Por que Bolsonaro desqualifica o sistema eleitoral?
PACTU
(*) Por Joel Guedes
No dia 18/07, num encontro com mais de 40 embaixadores, o presidente Jair Bolsonaro (PL) repetiu o seu discurso conspiratório contra o sistema eleitoral brasileiro. Muita gente ficou se perguntando que motivo leva um chefe de estado a difamar o seu próprio país? Principalmente considerando que as pessoas para os quais o presidente falou são profundos conhecedores da eficiência, já comprovada, das urnas eletrônicas e, consequentemente, da lisura do processo eleitoral brasileiro.
Nas lives, em eventos públicos, no “cercadinho” ou em qualquer lugar que esteja, Bolsonaro reiteradamente faz declarações contra o sistema eleitoral e ataca os juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Põe em dúvida o sistema de votação eletrônica e deixa indícios de que em hipótese alguma vai aceitar uma derrota nas eleições de outubro.
Desde que assumiu o governo, em 2019, Bolsonaro faz críticas às urnas eletrônicas. Já repetiu várias vezes que só não venceu as eleições de 2018 no primeiro turno porque houve fraude nas eleições, porém sem jamais apresentar uma prova concreta. Os ataques têm sido recorrentes nos discursos do presidente, ao longo dos últimos quatro anos. O problema dessa vez é a internacionalização do discurso, que transforma, aos olhos do mundo, o que poderia ser apenas uma crise institucional num prenúncio de golpe contra a democracia brasileira.
Cientistas políticos acreditam, no entanto, que Bolsonaro não tem força e nem apoio suficientes para subverter a ordem democrática. Nem tão pouco as instituições, como as Forças Armadas, o Judiciário e o próprio Congresso Nacional dão a entender que não estão dispostos a embarcar nessa aventura. Exceção apenas para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL) e para o Procurador Geral da União, Augusto Aras, defensores incondicionais de Bolsonaro e suas atrocidades.
Admirador de Hitler e do torturador Carlos Brilhante Ustra, Bolsonaro já demonstrou várias vezes ser um líder fraco, que insufla seus seguidores com discurso de ódio e os incentiva à desordem, mas os abandona à própria sorte quando vem o fogo cruzado do Judiciário. De forma que, segundo analistas políticos, Bolsonaro continuará fazendo de tudo para desqualificar o processo eleitoral, porque sabe que é missão impossível se reeleger, pois, diferente de 2018, hoje ele já não conta com as tramoias do ex-juiz Sérgio Moro e tampouco com parcelas importantes da mídia. Existem, portanto, dois cenários possíveis: o primeiro, segundo a maioria das pesquisas, é a vitória de Lula no primeiro turno. O segundo é uma possibilidade de segundo turno, também com vitória de Lula, de acordo com as pesquisas. Em ambos, o que restará a Bolsonaro é se valer das mentiras de sempre para justificar a derrota iminente.
Agora, com candidatura oficializada, Bolsonaro está impedido pela lei de atacar o sistema eleitoral. Se o fizer, estará cometendo crime, passível de punição pelo TSE. Prevenção nunca é demais e, portanto, espera-se que a observância rígida da legalidade seja neste momento a bandeira a ser empunhada, contra quem quer que seja, para evitar que 1964 se repita, dessa vez sob forma de farsa.
(*) Joel Guedes é jornalista e editor do Jornal Pactu.
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