve ser reforçada. “A classe trabalhadora tem gênero, tem raça, tem cor e os negros fazem parte dela. É de extrema importância lutarmos por respeito”, diz.
Desemprego
“São os negros e as negras que mais figuram entre os desempregados no país, porque além de serem mais vulneráveis às crises, são os que mais sofrem com o preconceito”, diz Carmen Foro se referindo ao fato de que o mercado de trabalho segrega esta população.
No recorte de raça e cor da pele, os dados do segundo trimestre deste ano levantados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (Pnad-Contínua), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comprovam que o desemprego afeta mais a população negra. A taxa de desemprego entre a população negra foi de 16,23%, enquanto a taxa para os brancos foi de 11,65%.
Se somados todos os desempregados (negros e não-negros) no segundo trimestre de 2021, os negros eram 63,91% dos trabalhadores.
“A população negra, que já tem os piores salários e trabalhos mais precários é a primeira a perder o emprego. Vivemos um momento em que o racismo se exacerbou com esse governo genocida”, reforça Carmen Foro.
Ela diz ainda que desde o golpe, e principalmente ao longo do governo Bolsonario, todas as políticas de redução das desigualdades no mercado de trabalho que procuravam reduzir essas desigualdades foram extintas ou esvaziadas.
Saúde
Vítimas da falta de recursos em serviços públicos essenciais como saúde e educação a população negra também foi a mais impactada pela pandemia do novo coronavírus no que diz respeito ao número de mortes.
De acordo com reportagem publicada pelo Brasil de Fato, morrem mais negros do que brancos em decorrência da Covid-19.
Um levantamento do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde, grupo da PUC-Rio, mostrou que, enquanto 55% de negros morreram pela doença, a proporção entre brancos foi de 38%.
Em outra pesquisa, o Instituto Polis mostrou que a taxa de óbitos por Covid-19 entre negros na capital paulista foi de 172 para cada 100 mil habitantes, enquanto para brancos foi de 115 óbitos para cada 100 mil habitantes.
Retrato de um governo racista
O Relatório elaborado pela Coalização Solidariedade Brasil revela ainda que as ações de violência que também aumentaram durante o governo de Bolsonaro envolvem o machismo, outra característica do atual governo. Em 2019, 66,6% das vítimas de feminicídio eram negras. Em 2020, o total de casos de violência contra a mulher aumento 1,9%.
Outro dado do relatório diz respeito à fome no Brasil. Ainda antes da pandemia, 74% das pessoas em situação de insegurança alimentar eram negras. Desse total, 52% eram mulheres.
Veio a pandemia e a incompetência do governo de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que não garantiu a sobrevivência de milhões de brasileiros com ações como manter o auxílio emergencial em, no mínimo R$ 600, causou aumento do desemprego, elevação de preços e a volta da inflação que impactam mais na população mais pobre – faixa em que 75% é de negros e negras.
Ainda que todos os dados escacarem o racismo no Brasil, a conduta de Bolsonaro ainda é de minimizar qualquer discriminação ou violência sofrida pela população negra. Ignorando por completo a realidade dos negros e negras (ou apenas sendo, de fato, racista), em 2020, após a morte de José Alberto Silveira Freitas, negro, espancado por seguranças do Carrefour em Porto Alegre, Bolsonaro foi a público declarar que há grupos que semeiam a discórdia.
“Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e provocando conflitos atentam contra a nação e contra a nossa própria história [...] há quem queira destruir a essência do povo colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de luta por igualdade ou justiça social”, disse o presidente.
“Se Bolsonaro lesse as pesquisas que o próprio IBGE faz, seria um pouco mais informado sobre qual é a realidade social do país”, diz Anatalina. Ela reforça que o dia 20 será mais um marco na luta contra o pior governo que o Brasil já teve.
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