23ª Reunião do Conselho Diretivo da Uni Américas debate situação política e econômica do continente
PACTU
A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) participou, nesta quinta-feira (15), da 23ª Reunião do Conselho Diretivo da Uni Américas, em Montevidéu, no Uruguai, para analisar a atual situação política e econômica do continente americano. O debate contou com a participação de Roberto von der Osten, presidente da Contraf-CUT, representante do Brasil; Rocio Saéz, dos Estados Unidos e Rubem Cortina, da Argentina.
Ao comentar sobre a conjuntura política socioeconômica brasileira, o presidente da Contraf-CUT afirmou que o país passa por um retrocesso após ter sofrido o golpe articulado pelas elites brasileiras. “Está reconhecido que em 2016 aconteceu um golpe midiático econômico político e judicial articulado pelas elites brasileiras e outros interesses externos. Isso representou um revés na percepção de que o Brasil caminhava para a consolidação da democracia. Ficou claro que as classes dominantes abandonaram as regras do jogo porque seu programa neoliberal não se mostrou capaz de ganhar quatro eleições sucessivas.”
De acordo com Roberto, foi construído o caminho do impeachment ilegal, que mostrou como as instituições deliberadamente não só não cumpriram seu papel protetivo da ordem constitucional e da democracia, ao contrário, participaram do golpe. “Um golpe “limpo” sem forças armadas e sem tanques nas ruas. Mas não foi um golpe isolado. Coincidiu com a retomada mundial da direita e revelou que a estrutura política da democracia liberal é frágil”, explicou.
As consequências dessa estratégia podem ser sentidas com o bloqueio do progresso social, o aumento das desigualdades e com o fim da democracia. “O Executivo pode ser usurpado, o Legislativo pode ser comprado, o Judiciário pode ser partidarizado e a mídia pode ser manipulada para construir uma “aparência de normalidade” enquanto o golpe se estabelece”.
Roberto lembrou as mobilizações realizadas em 2013, quando a mídia hegemônica mudou as reivindicações das ruas, colocou no centro o clamor pela moralização do Estado e atribuiu a corrupção à presidenta Dilma, sem provas. “Passou despercebido às pessoas porque a mídia hegemônica cobriu ao vivo, amplificou e significou as grandes manifestações que seguiram. Poucos se perguntaram quem financiou as entidades, sites e blogs estruturados, com conteúdos bem diagramados e com postagens pagas. Poucos se perguntaram porque os patos amarelos moravam e eram alimentados na frente da Fiesp na avenida Paulista. Estas redes sociais da direita disseminaram o ódio como ferramenta política a serviço do golpe. ”
Nesse período, a base social nas ruas foi formada predominantemente por pessoas brancas, com dinheiro, com formação escolar elevada, com idade acima de 30 anos, conservadores, intolerantes, simpáticos à intervenção militar - a classe média - movidos pelo desejo do fim da corrupção no Estado e pelo medo do comunismo.
A massa foi às ruas e pressionou o Congresso a executar o golpe e a colocar no lugar Temer, o inexpressivo vice de Dilma. O Congresso aproveitou este cheque em branco e iniciou as reformas que os patrocinadores do golpe determinavam: o congelamento das despesas do Orçamento, a terceirização, a reforma trabalhista, as privatizações. A reforma da Previdência, mais complexa e com mais resistência social ficou para após as eleições.
O presidente da Contraf-CUT chama a atenção para o protagonismo do poder judiciário neste processo. “A justiça foi espetacularizada, os agentes foram alçados à posição de heróis populares e de intérpretes das leis - hoje no Brasil a lei diz o que o juiz diz que a lei diz. Quem perdeu até agora com este golpe? Os trabalhadores e os pobres! Cresceu um sentimento de abandono e desalento.
A direita unida desarticulou os espaços de organização e resistência dos trabalhadores: criminalizou movimentos sociais, atacou a representatividade e o financiamento sindical, reprimiu o movimento estudantil e esvaziou até a Comissão da Verdade.”
Eleições 2018
De acordo com Roberto von der Osten, as contradições do ano eleitoral estão aflorando. “As esquerdas não unificaram-se em uma candidatura de unidade e assumiram táticas muito diferentes. E os movimentos sindical e sociais estão refletindo seus caminhos no Fórum Social Mundial e nos planejamentos internos. Alguns fatos recentes alteraram a conjuntura e trazem mais apreensões. Vivemos uma conjuntura instável onde a resistência e a unidade são fundamentais. Nada deve nos desviar deste caminho”, finalizou.
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