Regulação das redes: o que você precisa saber sobre o PL que entra na pauta da Câmara neste mês

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( Dole777 / Unsplash )
Regulação das redes: o que você precisa saber sobre o PL que entra na pauta da Câmara neste mês
Redes sociais têm dados de milhões de pessoas, mas operam sem legislação específica no Brasil
Em tramitação há dois anos, texto prevê responsabilização das plataformas digitais por conteúdos extremistas e fake news

Antes do fim de abril a Câmara deve votar em regime de urgência o Projeto de Lei (PL) 2630/2020, que "institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet". Se conseguir concluir a votação, a casa dará um passo a mais no avanço de um texto que causa polêmicas há cerca de dois anos.

O projeto prevê medidas de combate à disseminação de conteúdo falso nas redes sociais e chegou a ser apelidado inicialmente de PL das Fake News. Mas o conteúdo vai além e também responsabiliza empresas como Facebook, Twitter, WhatsApp e Telegram por não tomar medidas para frear a desinformação.

Há um ano: Câmara rejeita pedido de urgência para 'PL das Fake News', com apoio do governo Bolsonaro

De acordo com declarações recentes do relator do texto, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), o PL vai trazer a previsão de que as empresas sejam mais transparentes em relação ao funcionamento dos algoritmos, que determinam o que cada pessoa recebe por meios das redes sociais.

A proteção de crianças e adolescentes também terá um capítulo à parte, ainda segundo o deputado. Após o registro de ataques e ameaças contra escolas no Brasil, o uso das redes sociais para planejamento desses crimes e disseminação de conteúdos extremistas veio a tona, assim como falta de controle do que é publicado.

Empresas privadas, riscos públicos

Do lado de quem critica o texto estão argumentos que classificam a proposta como uma tentativa de censura ao que é publicado nas redes sociais. O Brasil de Fato ouviu especialistas que rechaçam essa leitura e apontam que não regular as redes sociais pode afetar gravemente a democracia brasileira.

A jornalista Bia Barbosa, que integra a Coalizão Direitos na Rede explica que o funcionamento das plataformas é baseado em termos globais, definidos pelas próprias empresas e que, muitas vezes, não estão de acordo com a legislação dos países em que elas operam. Com o controle de dados do mundo todo, o alcance do que é publicado e o impacto no cotidiano da sociedade são gigantescos.

"A lei tinha um primeiro objetivo de dar mais transparência para o funcionamento dessas plataformas digitais. Outro objetivo, que a lei já tinha desde o início, era pensar como ampliar de alguma forma a responsabilidade dessas empresas. A forma como elas têm operado tem gerando uma série de riscos para a nossa democracia. Desde a distribuição de desinformação, que era uma preocupação que estava na origem do projeto, até a propagação de discursos de ódio."

A especialista explica que o ambiente digital é permissivo e os limites não podem ser definidos por empresas privadas que visam lucro. A contrário, é preciso definir como responsabilizar as empresas e articular uma moderação mais consistente dos conteúdos postados.

"Como podemos reduzir esse poder enorme que elas têm de definir o que circula nesse ambiente digital? Obviamente, de uma maneira democrática. Ninguém quer censurar o exercício legítimo da liberdade de expressão. Mas esse não é um direito absoluto e precisa estar em equilíbrio com outros direitos."

Como controlar?

A simples criação de uma legislação que regulamente o funcionamento das redes sociais pode não resolver o problema. O Estado brasileiro também precisará implementar maneiras de monitorar o cumprimento da lei.

A advogada, Flávia Lefèvre, especialista em telecomunicações, direito do consumidor e direitos digitais, afirma que o projeto de lei tem pontos muito positivos, como especificações detalhadas sobre obrigações de segurança e a transparência sobre os sistemas automatizados que as plataformas usam para gerenciar, moderar e recomendar conteúdo — os algoritmos. Lefèvre destaca que, como fornecedoras de serviços, as plataformas precisam cumprir o que determina o Código de Defesa do Consumidor.

"A obrigação de segurança é um direito básico do consumidor, e as plataformas não têm atuado de maneira adequada. Um exemplo disso foi a questão da pandemia, onde 75% das mensagens e notícias de desinformação com relação a medicamentos ineficazes e estímulo ao uso da vacina foram divulgadas pelo Facebook. Isso é uma prática criminosa prevista no Código Penal. Como uma plataforma não percebe isso, se eles têm sistemas algorítmicos que acompanham os conteúdos?"

No entanto, Lefèvre considera que o PL precisa especificar melhor como será feita a supervisão das obrigações estabelecidas. Segundo ela, a estrutura de monitoramento proposta no texto não é suficiente. A especialista defende ainda que sejam criados mecanismos para ampliação da participação da sociedade nas decisões. Sem isso, haverá "um déficit de representatividade" da sociedade civil, do meio acadêmico e de empresas.

"O projeto fala na criação de uma entidade autônoma de supervisão e não dá nenhuma dica de como será essa entidade. Independentemente da estrutura, precisaríamos que isso já estivesse constituído ontem. A questão da internet não pode ser definida de cima para baixo, no governo ou em uma agência reguladora, no modelo neoliberal padrão que já conhecemos e que sabemos que são tão cooptáveis."

A informação de que o PL pode ser votado já na próxima semana veio do próprio presidente da Câmara Arthur Lira (PP). Em entrevista à BandNews, ele citou os casos de violência contra escolas e a influência da desinformação e de discursos extremistas sobre os jovens. Segundo o parlamentar o assunto terá uma decisão "finalizadora" entre os dias 26 e 27 de abril, no plenário da Câmara.

Edição: Nicolau Soares

Fonte: Brasil de Fato

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