Corrupção no MEC. Quem tem medo da CPI?
PACTU
* Por Joel Guedes
Parecia tudo certo. Semana passada, a oposição divulgou a notícia de que já teria reunido as 27 assinaturas necessárias para abrir uma nova CPI contra o governo. Desta vez para investigar fortes indícios de corrupção no Ministério da Educação. É claro que isso provocou pânico no Palácio do Planalto. O temor é que a CPI consiga jogar a sujeira que emerge do MEC no ventilador da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro (PL). Com base no que já se descobriu, o escândalo é tão grave quanto o recente caso das licitações fraudulentas para a compra de vacinas contra a covid-19, por uma quadrilha que atuava no Ministério da Saúde.
Em investigações preliminares da Polícia Federal e depoimentos de prefeitos na Comissão de Educação do Senado, está mais do que demonstrado que o MEC se tornou um covil de raposas sob a pele de pastores e abutres do centrão, de olho nos R$ 55 bilhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Depoimentos apontam que pastores evangélicos, sem nenhuma ligação com o governo, vinham agindo livremente na intermediação de verbas da Educação, cobrando propinas de prefeitos, em licitação superfaturada de ônibus escolares, na compra de kits de robótica para escolas que não dispõem nem de água encanada e daí por diante.
Ciente da repercussão e de onde a CPI poderia chegar, o governo deflagrou a operação abafa. Se mexeu rápido para extrair assinaturas do requerimento de CPI. Conseguiu retirar três nomes, entre eles o do senador paranaense Oriovisto Guimarães (Podemos), dono do sistema Positivo. Aliás, os outros dois senadores do Paraná: Álvaro Dias e Flavio Arns, também do Podemos, se recusaram a assinar o requerimento para a CPI. Estranho, pelo fato de Álvaro Dias, líder do seu partido no Senado, sempre ter se colocado como um ferrenho defensor da moralidade pública.
É óbvio que o governo tem medo da CPI. Seria um grande entrave ao projeto de reeleição de Bolsonaro, que finge conhecer os pastores que ele próprio enviou ao MEC e diz colocar "a cara no fogo" pelo ministro Milton Ribeiro, que ele demitiria dias depois de vir a público uma gravação na qual o então ministro relata claramente que as portas do MEC foram abertas para os irmãos evangélicos atendendo a um "pedido especial" do capitão.
Os fatos expostos são mais que suficientes para justificar a criação de uma CPI. Ainda que a Comissão não tenha a prerrogativa de punir, mas apenas investigar, e que a Procuradoria Geral da União (PGU) tenha sentado em cima de toda e qualquer denúncia que possa complicar o governo Bolsonaro, seria importante a população conhecer a dimensão da podridão que se esconde hoje no Planalto. Afinal, porque o capitão tem medo, se ele mesmo diz que está “cagando para CPI” e se vende ao eleitorado como chefe de um governo que não tem corrupção?
* Joel Guedes é jornalista e editor do jornal Pactu
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